O escritor peruano Mario Vargas Llosa afirmou que "nenhum político deve ser endeusado ou santificado" quando questionado sobre o ex-presidente Lula. O vencedor do Prêmio Nobel de Literatura em 2010 concedeu entrevista ao programa Gaúcha Atualidade, da Rádio Gaúcha, nesta terça-feira, e também falou sobre o processo de impeachment da presidente Dilma Rousseff e as eleições presidenciais no Peru. Llosa abre nesta quarta-feira, às 19h45min, no Salão de Atos da Ufrgs (Av. Paulo Gama, 110) a temporada de 2016 do Fronteiras do Pensamento.
– O que ocorreu com Lula é um fenômeno muito interessante (...) Ele foi endeusado, santificado como se fosse um dirigente extraordinário, perfeito, desprovido de defeitos. Nenhum politico deve ser endeusado ou santificado. É um erro monumental – avaliou.
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Llosa analisa que o fenômeno de popularidade de Lula também se repetiu com outros políticos em parte da América Latina e do mundo. Para o autor, os escândalos de corrupção contribuíram para quebra de mitos e a descrença na política.
– A criação de um mito de Lula veio abaixo quando descoberto que, tanto no seu governo quanto no de Dilma, muitas coisas que “no marchavam”. A corrupção não havia desaparecido e sim crescido – destacou.
Outro ponto destacado por Llosa é uma suposta linha populista adotada pelos governos petistas como um fator de contribuição para a crise política e econômica brasileira.
– O populismo é um câncer para a democracia. Populismo sacrifica o futuro em nome de um presente que é muito fugaz. Se tomam medidas irresponsáveis, se destrói a economia do futuro por medidas demagógicas, de pura atualidade. Isso é um dos grandes problemas que enfrenta democracia na América latina. Os governos de Dilma e Lula foram populistas, atuando em campo econômico de maneira irresponsável. Criou insegurança muito grande que explica a razão fundamental da mobilização crítica aos governos no Brasil – dissertou.
Sobre o processo de impeachment, Llosa afirmou que está acompanhando com muito interesse e que o impedimento pode resultar na "purificação da democracia". Também avaliou que há uma necessidade de que "esse sistema se limpe, seja mais transparente, mais honesto e se libere da corrupção que está gangrenando e criando decepção com instituições".
Apesar da avaliação negativa sobre a política do governo petista, Llosa ressalva que a corrupção não é apenas um problema dos partidos de esquerda, mas um problema do sistema político em toda América latina.
– Partidos estão atrasados com avanços da sociedade e revolução tecnológica e audiovisual. Problemas modernos que os partidos não incorporaram, nem em suas estruturas ou programas (...) Essa é a razão da crise profunda que experimentam os partidos – disse.
O autor disse acompanhar com preocupação a vitória de Keiko Fujimori, filha do ex-presidente Alberto Fujimori – que venceu Llosa no pleito eleitoral e está preso por corrupção e por violação dos direitos humanos –, no primeiro turno das eleições à presidência do Peru.
– Esperança que ganhe kuchinski, que representa opção claramente democrática, tolerante e de uma pessoa que tem credenciais políticas respeitáveis – concluiu.
* Bruno Teixeira e Tiago Boff