A queda de braço com o ministro-chefe da Casa Civil, Eliseu Padilha, resultou na demissão de Fábio Medina Osório do comando do Advocacia-Geral da União (AGU). Em quatro meses no cargo, o jurista gaúcho, indicado a Michel Temer pelo próprio Padilha, tentou criar um canal direto com o presidente, alimentou atritos no Palácio do Planalto e tomou decisões que desagradaram à cúpula do governo, entre elas o pedido para ter acesso ao conteúdo das investigações da Operação Lava-Jato.
Confirmada na manhã desta sexta-feira, a demissão foi sacramentada em uma conversa na noite anterior. Osório foi chamado ao gabinete de Padilha, no quarto andar do Planalto. A atuação do jurista desagradava Temer, que exigia uma solução. Foi uma conversa dura. A Casa Civil cobrou uma maior sintonia com o governo. A principal reclamação é que Osório vinha tomando decisões sem consultar o palácio, atuando "sozinho".
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Uma dessas iniciativas foi o pedido, aceito pelo Supremo Tribunal Federal (STF), de compartilhar com a AGU documentos da Lava-Jato. Osório pretendia utilizar as provas coletadas em ações de improbidade contra as empreiteiras envolvidas no esquema, a fim de tentar ressarcir o erário. O Planalto entende que a Lava-Jato é um assunto da Polícia Federal e do Ministério Público Federal. Os ânimos se acirraram durante o encontro. Osório protestou que Padilha vinha plantando notas em colunas de política para “fritá-lo”. Cobrado, o ministro negou. Sem entrar em acordo com o colega, Padilha sugeriu que ele se demitisse, já que não estaria disposto a mudar o comportamento. Osório rebateu:
– O governo que me demita. Só aceito a demissão se ela partir do próprio Temer.
Na manhã desta sexta-feira, uma edição extra do Diário Oficial da União oficializou a saída de Osório e a nomeação de Grace Mendonça para a AGU, primeira mulher a integrar a equipe ministerial de Temer. Em nota, o Planalto registrou que o presidente “agradece os relevantes serviços prestados pelo competente advogado doutor Fábio Medina Osório”.
Emissários de Temer, no entanto, negam que Osório tenha caído por causa de ações ligadas à Lava-Jato. Afirmam que a postura e erros no dia a dia do AGU motivaram a demissão.
Em seu Twitter, Padilha também se despediu com elogios. "#AGU:Agradeço ao brilhante Adv. Fábio M Osorio, convidado por mim para o exercício do cargo, pelos relevantes serviços q prosseguirão na AGU", diz o texto.
Quem acompanhou a conturbada relação dos dois em Brasília, garante que o comentário teve tom irônico. Ex-promotor de Justiça, secretário-adjunto de Justiça do Estado no governo Germano Rigotto e doutor em Direito Administrativo, Medina ingressou na equipe de Temer por seu conhecimento sobre improbidade administrativa. Chegou a ser cogitado para o Ministério da Transparência, mas ficou com a AGU.
No Planalto, sobravam críticas quanto ao comportamento do gaúcho. Medina teria solicitado uma sala exclusiva para despachar do palácio, sendo que não há esse espaço para a AGU. Segundo relatos de assessores de Temer, ele teria tentado entrar no gabinete do presidente sem ser anunciado, o que irritou o peemedebista.
Na rápida passagem do jurista pela AGU, um dos episódios que desagradou Temer envolveu um voo da FAB. Osório foi barrado ao tentar embarcar em uma aeronave oficial rumo a Curitiba. A viagem ocorreu depois de um carteiraço. Em nota, a FAB minimizou o atrito. Outra atitude polêmica foi a abertura de sindicância para apurar a conduta de José Eduardo Cardozo, quando estava na AGU, na defesa de Dilma Rousseff no processo de impeachment.
Por trás da instabilidade do gaúcho também estava uma disputa pela proximidade com Temer entre ele e o subchefe para Assuntos Jurídicos da Casa Civil, Gustavo do Vale Rocha, que já defendeu Eduardo Cunha. A conturbada troca de comando da Empresa Brasil de Comunicação foi outro ponto contrário a Osório. O Planalto atribuiu ao jurista a estratégia fracassada que atrasou a confirmação de Laerte Rímoli ano cargo.