Sob menor influência do clã Gomes, Fortaleza se prepara para no domingo (27) vivenciar mais uma eleição acirrada. A diferença para pleitos mais recentes é que protagonistas de outrora viraram coadjuvantes na disputa entre André Fernandes (PL) e Evandro Leitão (PT). A cidade nordestina e Cuiabá são as únicas que reproduzem de maneira direta o duelo entre bolsonaristas e lulistas entre as 15 capitais que terão segundo turno no fim de semana.
Há quatro anos, Sarto (PDT), candidato da então unida família Gomes, foi eleito prefeito com vantagem de 43 mil votos sobre Capitão Wagner (à época no PROS), em um universo de 1,4 milhão de eleitores. Postulante a um segundo mandato, Sarto obteve apenas 11% dos votos no primeiro turno.
Fernandes fechou na primeira posição, com 40,2% dos votos. Leitão conquistou 34,3%. A distância, de acordo com pesquisas, diminuiu e se consolidou em um empate técnico, quando a diferença de porcentagem entre os dois candidatos fica dentro da margem de erro. Na quarta-feira (23), a Quaest apontou que a disputa está em 44% a 42% a favor de Leitão. A margem de erro é de 3%.
Aos 26 anos, Fernandes ganhou destaque com vídeos humorísticos na internet. Conquistou o eleitorado com sua presença nas redes sociais e jingles viralizantes. Atrai um público mais conservador e religioso. É filho de um pastor da Assembleia de Deus. Tem formação profissional em marketing.
Deputado federal desde 2023, está entre os principais apoiadores do ex-presidente Jair Bolsonaro. No segundo turno, sua campanha adotou discurso moderado e não citou a relação com o ex-presidente. Fernandes se transformou na nova ameaça para tirar do poder a centro-esquerda, que comanda a cidade desde 2007. Desde então, apenas PT, PSB e PDT estiveram na prefeitura.
Leitão, deputado estadual com três mandatos, está enredado no meio da querela entre os irmãos Gomes. Ciro (PDT) repete a postura adotada no segundo turno da disputa presidencial de 2018, quando viajou para Paris e se absteve de se posicionar a favor de Fernando Hadad (PT) ou de Bolsonaro. Desta vez, o político segue na cidade, mas sem indicar lado, embora enfatize o anti-petismo.
Seus correligionários não ficaram em cima do muro. A ala “cirista” do PDT cearense apoia o candidato do PL. Seis dos oitos vereadores eleitos pelo partido abriram voto para Fernandes. O posicionamento vai contra o preconizado por Carlos Lupi, presidente da sigla, e que acenou apoio a Leitão. O mesmo fez Cid Gomes (PSB). O irmão de Ciro faz campanha aberta para eleger o petista.
— Há um uso muito grande do Lula na campanha e do anti-bolsonarismo. O candidato do PL é um nome que não aparece na campanha dele, tentando trazer as questões do debate para questões locais do que nacionalizar. Embora estejam presente esses dois lados, vejo como uma eleição sob o signo da mudança, da renovação. A importância desses atores é superestimada (Lula e Bolsonaro) — avalia Monalisa Torres, professora de Teoria Política da Universidade Estadual do Ceará (UECE).
Apesar de a disputa orbitar em torno de sua família de de seu posicionamento, Ciro admite que perdeu sua força.
— A minha importância é declinante. Eu tenho humildade para perceber que a minha palavra cada vez tem menos audiência no Ceará. Isso eu tenho que aceitar com humildade — declarou ao votar no primeiro turno.
Durante todo o processo eleitoral, os dois candidatos se acusaram de proliferadores de fake news.
— É um duelo de rejeições. Quem conseguir reduzir a rejeição consegue a vitória, porque o Evandro herda rejeição ao PT, ao governo Elmano (de Freitas, do PT), que enfrenta dificuldades no Ceará. O André Fernandes enfrenta rejeição do público feminino por declarações do passado, a ligação do bolsonarismo —pontua Cleyton Monte, cientista político e professor universitário e pesquisador da Universidade Federal do Ceará
O passado também foi utilizado como arma. A campanha de Leitão resgatou postagens antigas do concorrente para deteriorar sua imagem, principalmente, com o público feminino. Em vídeo de 2018, Fernandes aparece dizendo que “dane-se. E quantos homens morrem por dia?”, ao comentar um questionamento sobre o número de feminicídios no Brasil ao então candidato Jairo Bolsonaro.
Pendam para o lado que penderem os votos em Fortaleza, a capital cearense terá uma disputa definida no detalhe.