Depois de alcançar uma vitória inédita em 2016, ao ser a primeira mulher eleita prefeita de Pelotas, Paula Mascarenhas (PSDB) se consagrou novamente nas urnas neste domingo (29) ao conquistar 68,70% dos votos. O segundo turno confirmou o favoritismo da tucana já bem alicerçado na primeira fase da disputa – quando atingiu 49,74% da votação e não foi recolocada no cargo por uma diferença de 0,26%.
Aos 50 anos, Paula ganhou a oportunidade de governar até 2024 o quarto maior município gaúcho e a principal cidade do sul do Estado.
Pupila do governador Eduardo Leite, de quem foi vice quando o tucano esteve à frente da prefeitura de Pelotas (2013 a 2016), Paula terá seu segundo mandato desafiado por melhorias na educação – todas escolas municipais seguem em ensino remoto –, o desemprego e o trabalho informal agravado pela pandemia e o saneamento básico, um terço do município não tem rede de esgoto. O obstáculo número um, no entanto, é minimizar os efeitos da crise causada pelo coronavírus.
A vitória retumbante de Paula teve uma comemoração discreta, sem pôr em contradição a postura da prefeita reeleita em relação ao combate a pandemia. O agravamento da contaminação fez com que Paula assinasse um decreto – na última quinta-feira (26), a três dias do segundo turno – que proíbe a permanência de pessoas em locais públicos, como praças, parques, praias e calçadões, admitindo apenas a movimentação transitória ou para a prática de atividade física individual ou em dupla.
Junto do governador, do vice Idemar Barz e de poucos apoiadores, acompanhou a apuração na casa de uma amiga no Centro. Mesmo com larga vantagem desde as primeiras parciais, só admitiu a vitória com mais de 90% das seções apuradas. Recebeu a imprensa no Curi Hotel, de onde fez uma live para comemoração da reeleição, lamentou ter feito uma campanha com pouco contato físico e pediu para a população evitar aglomerações:
— Infelizmente, não temos como ter festa. As medidas restritivas exigem que a gente se preserve. Peço às pessoas que fiquem em casa. Precisamos dar exemplo. Não há como pensar em outra ação prioritária que não seja o enfrentamento da pandemia. A preservação da vida e da saúde das pessoas. É nisso que vamos nos concentrar. Associando a isso as medidas de retomada econômica que nos comprometemos a fazer.
Paula prometeu uma zeladoria mais presente, uma atenção especial aos bairros e reconheceu que as melhorias não chegaram a todas as famílias. Também se comprometeu com o desafio de manter a responsabilidade fiscal, sem deixar de executar projetos sociais e de infraestrutura. Disse entender a política como espaço para ouvir ideias diferentes:
— Eu tenho noção do que significa minha responsabilidade num momento como esse. Teremos que enfrentar as consequências desse ano. Eu carrego esse peso com a maior das boas vontades, com toda minha energia.
A tucana chega ao segundo mandato sem ter a maioria na Câmara de Vereadores conquistada em 2016. A prefeita, no entanto, recorda que a vantagem numérica de parlamentares nos primeiros quatro anos não garantiram a aprovação de projetos importantes para o Executivo. Acredita que a desvantagem atual pode ser revertida com diálogo e com o aprendizado do primeiro turno.
Eleita com uma aliança de oito partidos, disse que não fechará porta a nenhuma sigla que tenha compromisso com seu projeto. Reforçou que chega com mais experiência à recondução do cargo, mas com o mesmo entusiasmo que a motivou há quatro anos:
— A campanha eleitoral tem o poder de reinjetar energia necessária para gente enfrentar todos os desafios. Não tenho medo de dificuldades. Ser prefeito sempre foi difícil. Na cidade, toda responsabilidade é do prefeito, mesmo nas ações que nem são de âmbito e organização municipal. O prefeito acaba sendo cobrado. A repartição tributária no Brasil é injusta e concentrada na União. Temos cada vez mais responsabilidade e menos recurso. A tudo isso, esse ano, se somou a pandemia. Prefeito tem que tomar decisões que tem efeito em milhares de pessoas. É um cenário difícil, mas isso reforçou em mim a obrigação de me colocar à disposição da população.
Ao conquistar 105.206 votos – 57,2 mil a mais que seu adversário, Ivan Duarte (PT) –, Paula se credencia como um nome de destaque do PSDB em âmbito estadual, mas, no pronunciamento da vitória, fez questão de afastar qualquer possibilidade de não cumprir os quatro anos de mandatos na prefeitura para tentar um voo mais ousado em 2022. Garantiu que ela e o governador sequer cogitam essa hipótese:
— Eduardo e eu nunca falamos por isso, nem com ninguém do nosso partido. Não está no meu horizonte. Não faço política pensando na próxima eleição. Sou incapaz de fazer isso. A exigência é tanta no momento. Quem calcula os próximos passos, sem olhar para o primeiro que tem que dar, acaba tropeçando. Meu compromisso é com o povo de Pelotas.
Derrotado no segundo turno, com 31,30% dos votos, Ivan Duarte preferiu não se manifestar neste domingo. A assessoria do petista informou que ele irá se pronunciar na segunda-feira (30).