O canal de TV GloboNews e o site G1 divulgaram, na tarde desta terça-feira, a transcrição de diálogos gravados pelo ex-ministro da Cultura Marcelo Calero com o presidente Michel Temer e com o o secretário de Assuntos Jurídicos da Casa Civil, Gustavo Rocha. O material havia sido enviado pela Polícia Federal, durante a manhã, ao Supremo Tribunal Federal.
As transcrições tornadas públicas até agora confirmam a versão de Calero: na conversa com o presidente, o ex-ministro reafirma o desejo de deixar a pasta da Cultura. Temer concordou com o pedido e solicitou desculpas pela insistência, adotada no dia anterior, com que tentou convencer o subordinado a permanecer no cargo.
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A segunda conversa divulgada tem o secretário de Assuntos Jurídicos da Casa Civil, Gustavo Rocha, como interlocutor. No diálogo, o secretário, subordinado ao ministro-chefe da Casa Civil, Eliseu Padilha, deu a entender que teria recebido orientação de Temer para que o impasse sobre o prédio em Salvador, de interesse do ex-ministro Geddel Vieira Lima, deveria ser encaminhado para a Advocacia-Geral da União (AGU).
Confira as transcrições, conforme o site G1:
Gustavo Rocha: É, eu... eu tô te ligando que... é... eu tô dando entrada com pedido protocolar. (Vou) protocolar o recurso lá no Iphan.
Marcelo Calero: Tá.
Gustavo Rocha: Vou protocolar uma cópia aí.
Marcelo Calero: Tá. Mas eu... eu... eu até falei com o presidente, Gustavo, eu não quero me meter nessa história não.
Gustavo Rocha: É, e o que ele me falou pra... pra falar era, "veja se ele encaminha, e num precisa fazer nada, encaminha pra AGU". Falou isso comigo ontem, né? Aí eu falei "não, eu falo isso com ele".
Marcelo Calero: Bom... tá, eu vou... eu vou fazer uma reflexão aqui, Gustavo. Agora, mudando de assunto, Ancine, é... eu pedi uma correção pro texto que me chegou hoje de manhã e... eu tô dependendo da velocidade aqui do nosso jurídico...
No diálogo abaixo, Calero reforça a intenção de deixar o Ministério da Cultura:
Marcelo Calero: Oi, presidente.
Michel Temer: Oba. Oi, Marcelo, tudo bem, Calero?
Marcelo Calero: Como vai o senhor, tudo bem?
Michel Temer: Bem, graças a Deus.
Marcelo Calero: Maravilha.
Michel Temer: Então...
Marcelo Calero: Eu fiz uma reflexão muito grande de ontem pra hoje e agradeço...
Michel Temer: Pois não...
Marcelo Calero: ... muito por o... por senhor ter insistido, mas eu realmente...
Michel Temer: ...Hum...
Marcelo Calero: ...quero pedir minha demissão e quero que o senhor aceite, por gentileza, porque eu não me vejo mais com... com condições e espaço de estar no governo.
Michel Temer: Interessante.
Marcelo Calero: É... então, assim...
Michel Temer: Tudo bem. Se você não... se é sua decisão, viu, o Calero, tem que respeitar. Ontem acho que até fui um pouco inconveniente, né? Insistindo muito pra você... pra você permanecer é.. confesso que não vejo razão pra isso mas você terá as suas razões.
Marcelo Calero: Sem dúvida.
Entenda o caso
Marcelo Calero pediu demissão do Ministério da Cultura no dia 18 de novembro, alegando ter sofrido pressão de integrantes do governo por contrariar interesses pessoais do então ministro da Secretaria Geral de Governo, Geddel Vieira Lima – que deixou o cargo dias depois, devido à repercussão do caso.
Em depoimento à Polícia Federal, Calero disse que o presidente Michel Temer o "enquadrou" para tentar resolver um impasse na liberação de um empreendimento imobiliário em área de patrimônio histórico de Salvador, onde Geddel comprou um apartamento.
A construção do edifício La Vue havia sido autorizada pela superintendência regional do Instituto do Patrimônio Histórico Nacional (Iphan) na Bahia, mas a direção do órgão em Brasília – subordinada ao Ministério da Cultura – reviu a decisão, embargando a obra.