Michel Temer terá 180 dias para mostrar que tem condições de mover uma montanha chamada ajuste fiscal. De economistas a sociólogos, é quase consensual: a missão de Temer começa pela retomada do controle do que o governo gasta e arrecada, em uma tentativa de estancar a sangria de dinheiro público que se tornou o estopim para o avanço do processo de impeachment contra Dilma Rousseff.
A busca do reequilíbrio das contas não é linear. Temer terá de conciliar o enfrentamento ao rombo fiscal com a manutenção de apoio político e social para aprovar medidas duras e buscar aproximação com investidores para recuperar uma confiança que parece ter se evaporado nos últimos anos. Não é por acaso que assessores de Temer têm reforçado que seu governo inicia pela agenda econômica.
– Fazer ajuste fiscal em tempos de recessão é uma tarefa inglória. Temer terá de aproveitar a onda de confiança com o afastamento de Dilma para fazer passar projetos impopulares que possam reaquecer a economia no médio prazo – aponta o diretor de macroeconomia da LCA Consultores, Fernando Sampaio.
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As propostas para a economia ainda são difusas: o programa do PMDB, Uma Ponte para o Futuro, feito pela Fundação Ulysses Guimarães, lista uma série de medidas que agrada economistas e empresários, como flexibilização dos gastos públicos – hoje amarrados por um orçamento que determina quanto o governo terá de gastar em áreas como saúde e educação – e controle de benefícios sociais. Mas a realidade do dia a dia pode obrigar o presidente interino a tomar caminhos diferentes, optando por aumento de impostos e um modelo ameno de reforma da previdência.
– Os problemas do país estão mais do que claros, e as soluções que o PMDB areja são adequadas. A questão é quem estará disposto a encarar o custo político e social para comprar as brigas necessárias para o ajuste fiscal – resume Marcelo Portugal, professor da faculdade de Economia da UFRGS.