Em sua delação entregue à Procuradoria-Geral da República (PGR), o ex-vice-presidente de relações institucionais da Odebrecht, Cláudio Melo Filho, também revelou que a empreiteira não perdia tempo para agradar com presentes os políticos que poderiam agir em favor dos interesses da empresa. Entre os mimos concedidos, estão relógios de até R$ 85 mil.
Em março de 2009, por ocasião do seu aniversário de 50 anos, Geddel Vieira Lima, que recentemente renunciou ao cargo de ministro da Secretaria de Governo de Michel Temer, teria recebido um relógio Patek-Philippe, modelo Calatrava. O presente teria sido enviado com um cartão assinado por Emílio Odebrecht, Marcelo Odebrecht e Melo Filho. Segundo o depoimento do executivo, a compra do presente, com valor estimado em torno de US$ 25 mil (R$ 85 mil), teria ocorrido na loja Grifith, em São Paulo, e sido efetivada pelo escritório de Brasília.
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Conforme Melo Filho, o relógio ajudaria a estreitar os laços com Geddel, então ministro da Integração Nacional de Lula. "Através dele, me aproximei mais de Moreira Franco (apesar do parentesco distante) e Eliseu Padilha, que compunham o núcleo político do PMDB liderado pelo Presidente Michel Temer", declarou o executivo.
Outro ex-ministro dos governos Lula e Dilma também teria recebido relógios como agrados da Odebrecht. Em março de 2012, Jaques Wagner teria ganho um Hublot, modelo Oscar Niemeyer, cujo fundo do mostrador é ilustrado por uma imagem do congresso Nacional. Em seu depoimento, Melo Filho chegou a anexar a imagem do modelo, com valor estimado em US$ 20 mil (R$ 68 mil). Na época, Wagner era governador da Bahia. Em outro aniversário, cuja data o executivo diz não se recordar, Wagner teria recebido mais um relógio de presente, da marca Corum, modelo Admirals Cup, com preço estimado em US$ 4 mil (R$ 13 mil).
Em sua delação, o executivo diz que, a partir da eleição de Wagner como governador, passou a negociar diretamente com ele "temas de grande interesse da companhia no Estado da Bahia", que "se destravados, poderiam gerar investimentos importantes". Entre esses assuntos, estavam créditos de ICMS pendentes de devolução por parte do Estado desde o início da construção do polo petroquímico de Camaçari, nos anos 1970.