O ex-executivo da Odebrecht Benedicto Júnior disse que a empreiteira usou o Grupo Petrópolis, da cervejaria Itaipava, para doar R$ 40 milhões a campanhas de partidos da base da chapa Dilma Rousseff-Michel Temer em 2014. O empreiteiro Marcelo Odebrecht também afirmou que a Itaipava foi usada como "laranja" pela Odebrecht para fazer doações oficiais.
Benedicto Júnior depôs, na quinta-feira, à Justiça Eleitoral, na ação que apura abuso de poder econômico pela chapa Dilma-Temer. O depoimento de Marcelo Odebrecht na mesma ação foi prestado na quarta. Na audiência de quinta-feira, Benedicto Júnior, o BJ, não detalhou a discriminação do repasse de R$ 40 milhões às campanhas.
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Ex-presidente da construtora Odebrecht, Benedicto Júnior disse que usava as empresas do Grupo Petrópolis porque o grupo Odebrecht não queria ser listado como a maior doadora a políticos. Já Marcelo Odebrecht afirmou que "usava muito" a Itaipava para fazer doações eleitorais sem que o nome da empreiteira se tornasse público e, depois, "procurava um jeito" de reembolsar a cervejaria.
No acordo de delação, a Odebrecht detalhou como as empresas dos donos da cervejaria eram usadas pela empreiteira para distribuir dinheiro a políticos por meio de doações e entregas de dinheiro em espécie.
Um dos delatores da Odebrecht mencionou que a empreiteira depositou ao menos R$ 100 milhões em uma conta operada pelo contador do Grupo Petrópolis em banco no exterior e construiu fábricas para a cervejaria em troca da disponibilidade de dinheiro no Brasil em doações eleitorais e também pagamentos de propina.
Planilhas
Em março do ano passado, foram encontradas planilhas na casa de BJ que mostravam a ligação da empreiteira com a cervejaria. Os números apontavam que doações por intermédio da Itaipava teriam superado R$ 30 milhões a 13 partidos, entre eles PT, PMDB e PSDB. Quando o conteúdo das planilhas foi revelado, políticos citados nas listas como beneficiários de doações negaram ter recebido recursos de forma irregular da Odebrecht.
Ao justificar as doações da empreiteira, no entanto, alguns deles, como o presidente nacional do PSDB, senador Aécio Neves (MG), o ex-ministro da Educação Aloizio Mercadante (PT) e o hoje ministro da Cultura, Roberto Freire (PPS), apresentaram recibos de doações oficiais em nome das empresas Leyroz de Caxias ou da Praiamar, ligadas ao Grupo Petrópolis.
Em dezembro, quando negociavam o acordo de colaboração com a Justiça, executivos e ex-executivos da Odebrecht prometeram entregar mais planilhas das contribuições eleitorais executadas pelo Grupo Petrópolis. Naquele momento, a Lava-Jato já havia identificado que executivos ligados à Odebrecht e o grupo eram sócios no banco Meinl Bank Antígua, usado pela empreiteira baiana, segundo as investigações, para operar propina.
Defesas
Procurada na noite de quinta-feira pela reportagem, a Itaipava não foi localizada para comentar a suposta doação de R$ 40 milhões a partidos. Em outras manifestações, a empresa tem afirmado que "todas as doações feitas pelo Grupo Petrópolis seguiram estritamente a legislação eleitoral e estão registradas".
O advogado do presidente Michel Temer, Gustavo Guedes, reafirmou, na quinta, que o presidente Michel Temer responde apenas por sua própria atuação na campanha e que, nela, não houve ilicitude. Responsável pela defesa de Dilma Rousseff, Flávio Caetano disse ontem que ela jamais pediu qualquer doação que não fosse legal.
– Não houve nenhuma propina na campanha, principalmente vinda da Odebrecht – afirmou.
Entre os políticos citados como beneficiários de doações da Itaipava que teriam sido usadas para "disfarçar" repasses da Odebrecht, o senador Aécio Neves (PSDB-MG) negou irregularidades.
"As doações realizadas pelas empresas Leyroz e Praiamar encontram-se declaradas na prestação de contas."
Roberto Freire afirmou que a referência a seu nome "tem justificativa apenas pelo exercício à frente da presidência do PPS naquele momento". O ex-ministro Aloizio Mercadante não foi localizado.
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.