O relatório da Proposta de Emenda à Constituição (PEC) do teto de gastos aumentou o quadro de punições para os órgãos e poderes que estourarem seus orçamentos. Com as mudanças, servidores públicos poderão ter os salários congelados e até o salário mínimo poderá ficar sem ganhos reais enquanto as contas do governo não se enquadrarem ao teto do Novo Regime Fiscal.
Uma das principais punições é a proibição de medidas que impliquem reajuste de despesa obrigatória acima da inflação, o que atinge diretamente o salário mínimo em caso de estouro do teto pelo Executivo.
– O reajuste do salário mínimo pela inflação está assegurado. Mas há vedações para aumentos superiores à inflação em caso de descumprimento do teto por cada poder – disse o relator, deputado Darcísio Perondi (PMDB-RS). A medida é considerada importante pela equipe econômica.
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O texto também traz amarras para evitar que o Congresso Nacional aprove medidas que aumentem as despesas públicas. Dispositivo incluído no relatório veda aos parlamentares apresentarem propostas legislativas que concedam ou ampliem incentivos e benefícios tributários, no caso de descumprimento do limite de gasto.
Em outro artigo, o parecer exige que propostas legislativas que criem ou alterem despesa obrigatória e renúncia fiscal sejam acompanhadas de estimativa do seu impacto na Orçamento. O relator também incluiu artigo que permite a suspensão da tramitação de propostas legislativas que aumentem despesas e renúncia de receita. A tramitação poderá ser suspensa por 20 dias, com requerimento de um quinto dos membros da Casa, para análise da compatibilidade da proposta com o Novo Regime Fiscal do Teto de Gasto.
– De nada adianta estabelecer tetos financeiros se não se combate a origem do aumento da despesa primária, que é a edição de legislação que cria despesa obrigatória – argumentou o relator no seu parecer, divulgado nesta terça-feira.
Ele lembrou que mais de 4/5 das despesas primárias são obrigatórias, ou seja, decorrem de legislação preexistente. Para o relator, caso o Congresso não se comprometa com essa lógica, poderá haver conflitos entre o Novo Regime Fiscal e novas despesas obrigatórias, criadas em meio ao descumprimento de limites.
– O que desembocaria na judicialização de questões fiscais, na proliferação de exceções legais e em fragilidades que minariam o alicerce do sistema – justificou.
Juízo fiscal
O relator da PEC do teto voltou a dizer que o Brasil está à beira de um "juízo fiscal" caso nenhuma medida de reversão no crescimento das despesas e do endividamento seja adotada. A abordagem alarmista vem sendo uma marca do peemedebista no período à frente da relatoria da PEC. Segundo Perondi, sem o teto, o país estará sujeito a "quebradeira", hiperinflação e colapso.
– Caso nada seja feito, o dia do juízo fiscal chegará e atingirá a todos, famílias, aposentados, funcionários públicos e empresários – disse Perondi, que lê o relatório na tarde desta terça-feira.
A leitura foi iniciada duas horas e meia após o começo da reunião da comissão especial que analisa a matéria e ocorre em um plenário esvaziado, após parlamentares terem obtido vista coletiva do parecer.
O relator voltou a reafirmar que a PEC não promoverá cortes nas despesas com saúde e educação, uma das principais polêmicas do texto. Para abreviar a leitura do relatório, que tem 70 páginas, o deputado pulou o trecho que fazia uma retrospectiva da proposta e foi direto para o voto, que começa na página 25.
Bastidores do jantar com ministros e deputados
Em um jantar na noite desta terça-feira, na residência oficial do presidente da Câmara Rodrigo Maia (DEM-RJ), onde ministros e líderes governistas estiveram presentes junto com o presidente Michel Temer.
Segundo alguns presentes no evento, Henrique Meirelles, Ministro da Fazenda, realizou uma exposição mostrando "números catastróficos" e o presidente Michel Temer fez um apelo para a necessidade da aprovação da medida que é a espinha dorsal do ajuste das contas do governo.
O primeiro a falar foi o ministro da Casa Civil, Eliseu Padilha, que explicou aos líderes que a PEC não atinge os recursos de saúde e educação. Em seguida, usando um microfone, Temer falou por cinco minutos e fez um chamamento á responsabilidade do Congresso na aprovação da PEC.
Segundo o portal G1, compareceram à residência oficial do presidente da Câmara, entre outros, o relator da PEC do teto de gastos, deputado Darcísio Perondi (PMDB-RS) e os ministros Henrique Meirelles (Fazenda), Geddel Vieira Lima (Secretaria de Governo), Fernando Coelho Filho (Minas e Energia), Maurício Quintella (Transportes, Portos e Aviação Civil), além dos deputados Carlos Sampaio (PSDB-SP), André Moura (PSC-SE, líder do governo), Rogério Rosso (PSD-DF) e Lúcio Vieira Lima (PMDB-BA).
*ESTADÃO CONTEÚDO