Preso em Curitiba, o ex-deputado Eduardo Cunha (PMDB) rebateu o teor das afirmações feitas pelo presidente Michel Temer durante entrevista à TV Bandeirantes, no sábado. Por meio de nota, o ex-presidente da Câmara questionou a versão de Temer sobre a reunião com executivos da Odebrecht, em 2010, e sobre os bastidores do pedido de impeachment contra Dilma Rousseff, no fim de 2015.
Em delação premiada, o ex-executivo da construtora Márcio Faria narrou que a reunião, chefiada por Temer, tratou do pagamento de US$ 40 milhões em propina referente a 5% de um contrato da empreiteira com a Petrobras. Cunha sustenta que o encontro com os representantes da Odebrecht ocorreu "no escritório político" de Temer e foi "agendado diretamente com" o presidente. No sábado, no entanto, Temer havia afirmado que Cunha teria articulado a reunião.
– (Em 2010), o Eduardo Cunha diz: "Há uma pessoa que quer colaborar, mas quer pegar na sua mão, quer cumprimentá-lo". E ajustamos um dia em que eu estava em São Paulo. Eu até confesso que cheguei um pouco atrasado à reunião – disse Temer, no sábado.
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Na nota, o ex-presidente da Câmara frisou que estava em São Paulo, "juntamente com Henrique Alves", onde os dois teriam almoçado com Temer no restaurante Senzala, "ao lado do escritório político" do presidente. Cunha e Henrique Eduardo Alves teriam sido convidados para participar do encontro com os executivos da Odebrecht, conforme a versão do ex-presidente da Câmara. O peemedebista reitera, entretanto, que "não se tratou de valor nem (se fez) referência a qualquer contrato daquela empresa" durante a reunião.
Bastidores do impeachment
Na entrevista à Band, no sábado, Temer disse que Cunha o procurou para informar que engavetaria o pedido de impeachment contra Dilma Rousseff já que o PT votaria contra o pedido de cassação do peemedebista no Conselho de Ética da Câmara. Dois dias depois, no entanto, Cunha teria avisado Temer de que abriria o processo de impedimento contra a petista naquela tarde porque os deputados do PT haviam declarado que votariam a favor da cassação do então presidente da Câmara.
Cunha confirma que se reuniu com Temer para tratar do tema, mas acrescenta que mostrou o parecer favorável ao impeachment para o ainda vice-presidente. Segundo o ex-deputado, o relatório foi "debatido e considerado por ele (Temer) correto do ponto de vista jurídico".
"O verdadeiro diálogo ocorrido sobre o impeachment com o então vice-presidente, às 14 horas da segunda-feira, 30 de novembro de 2015, na varanda do Palácio do Jaburu, 48 horas antes da aceitação da abertura do processo de impeachment foi submeter a ele o parecer que aceitava o impeachment", escreveu Cunha.
Condenação na Lava-Jato
Em 30 de março, o juiz federal Sergio Moro condenou Cunha a 15 anos e quatro meses de prisão por crimes de corrupção, de lavagem e de evasão fraudulenta de divisas. Primeira condenação de Cunha na Lava-Jato, a ação envolve o pagamento de propina na compra do campo petrolífero de Benin, na África, em 2011.