À frente do Badesul, banco de fomento do Estado, Susana Maria Kakuta diz que está confiante de que a crise pela qual a instituição passa será revertida. Em entrevista ao Gaúcha Atualidade na manhã desta terça-feira, ela disse que uma das saídas é "especializar" a instituição como uma agência de fomento ao desenvolvimento, diferenciando-o de outros bancos, como o BRDE e o Banrisul.
Entre as medidas, Susana aposta em direcionar a atuação do Badesul em empreendimentos de pequeno porte, inclusive para "evitar o grau de exposição", deixando os maiores para o BRDE, e investir em financiamentos públicos, principalmente municípios, consultorias e projetos especiais.
Leia mais:
Após Piratini criar sindicância, deputado recua em CPI
Badesul levou calote de R$ 17,6 mi de empresa da Serra
Ministério Público Estadual avalia abrir investigação
Badesul tem opções escassas para recuperar normalidade de operação
– O Badesul tem uma sobrevida própria, mas o mais importante neste momento é que estamos construindo uma saída. O Badesul precisa efetivamente estabelecer seu espaço diferenciado dentro do desenvolvimento do Estado – afirmou a diretora-presidente da instituição.
Recentemente, o Badesul teve a nota rebaixada a zero pelo BNDES, onde ele busca 95% dos recursos que movimenta nas suas operações de financiamento. Isso significa que o banco está imobilizado, sem fonte de dinheiro novo. Além disso, nesta semana, Zero Hora revelou que o Badesul sofreu calote de R$ 140 milhões (em valores atualizados) nos empréstimos à Iesa Óleo e Gás e à Wind Power Energia. Os contratos já estão sob investigação sigilosa do Tribunal de Contas do Estado (TCE) e do Banco Central. Na segunda, o Palácio Piratini anunciou a criação de uma sindicância.
– É preciso verificar onde isso (liberação de créditos) aconteceu dentro da instituição, objetivando melhorias contínuas dentro do banco – afirmou a diretora-presidente do banco nesta terça-feira. – É preciso conduzir o Badesul para frente e mitigar o erro. Assegurar que Badesul não esteja mais exposto.
Susana também reconheceu que teria agido de forma diferente se tivesse no comando da instituição – entre 2011 e 2014, na gestão de Marcelo Lopes – quando foram liberados créditos às empresas que, mais tarde, entraram em recuperação judicial.
– Eu teria feito diferente. À época, era muito difícil de julgar. As condições da economia eram distintas, o polo naval era uma grande realidade – considerou ela.
No entanto, ela prefere não "julgar" seus antecessores, pois isso cabe ao TCE e à sindicância aberta pelo governo apurar as responsabilidades.
Doutora em Sociologia e Economia Internacional pela Universidade Complutense de Madri (Espanha) e com experiência em diversas instituições financeiras, Susana ainda disse que não acredita que o fato de o Badesul ser gerido, em grande parte, por políticos seja um problema.
– A questão (do rombo) não me parece de ser político ou não, mas de querer ser Badesul e contribuir para o crescimento do Estado – disse ela, elogiando gestores como Paulo Odone (PPS), que atua como diretor administrativo, Mano Changes (PP), diretor de Inovação e Sustentabilidade, e Kalil Sehbe (PDT), diretor financeiro.
Sindicância
Depois de reunir-se com representantes do governo do Estado na Casa Civil, nesta segunda-feira, Susana Kakuta anunciou a constituição da sindicância, com participação da Procuradoria Geral do Estado (PGE) para averiguar irregularidades na liberação de recursos pelo órgão de fomento.
Na tarde desta terça-feira, será realizada uma reunião na PGE para definir os critérios técnicos que embasarão a constituição da comissão de sindicância. Em nota, o governo do Estado enfatiza "a necessidade de apuração dos fatos para resguardar o patrimônio público e não medirá esforços, no âmbito de sua competência, para reaver os valores emprestados".
PASSO A PASSO DA DECADÊNCIA
- Em julho de 2014, o Tribunal de Contas do Estado (TCE), em auditoria ordinária no Badesul, pediu acesso a 55 operações do banco por meio da "Requisição 09/2014".
- O objetivo era verificar os critérios de concessão de crédito. Algumas dessas medidas foram tomadas após pedidos de providência do deputado estadual Marlon Santos (PDT). Em 2014, o TCE teve as solicitações negadas sob alegação de sigilo bancário.
- Ainda assim, abriu o processo 9607-0200/13-5, inicialmente baseado em análise de balanços da agência. Os apontamentos (veja abaixo) já indicavam o processo de deterioração financeira. Com o ingresso da atual diretoria em maio de 2015, o TCE passou a ter acesso aos documentos antes negados.
- Uma inspeção extraordinária foi aberta para analisar exclusivamente os casos da Iesa e da Wind Power. O relator do caso, que tramita em sigilo, é o conselheiro Iradir Pietroski. O Banco Central também abriu apurações acerca das duas negociações.