Candidato do Palácio do Planalto e dos principais caciques do PMDB, Eunício Oliveira (CE) é o novo presidente do Senado. Ao receber 61 votos, contra 10 de José Medeiros (PSD-MT) e outros 10 em branco, o peemedebista foi eleito nesta quarta-feira para substituir Renan Calheiros (PMDB-AL) e comandar a Casa pelos próximos dois anos.
– Quero ser o presidente de um Senado unido. De uma Casa focada na missão de acalmar as águas desse mar revolto da política brasileira - afirmou o parlamentar em discurso para os colegas.
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O fato de Eunício, 64 anos, ser um dos citados na delação da Odebrecht, com o codinome Índio, não foi empecilho para a vitória, costurada nos últimos meses bancada por bancada. O resultado garante a Michel Temer um aliado no controle das pautas do Senado e do Congresso.
Apesar de se apresentar como "amigo" do presidente da República, o parlamentar não integra o núcleo mais próximo de Temer e demorou a aderir ao impeachment. Em seu discurso, por outro lado, ele defendeu a reforma da Previdência, prioridade do Planalto em 2017.
A eleição de Eunício amplia a hegemonia do PMDB no Senado. Desde 2007, quando Renan renunciou à presidência e o petista Tião Viana (AC) ficou por dois meses como interino, apenas peemedebistas ocuparam a cadeira mais cobiçada da Casa.
O mandato de Eunício irá até janeiro de 2019. Para sua gestão, ele traz discurso de empenho para recuperar a credibilidade do Congresso e para controlar as crises política e econômica do país. O peemedebista também aposta na discussão de mudanças no pacto federativo, além de medidas de socorro a Estados e municípios em crise.
– A crise fiscal que vem sendo enfrentada de forma dura e sem tréguas pelo Governo, reproduz-se também em cada uma das unidades da federação. Em 2017, o Senado deve ser um dos protagonistas no esforço de recompor as estruturas econômicas, fiscais e político partidárias – disse.
Favorito na disputa desta quarta, Eunício sacramentou um antigo projeto de poder. Tesoureiro nacional do PMDB, foi eleito senador pelo Ceará em 2010 e, já em seu primeiro mandato, passou a mirar a cadeira de governador ou de presidente do Senado.
Com a derrota na corrida ao governo de seu Estado, em 2014, apostou as fichas para herdar o posto de Renan. Em fevereiro de 2015, quando o alagoano levou o quarto mandato à frente da Casa, Eunício já era considerado candidato natural à sucessão.
O cearense colocou o primeiro pé na linha de postulantes ao cargo em 2013, quando Renan lhe passou a liderança da bancada do PMDB para substituir José Sarney (PMDB-AP) na presidência do Senado.
Na função, Eunício aproveitou o trânsito entre os colegas de outros partidos para alinhavar sua eleição. Recomposto do tombo na tentativa de ser governador, manteve a aliança com Renan e Romero Jucá (PMDB-RR), já de olho na vitória obtida nesta quarta.
Escolhido presidente do Senado e Congresso, Eunício devolve a liderança da bancada a Renan. De perfil conciliador, ele ganhou apoio inclusive de senadores do PT, partido do qual foi aliado. Na discussão do impeachment, só mergulhou na base de Temer quando a situação de Dilma Rousseff tornou-se insustentável. Votou a favor da deposição da ex-presidente, mas evitou discursos agressivos contra sua administração.
Genro do ex-presidente da Câmara Paes de Andrade (morto em 2015), Eunício foi eleito três vezes deputado federal (1998, 2002 e 2006) antes de chegar ao Senado. Entre 2004 e 2005, no primeiro mandato do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, foi ministro das Comunicações.
Formado em administração e ciência política, Eunício é agropecuarista e empresário. Um dos parlamentares mais ricos do Congresso, triplicou seu patrimônio entre 2010 e 2014, conforme declarações à Justiça Eleitoral: de R$ 36,7 milhões para R$ 99 milhões. Reportagem do jornal O Estado de São Paulo mostrou que empresas do senador que prestam serviços de vigilância, limpeza e transporte de valores têm R$ 703 milhões em contratos com bancos controlados pela União.
A situação do novo presidente do Senado provoca apreensão no PMDB e no Planalto. A delação de Cláudio Melo Filho, ex-diretor da Odebrecht, cita um pagamento de R$ 2,1 milhões ao cearense em troca da aprovação de uma medida provisória. Em outra delação, o ex-diretor da Hypermarcas, Nelson Mello, afirma ter repassado R$ 5 milhões em caixa 2 à campanha do peemedebista em 2014.
Eunício rebate as acusações e se diz inocente. Recentemente, conseguiu no Supremo Tribunal Federal (STF) uma certidão de “nada consta” em seu nome. Ele não integra a relação de políticos que já são alvos de inquéritos da Lava-Jato na Corte, porém, nos bastidores, acredita-se que será um dos novos alvos da Procuradoria-Geral da República (PGR). No discurso proferido no Senado, Eunício não comentou sua situação e repetiu a necessidade de manter o combater à "corrupção".
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