A decisão do presidente interino da Câmara dos Deputados, Waldir Maranhão (PP-MA), que anulou as sessões de votação do impeachment da presidente Dilma Rousseff pegou Brasília de surpresa na manhã desta segunda-feira. A reviravolta é motivo de dúvidas entre juristas, levou a OAB a buscar elementos para recorrer da decisão e levou ao Senado um clima de incertezas sobre o futuro do processo.
Em Goiânia, a presidente Dilma participa, no final da tarde desta segunda-feira, da cerimônia de inauguração do novo terminal do Aeroporto de Santa Genoveva. Ao contrário da expectativa, ela não comentou a determinação do Senado. Entretanto, voltou a afirmar que o impeachment é "golpe".
– Vou lutar com todos os instrumentos que tenho, democráticos e legais, para impedir a interrupção ilegal usurpadora do meu mandato – disse a presidente. – A democracia, sem duvida, é o lado certo da história. E a história também julgará os golpistas e usurpadores.
No plenário do Senado, o presidente da Casa, Renan Calheiros, pronunciou-se na tarde desta segunda-feira. Ele ignorou a decisão de Maranhão e disse que vai dar seguimento ao processo de impeachment.
– Deixo de conhecer o ofício nº 635/2016 da Câmara e determino sua juntada aos autos da denúncia com esta decisão – afirmou.
Senadores da oposição e da base governista também usam o espaço da sessão para argumentar contra e a favor da anulação.
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Também na tarde desta segunda-feira, em um breve pronunciamento, o presidente interino da Câmara disse que "não estamos, nem estaremos em momento algum brincando de fazer democracia".
– Com base na Constituição e no regimento, tomei esta decisão. Tenho consciência do quanto este momento é delicado. Temos o dever de salvar a democracia – disse Maranhão. – Tenho o dever de levar aos lares brasileiros e ao mundo afora que o nosso país tem salvação – completou o deputado.
A decisão de Maranhão – aliado de Eduardo Cunha, mas que votou contra o impeachment na Câmara – foi costurada por governistas durante o fim de semana. O governador do Maranhão, Flávio Dino (PCdoB), admitiu, nas redes sociais, que ajudou o presidente interino da Câmara a tomar a decisão de anular o impeachment na Câmara. Já o PP acelera um processo para expulsar Maranhão do partido.
Confira as repercussões da decisão de Maranhão em Brasília:
A presidente Dilma Rousseff foi informada da decisão de Maranhão durante cerimônia de anúncio de criação de novas universidades federais. Antes de a informação circular no evento, o tom era de despedida. O ministro da Educação, Aloizio Mercadante, chegou a declarar que a petista deixava um "legado" para o ensino brasileiro.