O executivo Fabio Gandolfo, um dos delatores da Odebrecht na Operação Lava-Jato, afirmou que o senador José Serra (PSDB-SP) recebeu R$ 4,67 milhões em 2004 sobre obras da Linha 2-Verde do Metrô de São Paulo. O valor, repassado sob os codinomes vizinho e careca, era parte de um "compromisso" de 3% do contrato do transporte paulista.
– O vizinho eu consegui detectar só R$ 4,67 milhões – afirmou o delator. – Esse codinome vizinho, estou falando de 2004, 2006, ele ficou meio conhecido dentro da empresa nas pessoas que tinham atividade complementar, de fazer programação. O vizinho ficou meio conhecido como Serra. A gente sabia.
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A Procuradoria questionou Fabio Gandolfo se "compromisso" era sinônimo de propina.
– Propina, propina – confirmou o executivo.
Segundo Gandolfo, o "compromisso" havia sido assumido pelo executivo Romildo José dos Santos, então assessor de Benedicto Júnior em São Paulo. Benedicto Júnior, o BJ, foi diretor da Odebrecht Infraestrutura e também é delator do grupo.
Fabio Gandolfo prestou depoimento em 15 de dezembro do ano passado na sede da Procuradoria da República em Mato Grosso do Sul.
– Logo do início do contrato da Linha 2, ele (Romildo) me veio dizendo que tinha um compromisso da empresa com uma determinada pessoa. E que a gente deveria pagar 3%. Não seriam pagamentos regulares, mensais. Seriam pedidos a medida que fosse necessário. Foi dado o codinome para essa pessoa de careca. No começo não teve nenhum pagamento. Em 2004, teve algum pagamento – declarou Gandolfo.
– Eu vim a descobrir que esse codinome não era o usual que se usava dentro da empresa. O codinome que se usava era vizinho. Por quê? Porque ele morava perto do diretor na época-presidente da Odebrecht, Pedro Novis. Era vizinho do Pedro Novis, por isso vizinho. Eu imaginava que era careca, porque ele era careca. ê o José Serra. Foi me dito depois que era o José Serra. Nunca me disseram que era o José Serra na pessoa física. Disseram que era o José Serra que coordenava a parte de arrecadação ou tinha relação. Esse é diferente. Esse eu programava, eu nunca pagava.
O delator afirmou que saiu do contrato da Linha 2 do Metrô em 2006.
– O contrato do lote 2 terminou quando eu estava lá. O do lote 3 se estendeu. Eu não sei se foi pago (a José Serra) depois mais coisa.
Gandolfo declarou que o contrato do metrô de São Paulo, linha 2 – verde, foi assinado na década de 90, mas "nunca teve eficácia". O executivo afirmou que foi transferido para São Paulo em 2001 para "tentar viabilizar que esse contrato se tornasse realidade".
De acordo com o delator, em cima do contrato havia diferentes porcentuais a serem pagos.
– Era como se fosse assim, você fechava: eu tenho direito a um limite de 4%. ê o que eu posso gastar. No caso dos 3% (a José Serra), como não era eu que determinava quanto, eles me pediam. Eu só programava. Agora esse ano precisa de cinco parcelas de R$ 500 mil. Eu programava e esse dinheiro era entregue não sei a quem – afirmou.
Outro lado
Conforme a assessoria de imprensa de José Serra, o senador "reitera que não cometeu irregularidades em sua longa vida pública, que sempre foi pautada pela lisura, ética e transparência". "A abertura do inquérito pelo Supremo Tribunal Federal servirá como oportunidade para demonstrar que as acusações e o conteúdo das delações são fantasiosos e infundados", destacou a assessoria.
*Estadão Conteúdo