Um dos momentos mais aguardados do julgamento do impeachment, a chegada de Dilma Rousseff ao Senado na segunda-feira, para se defender da tribuna, é parte da estratégia do PT para tentar "constranger" senadores que foram ministros e marcar para a história a versão de que a presidente afastada é vítima de um "golpe".
Nos últimos dias, Dilma conversou com o núcleo político que a cerca no Palácio do Alvorada para definir o tom da fala. Com auxílio do ex-ministro e advogado José Eduardo Cardozo, discute quais serão as perguntas feitas a ela pelos senadores aliados. No final de semana, é possível que haja um encontro para espécie de "ensaio".
Primeira presidente a ir se defender no Senado, Dilma usará argumentos jurídicos e políticos. Repetirá que não cometeu crime de responsabilidade e que está prestes a ser "vítima" de injustiça. Em defesa da sua biografia, irá se declarar honesta e relembrará a militância contra a ditadura.
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O PT prepara ato para dar solenidade ao episódio. O plano é levar 5 mil militantes para a frente do Congresso e criar ambiente de acolhida a Dilma. É possível que parlamentares e lideranças de movimentos sociais adentrem o Senado ao lado dela.
– A ideia é constranger os ex-ministros. A vinda da Dilma será muito importante para isso. Eles viram a coisa de dentro, sabem que é uma trama. Esses caras têm de explicar o que estão fazendo – afirmou Gilberto Carvalho, também ex-ministro de Dilma e um dos políticos mais próximos do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
Adversário desdenham e citam falta de carisma
Entre os senadores que ocuparam mais recentemente cargos de ministro da mandatária, alvos da tentativa de constrangimento, estão os peemedebistas Eduardo Braga (AM), Edison Lobão (MA) e Jader Barbalho (PA), que está na lista porque seu filho, Helder Barbalho, foi ministro de Dilma e segue na Esplanada com Temer. Fernando Bezerra Coelho (PSB-PE), Marcelo Crivella (PRB-RJ) e Garibaldi Alves (PMDB-RN) integraram o governo Dilma, mas já deixaram às funções há tempo.
Senadores favoráveis ao impeachment desdenham da estratégia de constrangimento. Dizem que o Senado é uma Casa de políticos experientes, parte deles com mandatos de governador ou ministro no currículo e refratários a pressões.
Para aliados de Temer, o PT tenta criar mística em torno de possível discurso redentor de Dilma no Congresso. Ao sugerir limitações de comunicação e de carisma da presidente afastada, minimizam a tentativa.
– Estou esperando a Dilma aqui. Acho ótimo que ela venha – afirma a senadora Ana Amélia Lemos (PP-RS).