Após nova fase da Lava-Jato envolvendo suspeitas de cobrança de propina para evitar a convocação de empresários investigados pelo Congresso, o ex-senador e delator Delcídio Amaral afirmou que "muitas" Comissões Parlamentares de Inquérito (CPIs) "são feitas para achacar empresários". Alvos de ação deflagada pela Polícia Federal (PF), nesta segunda-feira, o deputado federal Marco Maia (PT-RS) e o ministro do Tribunal de Contas da União (TCU) Vital do Rêgo são suspeitos de corrupção quando exerceram a relatoria e a presidência, respectivamente, da Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) da Petrobras, em 2014. A delação premiada de Delcídio provocou a investigação da Lava-Jato que resultou na ação desta segunda-feira.
–Existem CPIs que são feitas para achacar as pessoas. Então, fica aquela ameaça de convoca ou não convoca (o suspeito). Um empresário, quando senta em uma mesa de CPI para prestar depoimento, é corrosivo para a empresa e traz uma série de problemas para a imagem (da companhia) – afirmou Delcídio em entrevista ao programa Timeline, da Rádio Gaúcha.
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O ex-senador reiterou as acusações feitas em delação premiada aos investigadores da Lava-Jato. De acordo com Delcídio Amaral, jantares eram realizados para viabilizar a cobrança de propina de empresários como Léo Pinheiro, Júlio Camargo e José Antunes. No entanto, ele reconheceu que as principais informações sobre a prática de corrupção ligada a CPIs foram fornecidas pelos próprios empreiteiros.
– Era um fato bastante comentado. Não sei se todo mundo sabia, mas todo mundo desconfiava – disse Delcídio, lembrando que mantinha conversas com diversos setores enquanto exerceu a liderança do governo no Senado.
O delator afirmou que a condenação do ex-senador Gim Argello (PTB-DF) tem semelhança com a operação contra Maia e Rego. Argello foi preso em abril sob a suspeito de cobrar R$ 5 milhões de empreiteiras para barrar a convocação de executivos quando o ex-parlamentar integrava duas CPIs da Petrobras.
Além disso, para o Delcídio, "há muita preocupação" no Congresso com os desdobramentos da Lava-Jato. Um dia após manifestações em todo o país e às vésperas do fechamento de acordos de delação premiada de executivos da Odebrecht, o ex-senador classificou a negociação dos investigados com o Ministério Publico Federal (MPF) como um "processo importante" pela relevância que a construtora "sempre teve em vários projetos pelo Brasil e pelo mundo". Na avaliação do delator, a forma como o pacote anticorrupção vem sendo tratado pelo Legislativo demonstra temor.
– Acho que as pessoas não entenderam que o Brasil está mudando. Foram movimentos muito bem ajustados, mas em um Brasil que não é mais o mesmo. Então, a reação popular e a reação da mídia foi muito forte – afirmou Delcídio, referindo-se às articulações políticas que alteraram medidas do pacote anticorrupção, na última semana, incluindo punições a magistrados e promotores.