Porto Alegre teve índice de abstenção acima de um terço entre o eleitorado apto a escolher um candidato para ocupar o cargo de prefeito a partir de 2025. Na Capital, dos 1.096.620 eleitores, 381.965 não foram às urnas no segundo turno, ou seja 34,8%. É o percentual mais alto entre as capitais brasileiras.
Além da Capital, outro município da Região Metropolitana teve abstenção superior a um terço. Trata-se de Canoas, onde há 259.585 eleitores, mas 92.716 não registraram seus votos, ou seja, 35,7%. Os dados foram divulgados pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE).
Confira, abaixo, o perfil de quem não foi às urnas nestas eleições nos dois municípios com maior abstenção na Região Metropolitana.
Situação em Porto Alegre
Faixa etária
A faixa etária entre 25 e 29 anos foi aquela que atingiu o maior percentual de abstenção. Dos mais de 94.295 eleitores com essas idades aptos a votarem, 39.769 não foram às urnas. O número representa 42,18% do total.
A faixa etária com o menor percentual de abstenção foi a da população com idades entre 60 e 64 anos. Em Porto Alegre, das 86.983 pessoas aptas a votar com essas idades, 16.326 não foram às urnas, o que representa 18,77%.
Gênero
Com relação ao gênero, as mulheres foram as que menos compareceram no segundo turno. Das 602.539 que poderiam participar da eleição, 212.216 se ausentaram.
Já entre os homens, 34,36% deixaram de participar da eleição no segundo turno. São 169.749 eleitores dos 494.081 que poderiam votar e não compareceram.
Escolaridade
Eleitores com Ensino Superior completo ou incompleto foram aqueles que mais compareceram às urnas. Já entre os que têm menor escolaridade houve maior abstenção.
Situação em Canoas
Faixa etária
Em Canoas, quase metade dos eleitores entre 25 e 29 anos não foi às urnas. São 11.690 pessoas nesta faixa etária, dentre as mais de 25.196 aptas a votar, que deixaram de participar da eleição. O número representa 46,4% do total.
Assim como na Capital, a faixa etária com menor percentual de abstenção é de 60 a 64 anos. Dos 19.336 eleitores com estas idades, 20,44% não votaram. São 3.953 moradores da cidade que não participaram do segundo turno da eleição.
Gênero
Em Canoas, 36,13% dos homens deixaram de escolher um candidato durante a disputa eleitoral. Dos 120.779 com direito a voto, 43.638 não compareceram.
Já entre as mulheres aptas a votar no município da Região Metropolitana, o índice de abstenção foi de 35,36% no segundo turno. Das 138.806 eleitoras da cidade, 49.078 se ausentaram.
Escolaridade
O cenário de Porto Alegre se repete em Canoas. Os eleitores com maior escolaridade foram os que mais compareceram às urnas.
Eleitor está descrente, afirma cientista política
Na avaliação da cientista política Elis Radmann, diretora do Instituto Pesquisas de Opinião (IPO), o fenômeno da maior abstenção está associado à descrença do eleitor e a negação com relação à política, especialmente entre os jovens.
— Entre o final da adolescência e o início da fase madura, há vontade de ganhar identidade em termos de cidadania. Com isso, o grau de participação é maior nos jovens. Agora, a partir do momento que ele começa a se decepcionar, o que motiva a negação, com ele não vendo resultados nas políticas públicas, zeladoria e mercado de trabalho, o jovem começa a se indignar e não vota — atribuiu Elis.
A cientista política aponta que se soma à descrença política a facilidade de justificar o voto por meio do aplicativo e-Título.
— O E-título permite hoje que qualquer pessoa que seja identificada fora da sua área possa justificar a ausência no dia do processo eleitoral facilmente. Isso soma-se à negação e ao desinteresse do eleitor, permitindo ao jovem desta idade não participar da eleição — aponta a cientista política.
Por outro lado, a preocupação do eleitor mais idoso motiva a maior participação deles:
— Elas também desacreditam, mas entendem que precisam participar por acharem que não devem deixar tal visão de mundo ou princípio entrar para o jogo. É um movimento diferente do jovem que deixa de votar — explica Elis.
A cientista política avalia também que o eleitor com menor grau de escolaridade se sente mais frustrado e não enxerga utilidade no voto. Com isso, a abstenção acaba sendo maior na comparação com pessoas com Ensino Superior completo, por exemplo.
— A pessoa com menos ensino se abstém porque não acredita no sistema ou porque a precarização dos serviços é cada vez maior. Então, quando o nível educacional das pessoas é menor, elas vão se sentir mais frustradas e indignadas. Elas não enxergam utilidade no voto e é quase que uma “saída de protesto” — aponta.
O que diz o TRE
O Tribunal Regional Eleitoral do Rio Grande do Sul (TRE-RS) foi procurado e disse que não irá se manifestar sobre o tema.
Em coletiva de imprensa no dia 4 de novembro, o presidente do órgão, Voltaire de Lima Moraes, afirmou que está previsto para março um evento entre partidos, políticos, tribunais e sociedade para discutir estratégias para reduzir a abstenção em eleições futuras.
— Uma coisa é certa: (a abstenção) não foi problema climático. Tanto no primeiro quanto no segundo turno, não tivemos chuvas. Por isso queremos aprofundar, verificar quais foram as razões. Pode ser questão de falta de interesse pelas eleições, e por que essa falta de interesse? Isso precisamos analisar — disse.