Se os ameaçados de perder cargos em comissão de segundo e terceiro escalão estão preocupados com o amanhã, o mesmo vale para o andar de cima, onde estão os ministros da presidente Dilma Rousseff. No clima de fim de linha, eles também limpam gavetas e planejam o futuro em Brasília ou nas bases eleitorais.
Alvos da Lava-Jato, Edinho Silva (Secretaria de Comunicação Social) e Jaques Wagner (Gabinete Pessoal) buscam guarida em seus Estados. Edinho estuda concorrer a prefeito de Araraquara (SP), enquanto Wagner pode assumir cargo de secretário na Bahia, na gestão do afilhado político Rui Costa. Um dos presidenciáveis do PT para 2018, ele também estuda disputar vaga ao Senado. Apesar da possível distância, Dilma conta com a ajuda e os conselhos dos dois ministros no período de limbo político, caso se confirme o afastamento por até 180 dias na próxima semana.
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Outros aliados ficarão em Brasília. Deputados e senadores querem transformar a sede do PT na Capital em anexo do governo paralelo, sediado no bunker do Palácio da Alvorada. Durante a quarentena, ministros petistas despachariam do local e ajudariam a responder possíveis ataques da equipe de Michel Temer.
– Será um espaço para reuniões e discussões de políticas para resistir ao golpe _ diz o deputado Henrique Fontana (PT-RS).Um dos aguardados na sede do partido é Miguel Rossetto, que deixará a pasta do Trabalho e Previdência, e ainda vislumbra possibilidade de disputar eleição no Rio Grande do Sul. Petistas gaúchos contam com o empenho do ministro, próximo de movimentos sociais e centrais sindicais, para mobilizar a base do partido e organizar eventos pelo país para combater o impeachment em curso.
Tereza Campello (Desenvolvimento Social) e Carlos Gabas (Aviação Civil) também terão espaço reservado na sede do PT. O provável "chefe" do núcleo é Ricardo Berzoini. Sem mandato e na mira da Lava-Jato, o atual secretário de Governo é cotado para substituir Rui Falcão na presidência da sigla. Ele planeja se reaproximar da base sindicalista em São Paulo a fim de pavimentar uma nova eleição à Câmara. Soció-logo, Juca Ferreira (Cultura) teria espaço para ocupar mais uma vez cargo na gestão de Fernando Haddad em São Paulo.
No horizonte dos ministros também estão as carreiras profissionais. Economista, Aloizio Mercadante (Educação) pretende voltar a lecionar na PUC-SP. Titular da Fazenda, Nelson Barbosa retornará à academia, mas como professor da Fundação Getulio Vargas (FGV). Outro que mira os livros é José Eduardo Cardozo (AGU). Procurador do município de São Paulo, quer retomar a vida docente – e a conclusão da tese de doutorado está nos planos. Antes, porém, atuará na defesa de Dilma contra o impeachment.
Antônio Carlos Rodrigues (Transportes) volta à Câmara de Vereadores de São Paulo, enquanto André Figueiredo (Comunicações) e Patrus Ananias (Desenvolvimento Agrário) retomam as cadeiras na Câmara dos Deputados. Armando Monteiro (Desenvolvimento) regressa ao Senado, mesmo destino de Kátia Abreu (Agricultura), que seguirá ao lado de Dilma.