O ministério empossado nesta quinta-feira pelo presidente interino Michel Temer reverteu a tendência das últimas décadas de um número cada vez maior de mulheres no primeiro escalão. É a primeira vez, desde o período de Ernesto Geisel (1974-1979), ainda na ditadura, em que somente homens formam o gabinete de um presidente.
A presença feminina vinha aumentando na Esplanada dos Ministérios desde 1982, quando Esther de Figueiredo Ferraz foi escalada para a pasta de Educação e Cultura por João Figueiredo (1979-1985). Devido à quebra desta tradição, feministas e especialistas em estudos de gênero se queixam de falta de diversidade na linha de frente da nova gestão.
A diferença no perfil dos dois governos ficou evidente nas cerimônias que marcaram a despedida de Dilma Rousseff no Palácio do Planalto e a nomeação dos ministros da administração peemedebista. A presidente afastada fez seu pronunciamento rodeada de mulheres e fez questão de destacar:
– Tenho orgulho de ser a primeira mulher eleita presidenta do Brasil.
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Ao longo de seu governo, 15 mulheres receberam status de ministra. Já no pronunciamento inaugural de Temer, ele apareceu rodeado apenas por homens nas fileiras mais próximas. Nas articulações para substituir o gabinete da presidente petista, o PMDB cogitou uma representante do sexo feminino para ocupar um cargo – a ex-ministra do Supremo Tribunal Federal Ellen Gracie, mas ela recusou a oferta. Assim, o grupo que ingressou no Planalto ficou restrito a homens.
– Poderiam ter pensado: vamos ter representatividade de mulher, negro, homossexual. Não disfarçaram. É um ministério de homens brancos e ricos – analisa a integrante do Grupo de Estudos de Educação e Relações de Gênero da UFRGS Jane Felipe.
A feminista Manoela Miklos, doutora em Relações Internacionais, lamentou as possíveis consequências do perfil do primeiro escalão desenhado até agora.
– A ausência de diversidade desse grupo de ministros denota que eles lidam com muita naturalidade com a desigualdade de gênero. Que tipo de políticas públicas de enfrentamento das desigualdades de gênero, de raça ou econômica podemos esperar de um grupo assim?
A ex-secretária especial de Políticas para as Mulheres, Eleonora Menicucci, aumentou a voltagem das críticas: declarou que a montagem da nova equipe é um "golpe machista, patriarcal, misógino". Pessoas próximas a Michel Temer sustentam que o presidente interino ainda tem a intenção de nomear mulheres para a sua equipe.