Contra os prognósticos que indicam sua cassação, Dilma Rousseff tenta evitar o clima de fim de linha. Poucas horas depois da votação que a tornou ré no processo de impeachment, a presidente afastada recebeu senadores aliados para almoço no Palácio da Alvorada.
Um dos assuntos debatidos foi a carta que deve ser lançada até terça-feira, com a defesa do plebiscito sobre novas eleições, além da estratégia de abordagem a grupo de oito a 10 senadores que seriam passíveis de mudança de voto no julgamento final. O senador Humberto Costa (PT-PE) negou que seja carta de despedida:
– O centro será a defesa da democracia e o plebiscito. A carta tem um papel a cumprir, porque a posição definitiva dos senadores será tomada agora. Há espaço para nossa votação crescer.
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Dilma reuniu, pelo menos, 12 senadores mais o presidente do PT, Rui Falcão, que é contra a consulta popular. A presidente apresentou esboço da carta. Segundo parlamentares, ela tinha o desejo de incluir a palavra "golpe", mas aliados ponderam que seria ofensivo, sobretudo com o Supremo Tribunal Federal (STF), e o termo foi cortado do texto.
O almoço também discutiu o placar da derrota na penúltima etapa do impeachment, no qual Dilma perdeu um voto na comparação com maio. A avaliação é de que o resultado era "esperado" e chegou a ser classificado como "bom" nas entrevistas de integrantes da tropa de choque petista. Contudo, em conversas reservadas, tanto o staff de Dilma quanto os senadores da sigla admitem clima de desânimo.
Delação da Odebrecht alimenta esperança do PT
A esperança do PT reside nos efeitos da delação premiada da Odebrecht, em negociação com o Ministério Público Federal (MPF), que cita Temer, mas que também trará prejuízos a Dilma e outras figuras centrais do partido, como o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Ele passou os últimos dias em Brasília em reuniões para avaliar o cenário político e as eleições municipais.
– A conjuntura está muito dinâmica, são delações, fatos novos. Isso aqui está imprevisível – afirma Lindbergh Farias (PT-RJ).
Dilma ainda terá de decidir se vai ao julgamento no Senado fazer a própria defesa. A senadora Gleisi Hoffmann (PT-PR) apoia, mas ressalva que o assunto está sob análise de José Eduardo Cardozo, advogado da presidente:
– Acho que ela poderia vir, é um espaço interessante de defesa.
Em caso de derrota, o plano de Dilma seria sair em viagem pela América Latina pelos próximos oito meses. Segundo a colunista da Folha de S.Paulo Mônica Bergamo, que publicou a informação nesta quarta-feira, a presidente teria preferência por países vizinhos, como Chile e Uruguai, para facilitar visitas aos netos, em Porto Alegre.
*Estadão Conteúdo