Véspera das eleições municipais, o sábado (5) de sol foi marcado por movimentação política tímida nas ruas de Estrela, Lajeado e Arroio do Meio, municípios do Vale do Taquari severamente atingidos pelas enchentes de setembro de 2023 e maio de 2024.
Carreatas foram registradas ao longo do dia em Arroio do Meio e marcadas para o fim da tarde em Estrela. Manifestações pontuais também ocorreram em Lajeado.
Nas três cidades, porém, a importância dada para a eleição, em geral, é baixa. Nas ruas, poucos cartazes e bandeiras de candidatos são vistos. O pleito é quase ignorado em meio ao desânimo da população.
Quatro meses após a tragédia mais recente, a enchente tem influenciado as disputas municipais na região. A influência no voto dos eleitores, contudo, divide opiniões: enquanto alguns afirmam que não levarão o episódio em consideração, pois avaliam que foi um desastre natural, outros relatam que a escolha será influenciada pelo episódio e pedem mudanças nas prefeituras. Já as propostas de recuperação econômica têm sido avaliadas pela maioria dos eleitores.
Em Estrela, pela manhã, poucos carros e pessoas circulavam com bandeiras e fazendo apologia a algum partido. Assim como nas duas outras cidades, vários eleitores que conversaram com a reportagem se mostraram indecisos na véspera do pleito, sem ter decidido ainda em quem vão votar.
Na cidade com 24,7 mil eleitores, há cinco candidatos à prefeitura: Carine Schwingel (União Brasil), Elmar Schneider (MDB) – que enfrenta um pedido de cassação da candidatura por parte do Ministério Público -, Jair Wermann (Novo), João Braun (PP) e Bonitinho (PSB).
Para o empresário Oséias Selke, 38 anos, as opções para a administração são boas. Ele relatou que a disputa está mais calma em comparação a outros anos. A enchente e a reestruturação econômica não vão pesar no seu voto.
— As pessoas estão bem desacreditadas na política, mas felizmente ou infelizmente tem que ir às urnas no domingo. As pessoas não têm muito o que esperar deles porque estão bem desanimadas — relatou. — Todo mundo baixando a cabeça e trabalhando, nós vamos dar a volta. Não adianta esperar do prefeito ou do governador, cada um fazendo a sua parte, nós vamos conseguir de novo.
Morador do bairro das Indústrias, um dos mais afetados, Waldemir Oliveira, 64, aposentado, e Marli França, 58, dona de casa, saíram de casa e estão alugando outro espaço enquanto reformam a residência, onde a água ultrapassou o telhado. Os dois descrevem o cenário do bairro como um retrato da tristeza. O casal quer que os governantes que tomem medidas em relação ao Rio Taquari, como o desassoreamento, e preparem a cidade para novos eventos climáticos.
— Se não fizerem a limpeza do rio, com qualquer chuva ele vai subir — defende Marli.
Em Lajeado, o cenário era mais agitado, e um número maior de pessoas levava adesivos no peito, indicando suas preferências. No final da tarde, alguns carros e eleitores desfilavam com bandeiras de candidatos pelo centro da cidade. O município tem 64 mil eleitores e três candidatos a prefeito: Sérgio Kniphoff (PT), Gláucia Schumacher (PP) - atual vice-prefeita da cidade, e Carlos Eduardo Ranzi (MDB).
Para Gustavo Fabrim, 36, eletricista, e Katiuce Vieira, 29, auxiliar administrativo, o pleito é atípico: está mais silencioso em comparação a outros anos e tem acontecido pelas redes sociais, sem tantas manifestações nas ruas. Os políticos têm feito muitas promessas, inclusive em relação a problemas causados pela enchente, relata Fabrim:
— As pessoas pedem mudanças, porque se sentiram mais abandonadas. É um cenário bem diferente, alguns estão fazendo campanhas com promessas incríveis. Vão resolver o mundo, vamos asfaltar tudo, dar casas para todas as pessoas. Em um momento de fragilidade, querem apresentar propostas para induzir. A gente sabe que não é assim, o poder público não pode e não consegue resolver todas as coisas.
Cassiani Martins, 28, professora, e Nicolas Feijó, 30, diretor de arte, consideram que há mais do mesmo nas opções e acreditam que a tragédia não influenciará os eleitores da região. O casal escolheu candidatos com propostas que levem isso em consideração, assim como a retomada econômica do povo, para não perpetuar a situação.
— Sabemos que existem muitas pessoas que estão vivendo isso ainda, mas não têm muita voz, ficam em bairros marginalizados, que são esquecidos por Lajeado, é como se eles não existissem. Se a gente anda no Centro, não temos água, no comércio está tudo bem, então está tudo bem em Lajeado, enquanto existem pessoas que ainda estão vivenciando situações da enchente, mas isso não é visível. O que a gente percebeu é que poucos prefeitos falaram sobre isso. Não senti uma proposta real, vamos dar um jeito de resolver, fazer, é tudo “olha como Lajeado é boa e bonita” — relatou Cassiani.
Em Arroio do Meio, uma carreata movimentou a cidade no início da manhã. À tarde, o movimento era tranquilo nas ruas principais, com eventos voltados a crianças e poucas manifestações políticas. A população evitava falar sobre o tema.
Há quatro candidatos no município de quase 17 mil eleitores: Andre Vianini (PL), Danilo Bruxel (PP) - atual prefeito da cidade, Paulo Grassi (PT) e Sidnei Eckert (MDB).
O mecânico Mikael Fritsch, 34, perdeu a casa e a empresa na enchente. Ele avaliou que os políticos estão utilizando a tragédia a seu favor para arrematar votos. Fritsch ressaltou que os eleitores do município “se vendem fácil”, mas acredita que, com o tempo e maior conscientização, o cenário mudará. O amigo Jhonatan Hentges, 33, vendedor, também atingido pela catástrofe, concorda:
— Nosso eleitor tem memória muito curta, só vê agora na finaleira.