Embasada em análise detalhada de e-mails e anotações registradas em celulares apreendidos com executivos da Odebrecht, a Lava-Jato concluiu que "Italiano" era o codinome do ex-ministro Antonio Palocci na lista de lobistas que tratavam dos interesses da empresa. A lista consta do setor de Operações Estruturadas da Odebrecht, encarregado de distribuir propina a políticos.
A Polícia Federal concluiu que Palocci trabalhava em quatro núcleos, em parceria com a Odebrecht:
a) obtenção de contratos com a Petrobras relativamente a sondas do pré-sal;
b) a medida provisória destinada a conceder benefícios tributários ao grupo econômico Odebrecht (MP 460/2009);
c) negócios envolvendo programa de desenvolvimento de submarino nuclear - PROSUB;
d) e financiamento do BNDES para obras a serem realizadas em Angola.
Leia mais:
Por que a nova fase da Lava-Jato se chama Omertà
Palocci teria pedido R$ 2 milhões para ajuda a campanha presidencial
Ex-chefe de gabinete de Palocci também foi preso
Palocci "tinha importante e constante auxílio de seu assessor Branislav Kontic", ressalta o pedido de prisão de ambos, formulado pelo Ministério Público Federal (MPF).
A atuação da dupla em favor da Odebrecht teria ocorrido entre 2006 e o final de 2013, interferindo em decisões tomadas pelo governo federal. Inclusive enquanto Palocci era ministro, salienta o MPF.
Conforme planilha apreendida durante a operação, o MPF calcula que, entre 2008 e o final de 2013, foram pagos pela Odebrecht mais de R$ 128 milhões ao PT e seus agentes, incluindo Palocci. Em outubro de 2013 existia ainda um saldo de propina de R$ 70 milhões, valores estes que eram destinados também ao ex-ministro para que ele os gerisse no interesse do Partido dos Trabalhadores.
– A prova colhida aponta na direção de que os valores ilícitos eram repassados a Palocci de forma reiterada, tanto em período de campanha eleitoral quanto fora dele. Por envolver pagamentos reiterados, o extrato dos pagamentos era consolidado em uma planilha – denominada "Posição Programa Especial Italiano" (utilizando-se o termo "italiano" como codinome para se referir ao ex-ministro) – a qual era periodicamente atualizada.
Grande parte dos valores utilizados para o pagamento das vantagens indevidas se originou da Braskem, empresa petroquímica que possui diversos contratos com a Petrobras.
E-mails e anotações mostram, segundo o MPF, que Palocci participava pessoalmente de reuniões com integrantes da Odebrecht para acertar valores. Além do auxílio de Kontic, os procuradores da República dizem que o recebimento da propina contou também com a atuação de Juscelino Dourado, seu ex-assessor.
Os encontros entre executivos da Odebrecht ocorreram mesmo após a deflagração da Operação Lava-Jato, em 2014. Aí teriam acontecido comunicações por e-mails cifrados.