Os jornais estrangeiros deram ampla cobertura à votação deste domingo na Câmara dos Deputados – alguns, inclusive, com cobertura ao vivo e links para a transmissão no YouTube.
Nos textos, duas constantes: o destaque para a derrocada da economia brasileira e das condições de governabilidade, em meio aos escândalos da Operação Lava-Jato, e a constatação de que o impedimento da presidente Dilma Rousseff – sobre quem não paira acusações de corrupção – seria julgado por um Congresso implicado em crimes que vão de recebimento de propina a homicídio.
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Confira algumas repercussões.
The New York Times
O jornal americano destacou os péssimos números da economia do Brasil, "que já foi uma potência do mundo em desenvolvimento", no governo de Dilma. Ponderou, porém, que o impeachment da presidente dividiu brasileiros e analistas políticos, ressaltando que as "pedaladas fiscais", justificativa oficial do processo de impedimento, foram uma manobra usada por muitos políticos antes dela.
"Temer também enfrenta uma possibilidade de impeachment calcada nas mesmas alegações contra Rousseff."
The Independent
O jornal britânico destacou que, apesar dos erros de Dilma, está "claro que é uma tentativa descarada de remover uma presidente eleita democraticamente", por meio de uma conjunção de "hostilidade da mídia, interpretações questionáveis da Justiça e da Constituição, e um nível impressionante de complôs e maldade por parte da oposição".
"Seja qual for o destino da presidente Dilma Rousseff, a chance de o Brasil acabar com a corrupção foi perdida."
The Wall Street Journal
O potencial afastamento de Dilma é "um risco e cria um sério teste à democracia no Brasil", aponta o jornal econômico americano. A publicação também questiona se uma futura gestão Temer-Cunha terá capacidade de acabar com as crises econômica e política, já que os dois – e muitos outros do mesmo partido, o PMDB – são impopulares e também acusados de corrupção.
"A consultoria de risco Eurasia Group afirmou, na sexta, que há 35% de chances de Temer não terminar seu mandato."
The Guardian
O jornal britânico descreve o clima de tensão crescente que tomou o Brasil devido à votação do impeachment, realizada por um Congresso "hostil e manchado pela corrupção". A publicação destacou o papel de Eduardo Cunha, "acusado de receber mais de US$ 5 milhões em propinas da estatal Petrobras e de mentir sobre contas secretas na Suíça".
"Nas ruas, as multidões foram mais civilizadas do que seus representantes eleitos."
Clarín
O jornal argentino afirmou que tudo indica que Dilma será afastada não pela corrupção, mas por sua "incapacidade para governar" e porque teria sido responsável por "afundar a economia do país", segundo as manifestações dos parlamentares a favor do impeachment. A publicação mostrou-se surpresa pelo fato de a justificativa formal – as pedaladas fiscais – praticamente não ter sido mencionada.
"A única coisa que unifica quem quer o afastamento é a 'convicção' de que Dilma 'perdeu a credibilidade e as condições de governar'."
Financial Times
A publicação econômica britânica comentou que o processo de impeachment está sendo acompanhado de perto pelos mercados, que torcem pela queda do governo de Dilma. Ressalta que a presidente é criticada por usar políticas intervencionistas que levaram o Brasil a uma de suas maiores crises políticas e econômicas, e que Temer teria apoio dos mercados e da indústria em sua gestão.
"Temer teria uma curta lua de mel para reequilibrar as finanças do Brasil e introduzir algumas reformas."
La Nación
Foi em um cenário "mais parecido com o de um estádio de futebol do que de um dos momentos mais importantes da história da Câmara" que a votação do impeachment foi realizada, apontou o jornal argentino. Destacou as acusações que pairam sobre Dilma e Lula e, também, que os próximos na linha de sucessão, Temer e Cunha, e o próprio Congresso, não estão isentos de denúncias.
"O cenário está formado por uma presidente isolada que é vista com receio pelos próprios aliados do PT e de Lula, que quer voltar ao poder."
CNN
A rede de TV americana ressaltou que Dilma poderá ser afastada do poder três meses antes do início dos Jogos Olímpicos do Rio, "um evento que deveria mostrar o Brasil como uma potência em ascensão no palco global". Destacou, também, que os apoiadores de Dilma afirmam que o pedido de impeachment é "uma vingança mesquinha orquestrada por políticos acusados de crimes muito mais sérios".
"Ela deve ser substituída por Temer, cujo partido também foi implicado no esquema de corrupção e pode ser mais fragilizado pela investigação."