A comparação entre as informações prestadas pela Camargo Corrêa aos procuradores da Lava-Jato e a delação premiada de Sérgio Machado, ex-diretor da Transpetro, põe em xeque a colaboração da empreiteira, que teria omitido dois pagamentos de suborno. As informações são do jornal Folha de S.Paulo.
Machado afirmou ter repassado R$ 400 mil em propina, em 2010, a José Sarney Filho, então candidato a deputado federal pelo PV do Maranhão. De acordo com o ex-presidente da Transpetro, a quantia teve origem em subornos pagos pelas empresas Camargo Corrêa e Queiroz Galvão e foi entregue à campanha como contribuição oficial.
Sarney Filho é ministro do Meio Ambiente do governo interino de Michel Temer. Ele nega ter obtido recursos ilegais do ex-aliado de seu pai.
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Conforme a Folha, o próprio Machado diz ter recebido R$ 350 mil em dinheiro de Luiz Nascimento, um dos sócios da Camargo Corrêa. O valor, segundo Machado, foi entregue na casa do empreiteiro, em 1998, para a campanha do PSDB, porque "a Camargo Corrêa sempre foi um grande doador das campanhas tucanas". A doação equivale hoje a R$ 1,5 milhão.
A omissão de crimes em delações é considerada algo grave, que pode ser punido com aumento de multa ou pena ou até mesmo com a anulação das declarações. Conforme o acordo que firmou com o governo, a empresa tem até o próximo mês para complementar ou corrigir as informações prestadas.
Os procuradores da Lava-Jato ainda não definiram o que fazer com as omissões da Camargo Corrêa. Uma das possibilidades é de que Luiz Nascimento tenha que aderir ao acordo de delação. O empresário teria que contar por quais motivos, na versão de Machado, pagou suborno ao PSDB.
A Camargo Corrêa foi a segunda das companhias investigadas pela Lava-Jato, e a primeira das grandes empreiteiras, a fechar acordos de delação e de leniência. No segundo deles, acertou o pagamento de uma indenização de R$ 700 milhões, menor apenas que o da multa paga pela Andrade Gutierrez (R$ 1 bilhão).
Contraponto
De acordo com a reportagem da Folha, o ministro do Meio Ambiente, Sarney Filho, e o PSDB negam o recebimento de recursos ilícitos por meio de Sérgio Machado. O ministro relatou ao jornal paulista que só "um picareta" como o ex-presidente da Transpetro chamaria de "vantagens indevidas" doações legais aprovadas pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE).
O PSDB, por sua vez, declarou que Machado jamais ocupou cargos executivos no governo de Fernando Henrique Cardoso, o que impossibilitaria que ele negociasse vantagens. De acordo com um comunicado do partido, as irregularidades ocorreram na gestão do PT. "O PSDB é o maior interessado em saber se o senhor Sérgio Machado usou indevidamente o nome do partido para benefício próprio em 1998", afirma a nota.
Já a Camargo Corrêa aponta que "colabora com a Justiça por meio de um acordo de leniência". Além disso, a Queiroz Galvão sublinha que não comenta fatos sob apuração.
Em infográfico, confira os desdobramentos da Lava-Jato: