A delação do ex-diretor da Odebrecht Cláudio Melo Filho indica que a empreiteira fazia parte de uma extensa rede de corrupção em associação com políticos do Planalto e do Congresso. Segundo o delator, diversas obras, projetos de lei e medidas provisórias de interesse da empresa receberam apoio de detentores de cargos públicos em troca de propina.
Confira o que a Odebrecht conseguiu, conforme a delação do ex-executivo da empresa.
Defesa de interesses
É a denúncia mais recorrente na delação. Cláudio Melo Filho afirmou que Michel Temer recebeu recursos e, em troca, lhe foi entregue relação de interesses da empresa em Portugal antes de viajar ao país. O ex-presidente da Câmara Eduardo Cunha (PMDB-RJ) teria recebido R$ 11,5 milhões para defender os interesses da Odebrecht no setor elétrico. O mesmo teria se repetido com vários outros políticos. Jaques Wagner (PT) teria ajudado a empreiteira a resolver pendências com o governo baiano.
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Apoio a projetos
Melo Filho citou 14 medidas provisórias ou projetos de lei que teriam sido apoiados por políticos para atender aos interessas da empresa. No Senado, indicou que Renan Calheiros (PMDB-AL), Romero Jucá (PMDB-RR) e Eunício Oliveira (PMDB-CE) teriam atuado fortemente para ajudar a empreiteira. Deputados e senadores teriam recebido dinheiro para votar a favor de medidas indicadas pela empresa. O apoio dos parlamentares incluía até a realização de discursos em plenário para defender a Odebrecht.
Emendas em projetos
Além de comprar apoio de parlamentares, o ex-diretor afirma que até mesmo mudanças em propostas legislativas foram negociadas com deputados e senadores. A MP 252, conhecida como MP do Bem e que criava incentivos fiscais para incrementar exportações, teria recebido emenda de Geddel Vieira Lima (PMDB). O ex-senador Gim Argello (ex-PTB-DF) teria apresentado emenda à MP a pedido da Odebrecht. Francisco Dornelles (PP-RJ), também por solicitação da empreiteira, teria apresentado emenda à Lei de Licitações.
Pedidos de audiências
Na delação de Melo Filho, são citadas pelo menos duas ocasiões em que políticos teriam recebido propina para encaminhar reuniões entre empresários e autoridades. O ministro da Casa Civil, Eliseu Padilha (PMDB), é apontado como responsável por marcar encontros com Michel Temer (quando ainda era vice). Em troca, teria recebido R$ 4 milhões. O presidente do PP, senador Ciro Nogueira (PI), também teria sido responsável por agendar reuniões entre a empreiteira e integrantes do governo Dilma Rousseff.
Liberação de obras
Um das acusações da delação do ex-executivo recai sobre Geddel Vieira Lima, quando ele era ministro da Integração Nacional. O peemedebista teria cobrado propina para liberar o início de uma obra de interesse da empreiteira. O ministério tinha atrasado pagamentos da obra de Tabuleiros Litorâneos, no Piauí. A Odebrecht, então, teria pago propina a Geddel para que os repasses fossem regularizados. Romero Jucá, também do PMDB, teria cobrado propina para auxiliar na construção da usina Santo Antônio, em Rondônia.