Personagem principal do enredo que envolve os ministros da Secretaria de Governo, Geddel Vieira Lima e da Casa Civil, Eliseu Padilha, e o presidente Michel Temer, Marcelo Calero Faria Garcia já chegou ao comando do Ministério da Cultura (MinC) em meio a polêmica.
Em maio, depois de o então interino Michel Temer (PMDB) extinguir a pasta e provocar uma onda nacional de indignação, o carioca de 33 anos foi nomeado para assumir a nova Secretaria de Cultura, submetida então ao Ministério da Educação. Depois, Temer voltou atrás e voltou a dar estatuto de ministério à Cultura.
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Antes de indicar Calero, a intenção do recente presidente era nomear uma mulher para comandar as políticas culturais, respondendo às críticas de que o primeiro escalão do governo era exclusivamente formado por homens. Como só recebeu recusas de pelo menos cinco mulheres, Temer recuou e convidou o então secretário municipal de Cultura do Rio do governo de Eduardo Paes (PMDB).
Advogado formado pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj), Calero assumiu seu primeiro cargo público em 2005, na Comissão de Valores Mobiliários (CVM) e também passou pela Petrobras em 2006. Ele passou a se dedicar à diplomacia em 2007 e chegou a servir na embaixada do Brasil no México.
Pelo PSDB, o então diplomata concorreu a deputado federal em 2010 – quando obteve apenas 2.252 votos –, endossando a campanha de José Serra à Presidência. Durante a campanha, chegou a dizer que era "identificado com o ideário social-democrata" e por isso havia se filiado ao PSDB, "meu primeiro e único partido". Naquele mesmo ano, junto com um grupo de amigos, criou o Movimento O Rio decide, mobilização para que os cariocas decidissem se a Guanabara deveria permanecer ligada ao Estado do Rio de Janeiro.
Marcelo Calero se aproximou do PMDB de Temer em 2014, quando foi convidado por Paes para presidir o Comitê Rio 450, pasta criada para organizar as comemorações de aniversário da capital. No início do ano seguinte, foi convidado para assumir a Secretaria Municipal de Cultura no lugar do jornalista Sérgio Sá Leitão – que também foi cotado para assumir o MinC – e chegou a acumular também a Assessoria Internacional da prefeitura.
Seu nome era elogiado com frequência por Eduardo Paes nas cerimônias públicas. Um assessor chegou a comentar aO Estado de S. Paulo sobre as ambições do então secretário municipal:
– Ele nunca escondeu a ambição política. Esta intenção sempre foi clara.
Já à frente do MinC, sempre levantou a bandeira do diálogo. Em nota divulgada após sua nomeação, disse que iria "preservar conquistas, aprofundar políticas exitosas e criar novos programas".
– Ele é um diplomata. É um cara que estuda muito, alguém bastante inteligente e que sabe fazer o jogo político – afirmou à época o cineclubista e membro do Conselho Estadual de Política Cultural do?RJ, Rodrigo Bouillet, ao jornal O Globo.
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Das polêmicas à demissão
De junho pra cá, Calero se envolveu em diversas polemicas envolvendo o MinC. A primeira foi em junho, quando fez duras críticas aos realizadores do filme Aquarius, entre eles o cineasta Kleber Mendonça Filho e a atriz Sônia Braga, por terem se manifestado durante o festival de Cannes. Os artistas protestaram acusando de "golpe" o processo de impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff.
– Acho ruim, em nome de um posicionamento político pessoal, causar prejuízos à reputação e à imagem do Brasil – disse o ministro à época, recebendo diversas manifestações contrárias.
Em julho, apesar da promessa de que não tomaria tal atitude, Calero pediu a reintegração de posse dos espaços vinculados ao MinC que eram ocupados por manifestantes do movimento Ocupa no Rio e em São Paulo. No dia 25, integrantes do movimento foram acordados de manhã por agentes da Polícia Federal que executaram a reintegração de posse do Palácio Gustavo Capanema, sede do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) e da Fundação Nacional das Artes (Funarte).
Ainda em julho, num dos muitos eventos públicos em que foi hostilizado pela plateia, Calero saiu pelos fundos da Biblioteca Nacional. No mês seguinte, foi vaiado no Festival de Cinema de Gramado, onde discursou rapidamente antes da abertura do evento, que tinha na sessão o filme Aquarius.
E em setembro, durante o Festival de Cinema de Petrópolis, o então ministro foi alvo de protesto de alguns integrantes do público e teve sua fala interrompida. Em vídeo que circulou pelas redes, pôde-se ouvir gritos de "golpista" e "fascista". O ex-ministro chegou a reagir, fazendo gestos com a mão simbolizando "ladrão". Em seu perfil no Facebook, Calero lamentou o constrangimento, já que o evento havia custado caro, e comentou:
– Esse pessoal não quer saber de cultura. Eles não se conformam com a democracia.
Em outubro deste ano, o escritor Marcelo Rubens Paiva e o artista visual Artur Omar recusaram a medalha da Ordem do Mérito Cultural, condecoração oferecida pelo MinC. Marcelo alegou que não aceitaria a láurea por não aceitar a forma como o novo governo foi conduzido ao poder, mesma justificativa de Omar.
Há três semanas, na cerimônia de entrega da Ordem do Mérito Cultural, em Brasília, Temer fez elogios a Calero à frente do MinC e demonstrou estar afinado com ele. No entanto, poucos dias depois, "divergências internas" – no discurso oficial do governo Temer – levaram o ministro a pedir demissão do cargo.
Depois de acusar a cúpula do governo de tentar pressioná-lo a liberar uma obra de interesse pessoal do ex-ministro da Secretaria de Governo, Geddel Vieira Lima, Calero entregou à Polícia Federal gravações das conversas que teve sobre o assunto com o presidente Michel Temer, com o ministro da Casa Civil, Eliseu Padilha, e com o próprio Geddel.