Em discurso durante ato organizado pela Frente Brasil Popular a dois dias do início do julgamento do impeachment no Senado, a presidente afastada Dilma Rousseff afirmou que acusação da qual ela é alvo no Congresso "é absolutamente pífia". Dilma classificou o processo como um "golpe parlamentar" e voltou a dizer que não cometeu nenhum crime de responsabilidade durante seu governo. Ela reforçou que irá pessoalmente ao Senado na próxima segunda-feira fazer sua defesa.
– Nós somos democratas, nossa maior arma é ampliar o espaço de discussão e debate em grupo. Por isso, eu vou sim ao Senado, porque acredito na democracia deste País, devo isso ao povo desse País – disse.
Leia mais
Lewandowski nega pedido de defesa de Dilma para anular impeachment
"Vamos falar ao Senado, à sociedade e à história", diz Cardozo
Temer planeja fazer pronunciamento à nação após julgamento final do impeachment
Dilma reforçou a tese que não há base de sustentação para o impeachment.
– Nós ganhamos a avaliação que isso é um golpe, se trata da utilização de um instrumento que de fato está previsto na Constituição, mas que não tem base de sustentação porque não houve um crime de responsabilidade – afirmou.
Dilma alegou que a democracia "não está garantida igual muitos de nós pensávamos". Para ela, o golpe não é militar por não usar armas, mas se caracteriza como um "golpe parlamentar". Sobre os decretos suplementares e as chamadas pedaladas fiscais, que são a base da acusação no Congresso, Dilma disse que os decretos "são meras ações do governo" e que as pedaladas foram usadas para financiar a agricultura.
– O Tribunal de Contas da União tomou uma decisão que nunca tinha sido estabelecida antes, por isso nós sabemos que esse processo de impeachment tem por base uma fraude – afirmou.
Ela apontou ainda que esses instrumentos foram usados por todos os governos anteriores.Dilma afirmou que a democracia é "algo muito valioso" e que é preciso ter essa clareza "seja o que aconteça".
– Lutei contra a ditadura, lutei contra o câncer e agora vou lutar contra qualquer injustiça.
PEC do teto
Dilma fez duras críticas à política econômica do governo interino de Michel Temer, tendo como alvo principal a Proposta de Emenda Constitucional (PEC) que vincula o crescimento das despesas públicas à inflação do ano anterior, durante um período de 20 anos.
– Alguém votou para que os gastos com Saúde e Educação fossem congelados por 20 anos? Não votamos – disse.
– Sobre essa PEC 241, que congela o valor real por 20 anos dos recursos de Educação e Saúde, a gente tem que considerar que nossa população é jovem, quanto mais ela crescer com os recursos congelados, diminui a participação per capita de cada brasileiro nos gastos com Educação e Saúde – afirmou a petista.
Dilma também disse que é preciso ter "muita preocupação" com a flexibilização das leis trabalhistas, citando como exemplo a questão das horas extras.
– É a forma pela qual eles querem ampliar a jornada de hora extra sem pagar 50% e 100% que a lei prevê, respectivamente na semana e no mês – disse.
– Isso é o que eles chamam de medidas antipopulares – afirmou a presidente afastada.
– Eles acreditam que vão sair da crise tendo uma posição contrária ao povo – emendou.
Ela também criticou a proposta de desvincular o salário mínimo da Previdência e disse que o governo de Temer quer fazer uma "grande privatização das riquezas do País", mencionando os recursos do pré-sal. E questionou quem "vai pagar o pato?". "Como pensam em sair da crise?"
O prefeito de São Paulo, Fernando Haddad, o ex-ministro do Trabalho Miguel Rossetto e o presidente nacional do PT, Rui Falcão, também participam do evento na Casa de Portugal, no bairro Liberdade, em São Paulo.
Dilma estará em Brasília, na quarta-feira, para outro evento semelhante organizado pelo movimento.
*Estadão Conteúdo