Após o aval da Assembleia Legislativa para a extinção de nove fundações e uma companhia, o que irá significar mais de mil demissões, a Praça da Matriz, em Porto Alegre, virou um campo de guerra. O quarto dia de votação do pacote do governo José Ivo Sartori foi o mais tenso até agora. Ao longo da tarde de quinta-feira, foram registrados pelo menos nove momentos de confronto entre manifestantes e Brigada Militar (BM).
Um helicóptero chegou a sobrevoar a região, com um policial armado, o que foi alvo de críticas de moradores do Centro – que consideraram a medida um exagero – e também nas redes sociais. De acordo com o coronel Mário Ikeda, comandante de policiamento da Capital, um brigadiano ficou levemente ferido, na região da perna. Ele foi atingido por um rojão.
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Um homem de 39 anos, cuja identidade não foi divulgada, foi preso no final da tarde. Imobilizado por manifestantes, ele foi apontado como um dos responsáveis por estar arremessando rojões contra a Tropa de Choque. Com o homem, a BM encontrou os artefatos, além de material inflamável guardado dentro de uma mochila.
Apesar do número menor de manifestantes, o clima de tensão não arrefeceu. A BM disparou bombas de efeito moral contra os servidores que se concentravam em frente à Assembleia Legislativa. Era possível ouvir os estouros de dentro do prédio do parlamento.
A fumaça e o cheiro de gás lacrimogênio também podiam ser sentidos pelas redondezas. Segundo Ikeda, a corporação só utiliza as chamadas armas não-letais com o objetivo de evitar o confronto físico, quando os manifestantes tentam furar bloqueio ou ameaçam atirar pedras. Cerca de 300 policiais participaram da operação, que terá prosseguimento enquanto a Assembleia votar o pacote de Sartori.
– O ânimos estavam mais acirrados. Foi o quarto dia consecutivo de votação. Então, as pessoas vão se desgastando física e emocionalmente – avaliou o coronel.
Buzinas e apitos compunham a trilha sonora do ato. Os manifestantes – a maioria, agentes da Susepe e da Polícia Civil – atiraram bexigas com tinta vermelha contra a tropa que fazia o isolamento da Casa do Povo.
– Ninguém está seguro. A água está no pescoço. Ninguém desmobiliza! Ninguém desmobiliza! – bradava uma servidora.
No final do dia, após acordo para votação de projetos menos polêmicos, deputados da oposição se dirigiram à Praça da Matriz para comemorar a vitória provisória com servidores da CEEE, uma das companhias ameaçadas de privatização.
– Foi a pressão de vocês que fez o governo recuar. Então, nós temos que comemorar, sim, momentaneamente. Virão outras coisas? Sim, mas aí vamos nos mobilizar muito mais – disse a deputada Juliana Brizola (PDT).