Em nova gravação divulgada pelo jornal Folha de S. Paulo, o ex-presidente José Sarney (PMDB-AP) faz promessa ao ex-presidente da Transpetro Sérgio Machado, investigado pela Operação Lava-Jato, de ajudá-lo a evitar a transferência de seu caso para o juiz federal Sergio Moro. Sarney cita que a ação ocorreria "sem meter advogado no meio".
Nesta terça-feira, Machado, responsável pela gravação dos diálogos, teve o acordo de delação premiada homologado no Supremo Tribunal Federal (STF). Em uma das conversas, datada de março, Sarney havia manifestado preocupação sobre a possibilidade de uma delação feita por Machado.
– Nós temos é que fazer o nosso negócio e ver como é que estão teu advogado, até onde eles (estão) falando com ele em delação premiada – disse o ex-presidente.
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Em resposta ao questionamento, Machado disse que havia insinuações para que ele fizesse delação. Sarney então afirmou que a estratégia é "conseguir" o pleito de Machado, mas sem "meter advogado no meio". O ex-presidente da Transpetro concordou, afirmando que "advogado é perigoso". Por três vezes, Sarney repete a frase "Sem meter advogado".
Conforme o jornal, a estratégia do ex-presidente não fica totalmente clara ao longo das gravações obtidas, mas há envolvimento do presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL) e do senador e ex-ministro Romero Jucá (PMDB-RR).
Machado pede, ao final de uma das conversas, que Sarney informasse assim que fosse possível marcar um encontro entre eles e Renan, além de Jucá, que também estaria "aguardando". Sarney respondeu que não achava "conveniente o encontro". Em seguida, ele contou que o ex-senador e ex-ministro Amaral Peixoto (1905-1989) costumava dizer que "duas pessoas pessoas já é reunião. Três é comício". Em outro áudio gravado por Machado, Jucá também afirmava que não seria bom que todos se reunissem ao mesmo tempo. A solução seria o ex-presidente da Transpetro falar com cada político individualmente.
Nas conversas, Sarney deixa evidente que concordava com a iniciativa de impedir que o caso de Machado seguisse para Curitiba.
– O tempo é a seu favor. Aquele negócio que você disse ontem é muito procedente. Não deixar você voltar para lá (Curitiba) – disse o ex-presidente.
Repercussão
Em nota, Sarney afirmou que, não tendo tempo nem conhecimento do teor das gravações", não tem "como responder às perguntas pontuais" feitas pela Folha.
Ele disse que conhece "Sérgio Machado há muitos anos. Fomos colegas no Senado Federal e tivemos uma relação de amizade, que continuou depois que deixei o parlamento". A nota diz ainda que as conversas "que tive com ele nos últimos tempos foram sempre marcadas, de minha parte, pelo sentimento de solidariedade, característica de minha personalidade. Nesse sentido, expressei sempre minha solidariedade na esperança de superar as acusações que enfrentava. Lamento que conversas privadas tornem-se públicas, pois podem ferir outras pessoas que nunca desejaríamos alcançar".