Na Capital para atos "a favor da democracia", a presidente afastada Dilma Rousseff afirmou nesta sexta-feira que o governo interino a proibiu de usar aviões da Força Aérea Brasileira (FAB) para viajar a outros Estados do Brasil. Dilma disse que só haveria permissão para deslocamentos a Porto Alegre, onde tem residência.
– Hoje houve uma decisão da Casa Civil, ilegítima, provisória e interina, cujo objetivo é proibir que eu viaje. Vocês tem de ficar alegres porque o meu direito de viagem é só de Brasília a Porto Alegre, mas vocês não podem ficar alegres, porque isso é um escândalo. A troco de quê? Por que isso? Isso é grave – exclamou a presidente afastada.
Nos dois atos que participou, na Assembleia Legislativa e na Esquina Democrática, Dilma abordou o assunto, em tom de denúncia. Ela justificou a gravidade dizendo que não pode, por questões de segurança, utilizar aeronaves comerciais.
– Eu não posso, como qualquer outra pessoa, pegar um avião. Pra eu pegar um avião tem de ter toda uma segurança. A Constituição manda. Estamos diante de uma situação que precisa ser resolvida. Eu vou viajar. Vamos ver como vai ser a minha viagem – afirmou.
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A Casa Civil confirmou a decisão. Segundo assessores do Palácio do Planalto, foi estipulada uma limitação do uso de aviões da FAB, autorizando viagens de Dilma entre Brasília e Porto Alegre, somente. Nos bastidores, o governo interino avalia que a presidente afastada estaria usando as aeronaves para atos políticos e que o custeio dos deslocamentos deveria correr por conta do Partido dos Trabalhadores.
A decisão foi com base em parecer da Subchefia de Assuntos Jurídicos, assinado em 30 de maio. A seção é comandada por Gustavo do Vale Rocha, ex-advogado do presidente afastado da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha (PMDB).
Logo depois de admitido o impeachment no Senado, no dia 12 de maio, o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB), informou que Dilma poderia manter os benefícios da Presidência, como o uso do Palácio da Alvorada e assessores pagos pelo governo federal. Na ocasião, Renan afirmou que ela também poderia contar com aviões da Força Aérea Brasileira, que alertou sobre a necessidade de decreto para regrar o uso dos aviões.
Polêmica com cabeleireiro
Nesta sexta-feira, os eventos em Porto Alegre começaram a partir das 16h30min, quando a presidente afastada chegou ao palco do teatro Dante Barone, na Assembleia. Além de mencionar discordâncias com atos do governo interino, Dilma rebateu a informação do jornal O Globo de que usou dinheiro de propina da Petrobras para custear os serviços desempenhados por seu cabeleireiro, Celso Kamura.
– Eu o conheci (Kamura) na campanha de 2010. Ele fazia meu cabelo e eu gostei. Quando acabou a campanha, o contratei pessoalmente. Qual é a vantagem? Tenho os comprovantes. Paguei a passagem e o serviço de cabelo. Eles ligam o cabelo com Pasadena. Acontece que Pasadena foi em 2006 e em 2006 eu não conhecia o Celso Kamura. Fui conhecer ele quatro anos depois. Não passava nem pelo meu sonho que seria candidata à Presidência da República – disse.
O profissional confirmou ao mesmo jornal que os pagamentos eram feitos por Dilma Rousseff e pela agência de João Santana à época das campanhas, em 2010 e em 2014.
Depois de participar do primeiro ato, onde houve o lançamento do livro Resistência ao golpe de 2016, Dilma foi até a Esquina Democrática discursar para 10 mil pessoas, segundo a Frente Brasil Popular, organizadora do evento. A Brigada Militar não divulgou estimativa de público. Ela saiu do local depois de falar ao público por cerca de 15 minutos e depois, por volta das 18h30min, se dirigiu até a sua casa, na zona sul de Porto Alegre.
Diversos integrantes do PT e de organizações sociais participaram das manifestações em apoio à presidente afastada. Os ex-governadores Olívio Dutra e Tarso Genro foram os mais aplaudidos pelo público.