O impeachment de Dilma Rousseff, selado no Plenário do Senado nesta quarta-feira, repercutiu entre importantes figuras políticas do Rio Grande do Sul. Esperada desde os pronunciamentos dos senadores ao longo do processo e a partir dos levantamentos que apontavam um placar favorável ao afastamento, a notícia não surpreendeu o ex-governador Tarso Genro e o ex-senador Pedro Simon, representantes gaúchos do PT e do PMDB – partidos que hoje deixam e assumem, respectivamente, a Presidência da República.
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Para o petista Tarso Genro, que reiterou a tese de que o impeachment foi um golpe feito "através de medidas de exceção", o novo governo assume com o objetivo de promover ajustes econômicos "de acordo com as necessidades dos chamados credores da dívida pública", algo que Dilma não teria base política nem social para fazer.
Expoente do PMDB, partido que assumiu oficialmente a Presidência da República na figura de Michel Temer, o ex-senador Pedro Simon destacou o "alto nível" da sessão no Senado, e comparou o processo atual com o impeachment do hoje senador Fernando Collor (PTC-AL). Para Simon, Temer tem a oportunidade de fazer um governo "de grande entendimento".
Ambos salientaram o fato de que Dilma, apesar de ter perdido o mandato, mantém o direito de ocupar cargos públicos. Para Tarso, essa decisão dos senadores foi uma "homenagem ao bom senso", e comprovaria "que não existe crime de responsabilidade". Já para Simon, a divisão "é própria do Brasil" e representa que a defesa da presidente afastada surtiu algum efeito.
Confira as declarações:
Tarso Genro (PT), ex-governador do Rio Grande do Sul
Aprovação do impeachment
Para mim não é uma surpresa porque acho que esse foi um processo de natureza eminentemente política, que nada tem a ver com crime de responsabilidade. E a sua finalidade é criar um bloco político de sustentação para um forte ajuste na economia. Trata-se de uma espécie de golpe institucional que só é possível através de medidas de exceção e que se consolida com essa decisão.
Governo Temer
Do ponto de vista da esquerda, que eu represento, o que nós temos que procurar daqui em diante é reconstruir as instituições políticas do Brasil, repactuar a democracia brasileira para dar sustentação para uma mudança no futuro, uma mudança por dentro da democracia, por dentro do regime político democrático, para permitir que o Brasil não seja constrangido a ser novamente um satélite do capital financeiro global.
Direitos políticos mantidos
Isso foi uma homenagem ao bom senso que os senadores fizeram. Com isso, eles comprovam que não existe crime de responsabilidade e que o impedimento da presidenta é um impedimento puramente político, que se dá dentro de regras do jogo que foram torcidas, que foram deformadas para ocorrer essa deposição.
Pedro Simon (PMDB), ex-senador
Aprovação do impeachment
Estamos vivendo uma hora tremendamente indicativa. Todo mundo, há dois, três meses atrás, achava que nós chegaríamos ao dia de hoje com quebra-quebra, quase uma guerra civil, uma luta. E se vê que foi tranquila, foi serena a sessão no Senado, foi de alto nível, um negócio realmente muito positivo.
Governo Temer
Temer não pode repetir o equívoco de escolher pessoas compromissadas com a Lava-Jato, mas nomes que tenham biografia limpa, que tenham capacidade para o cargo que vão exercer. Fazer o chamamento a todos para que se possa fazer um governo de grande entendimento. A gente vê nos discursos do PT, na cassação da Dilma, que eles estão preparando terreno para vir com quatro pedras para cima do novo governo. Então, se ele fizer isso (promover o entendimento), vai ter simpatia da sociedade.
Impeachment de Dilma x impeachment de Collor
Acho que hoje é mais complicado. Lá era o Collor, que foi um meteoro, subiu e desceu. Quando foi cassado, o PRN já não existia mais, não tinha ninguém do lado dele. Ele foi para casa e desapareceu. Hoje tem o PT, que ficou no governo por quatro mandatos, tem embasamento popular. Eles estão hoje atravessando uma fase de desgraça, de grande dificuldade. Mas ainda têm condições para empolgar.
Claudir Nespolo, presidente da CUT-RS
Aprovação do impeachment
Caracterizamos como golpe porque não tem crime. O rito do impeachment existe, está na lei. Agora, o que nos deixa muito indignados é essa ideia de que todas as coisas ruins aconteceram com a Dilma, e isso não é verdade. A Dilma não tem culpa se no governo dela a crise internacional se abateu sobre o Brasil também. Se aproveitar dessa fragilidade para tirar uma pessoa eleita é malandragem. Isso é golpe.
Governo Temer
A caneta do Brasil está na mão de um golpista cheio de vontade de facilitar a vida dos poderosos. Não somos ingênuos. É melhor a caneta estar na mão de quem, no mínimo, tenha simpatia pelos pobres, do que a caneta na mão de quem já deixou claro que vai governar para os ricos. A partir de agora, é rico contra pobre. Vamos cumprir a nossa função, que é a defesa dos direitos dos trabalhadores: direitos sociais, previdenciários e trabalhistas. O que está em disputa é para onde vai o dinheiro do Brasil nos próximos anos. Nós vamos brigar para que o dinheiro continue sendo distribuído, e não concentrado.
* Zero Hora