O engenheiro civil Fernando Sampaio Barbosa, executivo ligado à Construtora Norberto Odebrecht, declarou nesta segunda-feira ao juiz federal Sergio Moro, que "a gente sabia" que o codinome "Italiano", que aparece em uma planilha de propinas da empreiteira, era uma referência ao ex-ministro Antônio Palocci (Fazenda/Casa Civil/Governos Lula e Dilma).
O ex-ministro é réu da Lava-Jato por corrupção e lavagem de dinheiro. Palocci foi preso em 26 de setembro na Operação Omertà, 35ª fase da Lava-Jato. A Procuradoria da República suspeita que Palocci recebeu R$ 128 milhões da empreiteira e que parte desse dinheiro teria sido destinada ao PT.
Leia mais
Para relator no TSE, Odebrecht se apropriou do poder público
Líderes do PMDB, PT e PP defendem projeto contra sigilo de investigações
Força-tarefa tenta finalizar pedidos de inquéritos contra políticos citados na delação da Odebrecht
– A gente sabia que o "Italiano" era o Palocci – declarou Fernando Barbosa, que prestou depoimento como testemunha de defesa do empreiteiro Marcelo Odebrecht (também réu no processo), por meio de videoconferência em São Paulo.
Moro o questionou:
– A gente sabia quem?
– Eu sabia – explicou o executivo. – Eu tinha sido informado pelo Márcio Faria (outro executivo da Odebrecht).
Nesta ação também são acusados Branislav Kontic, ex-assessor de Palocci, o próprio Marcelo Odebrecht e outros 12 investigados por corrupção ativa e passiva e lavagem de dinheiro relacionados à obtenção, pela Odebrecht, de contratos de afretamento de sondas com a Petrobras.
O juiz da Lava-Jato quis saber de Fernando Barbosa por que Palocci era chamado de "Italiano" e não pelo nome. A testemunha declarou não saber.
O magistrado perguntou, então:
– Italiano, quando se faz referência nesses e-mails da Odebrecht, é Antônio Palocci?
– Eu tinha esse conhecimento – afirmou o empreiteiro.
Moro questionou o executivo sobre a maneira como Palocci estaria envolvido na compra de sondas.
Barbosa disse que "esse contrato" não fazia parte de seu escopo.
– Provavelmente, era a relação que Marcelo tinha com ele. Mas eu não participava nem sugeri nenhuma estratégia nesse sentido.
No fim do depoimento, o advogado José Roberto Batochio, que defende o ex-ministro, questionou Barbosa sobre "ter ouvido dizer através de não sei quem que o 'Italiano' seria Antônio Palocci, pessoa que ele não conhece e com quem ele nunca esteve".
O executivo disse que "ouviu dizer por colegas da empresa que 'Italiano' era o Palocci".
– Não estive com ele, não conheço ele. Essa é a verdade – afirmou.
Defesa
O criminalista José Roberto Batochio, defensor de Palocci, declarou taxativamente: "O sr. Fernando Barbosa jamais afirmou ter conhecimento de que 'Italiano' fosse Antônio Palocci. Induzido a falar que teria ouvido dizer que poderia ser Palocci ele acabou dizendo que teria ouvido de terceiros que o 'Italiano' poderia, entre outras pessoas, ser o Palocci. Isso é bem diferente de afirmar que Palocci era o 'Italiano'".
Batochio enfatizou. "Eu reitero que o sr. Fernando Barbosa disse que 'ouviu dizer de terceiros' que o 'Italiano' poderia ser Palocci. Ele esclareceu que não sabia de conhecimento próprio que 'Italino' é Palocci, que ouviu por terceiros na empresa".
O criminalista concluiu. "O filósofo Cujacio disse que 'o que não é inteiramente verdadeiro é inteiramente falso'. Eu digo: nada é mais verdadeiro".
*Estadão Conteúdo