Em discurso na noite de terça-feira no estádio Mineirinho, em Belo Horizonte, o ex-presidenteLuís Inácio Lula da Silva criticou cortes no Bolsa Família e desafiou os opositores do programa a viver um "dia de pobre".
A fala ocorreu durante o 3° Acampamento Nacional do Levante Popular da Juventude, organização que é crítica ao impeachment que afastou Dilma Rousseff da presidência da República e classificam o processo de golpe. Seus integrantes defendem a saída de Michel Temer. Eles querem ainda a convocação de eleições diretas e de uma assembléia constituinte.
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Segundo Lula, o governo de Michel Temer desligou do Bolsa Família mais de 900 mil beneficiados.
– Eles acham que é esmola. Disseram que eu estava criando vagabundos no país. (...) Eles deviam viver um dia de pobre, para ver como o nosso povo é extraordinário. Não há povo mais tolerante que o brasileiro. Porque aguentar o que aguentamos todo santo dia, era para sermos muito mais rebeldes –, disse.
O ex-presidente reiterou que a distribuição de renda é fundamental para o crescimento do país:
– Eles pensavam que pobre era o problema desse país e nós provamos que pobre é a solução. Dê R$ 1 bilhão a um rico e ele vai transformar o dinheiro em uma conta bancária. Dê R$ 50 a um pobre e ele vai comprar o que comer, o comércio vai produzir, a indústria vai se desenvolver e os empregos vão surgir.
Para Lula, a participação política é outro fator fundamental para superar a atual crise brasileira.
– Toda vez que se nega a política nasce um Hitler, nasce um Bolsonaro. Quando as pessoas começam a rejeitar a política não é a esquerda que cresce, é a direita. E não é a direita civilizada. É a direita raivosa –, disse.
O ex-presidente defendeu mais tolerância na política. "O Rui Falcão já foi agredido em aeroporto. O João Pedro Stédile já foi agredido em aeroporto. Lá em São Paulo, muita gente foi agredida. Nós não podemos ser tão rasteiras como eles porque nós temos uma divergência.
– Nós queremos mais gente participando da política e não queremos as pessoas se afastando da política por esses episódios. Vamos mostrar que, na nossa democracia, nós sabemos conviver com a diversidade –, concluiu.
Evento
Também estiveram presentes no evento o senador Lindbergh Farias (PT), os deputados federais Patrus Ananias (PT), Jô Moraes (PCdoB) e Maria do Rosário (PT) e o governador mineiro Fernando Pimentel (PT). O presidente nacional do PT, Rui Falcão, defendeu a desmilitarização da polícia e lembrou o caso da jovem Deborah Fabri, que perdeu a visão em decorrência de ação policial em manifestação em São Paulo.
O Levante Popular da Juventude é uma organização de esquerda que surgiu em 2006 no Rio Grande do Sul e tem o objetivo de mobilizar jovens para transformar a sociedade. A coordenação estima que há cerca de 20 mil integrantes no Brasil. Os acampamentos nacionais ocorrem a cada dois anos e é a instância máxima de deliberação do Levante Popular da Juventude.
Tem ainda uma programação voltada para a formação política e cultural. Há mesas com o jornalista esportivo Juca Kfouri, a atriz Letícia Sabatella e o australiano Julian Assange, principal porta-voz da plataforma WikiLeaks que participará através de videoconferência.
Esta edição do encontro reúne cerca de 7 mil jovens de todos os estados do país. "Aqui reunimos gente da cidade e do campo, da periferia, da universidade e das escolas, negros e negras e LGBTs. Temos um lema que é nossa rebeldia é o povo no poder", diz a gaúcha Nataly Santiago, integrante da coordenação nacional.
Financiamento
Paralelamente ao acampamento, ocorre o Festival Cultural da Juventude Brasileira, evento que teve financiamento do governo de Minas Gerais e gerou críticas dos partidos opositores de Fernando Pimentel. "Nós participamos de um edital público e nosso projeto, que atendia a todos os critérios, foi contemplado em um processo transparente. Aqui a juventude encontra um espaço aberto e democrático para dar vazão às suas produções artísticas", explica o paulista Thiago Pará, membro da coordenação nacional do Levante Popular da Juventude.
Pimentel também respondeu às críticas em seu breve discurso.
– Vou dizer para a imprensa repetir amanhã. Nós vamos continuar apoiando os movimentos de juventude. Aqui, não recebemos os jovens com bala de borracha –, disse o governador mineiro, fazendo referência aos recentes episódios ocorridos nas manifestações de São Paulo.
Segundo a coordenação do Levante Popular da Juventude, o evento teve também recursos arrecadados em campanhas de financiamento coletivo feitas pela internet e com rifas organizadas pelos militantes.