Alcançada pela pulverização de candidatos, a eleição à prefeitura de Porto Alegre, hoje, se mostra embaralhada a ponto de impedir indicação de favorito para suceder José Fortunati (PDT).
Dos oito concorrentes, cinco já venceram ao menos eleições proporcionais, ocuparam relevantes cargos públicos, são de partidos representativos e ingressam no pleito almejando o segundo turno: Sebastião Melo (PMDB), Luciana Genro (PSOL), Raul Pont (PT), Nelson Marchezan (PSDB) e Maurício Dziedricki (PTB). Os outros três – Fábio Ostermann (PSL), João Carlos Rodrigues (PMN) e Júlio Flores (PSTU) – são de menor expressão e encabeçam candidaturas modestas, mais vocacionadas a demarcar posição (no quadro abaixo, navegue pelas imagens e veja o perfil de cada um dos candidatos).
A eleição de 2016 terá, na primeira etapa, enfrentamentos entre campos ideológicos semelhantes. Luciana e Pont deverão disputar votos pela faixa da esquerda. Quadro que replica a eleição de 2008, quando Maria do Rosário (PT) e Manuela D’Ávila (PC do B) brigaram intensamente pelo segundo turno.
– Algumas pessoas projetam segundo turno entre as duas candidaturas de esquerda. Isso até é possível, mas improvável. O cenário aponta que uma dessas duas candidaturas (Pont e Luciana) vai enfrentar nome do centro ou da direita – avalia Márcio Cabral, presidente do PC do B de Porto Alegre.
Vice-prefeito, Sebastião Melo representa continuidade do atual projeto e tem apoio de ampla coligação (14 partidos) para cabalar votos desde as vilas mais humildes até a classe média alta. Menos badalado, Maurício Dziedricki (PTB) irá circular no mesmo eleitorado de Melo, até pelo fato de ser de sigla dissidente do bloco que governa a Capital há 12 anos. E, embora o PTB tenha hoje a maior bancada da Câmara de Vereadores, a sigla não lançava candidato havia 20 anos, e terá de afastar a pecha do fisiologismo.
Marchezan, que ganhou viabilidade após selar parceria com o PP, ocupará a faixa da centro-direita, dos liberais e dos antipetistas. Terá de lidar com a fragilidade do PSDB, que já era pequeno na cidade e ficou ainda menor. Na sexta-feira, ganhou apoio de Marcelo Chiodo, que desistiu de concorrer pelo PV.
– A polarização será dentro de segmentos. De um lado, Luciana e Raul. De outro, deve ser entre Melo e quem crescer mais para enfrentá-lo, Marchezan ou Dziedricki – analisa o deputado estadual Ibsen Pinheiro (PMDB).
Xadrez interno aumenta desafios às candidaturas
Líder nas primeiras pesquisas, Luciana declarou que, diante da possibilidade de vitória, será "mais propositiva", rejeitando o radicalismo da eleição presidencial de 2014. Sem aliados, terá parcos segundos de propaganda na TV e no rádio. Por não ter se posicionado claramente contra o impeachment de Dilma Rousseff, ao defender novas eleições, tornou-se alvo de parte da esquerda, o que pode beneficiar Pont.
O experiente petista, prefeito de Porto Alegre nos tempos da maré vermelha, deverá ser prejudicado pelo desgaste do partido, cuja votação na Capital é decrescente desde 2004. Apesar disso, Pont mantém prestígio por ser crítico do comando nacional da sigla e não ter se envolvido nos escândalos de corrupção.
Melo conta com a força da máquina de governo e o bônus das realizações, mas enfrenta desgastes da gestão e das obras inacabadas. Terá disparadamente o maior tempo de propaganda de TV e rádio. A identificação com o governador José Ivo Sartori será outra peça do xadrez.