Mesmo sem quórum, com apenas quatro deputados na sala da reunião marcada para esta terça-feira, o presidente do Conselho de Ética da Câmara, José Carlos Araújo (PR-BA), instaurou processo contra o deputado federal Jair Bolsonaro (PSC-RJ). No prazo de duas sessões, Araújo disse que anunciará o nome do relator do caso a partir de uma lista tríplice, que inclui os nomes de Zé Geraldo (PT-PA), Valmir Prascideli (PT-SP) e Wellington Roberto (PR-PB).
Bolsonaro é acusado, de acordo com uma representação do Partido Verde (PV), de apologia ao crime de tortura. O responsável por elaborar o parecer a favor ou contra a cassação do mandato do deputado fluminense deve ser do PT ou PR, em função dos critérios definidos pelo Código de Ética, que restringe as indicações, excluindo parlamentares que sejam do mesmo partido, bloco ou Estado do representado ou de aliados.
– No passado, o único impedimento era o Estado e partido do representado. Com a modificação feita por resolução, o presidente em exercício (da Câmara, Waldir) Maranhão fez modificações que impedem que também seja do mesmo bloco. Se perdurar desta forma, e não tomarmos providência para voltar a ser como era, pode chegar a um determinado momento em que não poderá ter relator, se admitirem que amanhã pode ser formado um blocão – alertou Carlos Araújo.
Leia mais
Bolsonaro vira réu por dizer que Maria do Rosário "não merecia ser estuprada"
Bolsonaro diz que decisão do STF sobre incitação ao estupro fere imunidade
VÍDEO: Jean Wyllys cospe em direção a Bolsonaro durante votação
O colegiado tem agora 90 dias úteis para decidir o futuro do deputado fluminense. Bolsonaro é alvo de uma representação movida pelo Partido Verde – legenda que não tem assento no conselho. O partido acusa o parlamentar por apologia ao crime de tortura ao homenagear o coronel Brilhante Ustra durante a sessão da Câmara dos Deputados, em abril deste ano, que aprovou a abertura do processo de impeachment da presidente afastada Dilma Rousseff. Carlos Alberto Brilhante Ustra, conhecido como coronel Ustra, foi o primeiro militar reconhecido pela Justiça como torturador na ditadura.
Regimentalmente, não havia necessidade de uma sessão para abertura do caso, mas Araújo agendou o encontro para dar publicidade à medida. Em função das mudanças de decisão do presidente interino, Waldir Maranhão (PP-MA), que cancelou e depois remarcou sessão de votação na Câmara para esta semana, a Casa está esvaziada, e apenas Júlio Delgado (PSB-MG), Marcos Rogério (DEM-RO) e Alberto Filho (PMDB-MA) marcaram presença, além de Araújo.
Também havia a intenção de discutir uma consulta sobre a substituição de membros no colegiado, mas o tema acabou adiado. A consulta foi apresentada por Delgado, Rogério e Onyx Lorenzoni (DEM-RS) para tentar evitar o que ocorreu durante o processo envolvendo o presidente afastado da Casa, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), quando várias substituições foram apontadas como manobras de aliados do peemedebista para tentar evitar a aprovação de sua cassação.