O procurador da República Antônio Carlos Welter afirmou que o vazamento da proposta de depoimento do ex-vice-presidente de Relações Institucionais da Odebrecht, Claudio Melo Filho, causou um "prejuízo grande" para as investigações da Operação Lava-Jato. Em entrevista ao programa Timeline, da Rádio Gaúcha, Welter reiterou que a maioria das delações "envolve a apuração de fatos novos", incluindo supostos crimes que ainda não foram investigados.
– Para nós, não interessa o vazamento de uma delação – afirmou. – Tornar pública uma delação significa que alguma investigação está prejudicada.
As colaborações relacionadas à Odebrecht foram entregues ao Supremo Tribunal Federal (STF) na segunda-feira. No caso de Claudio Melo Filho, o conteúdo dos depoimentos é compartilhado entre os procuradores, a defesa e a empresa em que o investigado trabalha. O procurador da República destacou que a origem do vazamento das informações prestadas pelo ex-executivo da empreiteira está sendo apurada. Envolvido diretamente no acordo de Melo Filho com a Lava-Jato, Welter disse que ficou "extremamente incomodado" com a publicação das suspeitas. Ele teme que os citados na delação possam ter escondido patrimônio, destruído provas e apagado e-mails.
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O procurador da República também criticou o vazamento de informações antes da deflagração de operações. Conforme Antônio Carlos Welter, em alguns casos, os agentes da Polícia Federal (PF) chegam à casa do suspeito para o cumprimento de mandado de prisão e o alvo da ação já "está pronto para ser levado preso".
– Eventualmente, acontece de a Polícia (Federal) chegar à casa de alguém para realizar uma prisão e tem uma mala no corredor. Obviamente, tudo o que ele (suspeito) tinha de prova que pudesse incriminá-lo, ele passou a noite colocando na churrasqueira, triturando papéis e destruindo pen drives.
Delação de Claudio Melo Filho
O depoimento de Claudio Melo Filho aos procuradores da Lava-Jato é o primeiro de uma série de delações de 77 executivos da Odebrecht. Ao Ministério Público Federal (MPF), o ex-executivo relatou a atuação da empreiteirajunto a parlamentares, no Congresso, para garantir interesses da empresa.
Entre os políticos citados pelo delator, estão o presidente Michel Temer (PMDB), os presidentes da Câmara, Rodrigo Maia (DEM), e do Senado, Renan Calheiros (PMDB), e mais 20 políticos, entre eles ministros do núcleo duro do governo.
As delações dos executivos da Odebrecht foram entregues ao STF pela Procuradoria-Geral da República (PGR) serão analisados pelo ministro-relator da Lava-Jato na Suprema Corte, Teori Zavascki. Não há previsão para a homologação dos acordos.