A eleição mais tensa neste segundo turno no Rio Grande do Sul, em Canoas, terminou com a vitória do candidato de oposição, Jairo Jorge (PSD). Ele fez 81,6 mil votos (53,06 % do total de válidos), contra 72.382 mil votos do seu adversário, o atual prefeito Luiz Carlos Busato (PTB), que alcançou 46,94% dos votos válidos.
Jairo Jorge, jornalista de formação e político por vocação (com passagem por três partidos), se firma como um fenômeno eleitoral em Canoas. Em cinco pleitos, venceu três para prefeito da cidade.
Com a vitória, Jairo confirma um favoritismo que já vinha do primeiro turno, quando fez 45,20% dos votos válidos no primeiro turno, contra 34,48% de Busato.
O agora prefeito eleito pretende estender a mão aos adversários e diz que vai trabalhar pela união e pacificação em Canoas.
– É preciso unir a cidade. Não vou olhar para trás. Meu adversário encarou a disputa como uma guerra, mas é apenas uma eleição. Os bons projetos serão mantidos.
A política de segurança atual é sucessora de algo que fizemos antes, não é preciso mudar.
Jairo falou com a imprensa e, em seguida, subiu em um caminhão de som para comemorar com correligionários. Ele brincou que já igualou a marca do ex-prefeito Hugo Simões Lagranha (já falecido):
– Estou até ficando parecido com ele, pelo menos nas orelhas.
Disse que, a exemplo de Lagranha, vai governar para todos. Ele conta com apoio de 12 dos 21 vereadores eleitos e pretende conversar com os demais. Jairo diz que a prioridade é a saúde. Promete reabrir três Unidades de Pronto Atendimento (UPAs).
Jairo fez elogios à segurança pública na cidade e disse que vai continuar o trabalho do seu adversário, Busato, que se inspirava no colega de PTB, o atual secretário estadual de Segurança Pública Ranolfo Vieira Junior:
- Como disse, vamos manter o que está bom. A política de segurança atual é sucessora de algo que fizemos antes, não é preciso mudar.
A etapa final do pleito foi marcada por troca de acusações, ameaças e até disparos em comícios de apoiadores de ambos.
Os dois trocaram tantas alfinetadas durante a campanha que no segundo turno Canoas teve o mais acirrado cenário do Estado. Jairo acusava Busato de ter reprovação de 65% dos canoenses e ser um prefeito ausente. Busato enfatizava que Jairo mencionou 500 obras feitas, mas entregou apenas 30. Os dois culparam um ao outro pela crônica crise hospitalar no município.
Os ânimos ficaram tão quentes que Jairo, que já governou Canoas por duas vezes (de 2008 a 2016), utilizou durante todo o segundo turno colete à prova de balas, assim como seus principais assessores. Ele já tinha feito isso na campanha para 2008.
No pleito seguinte, mais calmo, Jairo desistiu do colete e chegou a anunciar que “os dias de faroeste em Canoas ficaram para trás”. Errou.
Pois agora, passados oito anos, Jairo pediu proteção da Polícia Federal (PF), no qual foi seguido por seu adversário, Busato. A PF avisou que não é sua incumbência escoltar dirigentes municipais, mas ampliou o efetivo em Canoas. Nos comitês dos dois candidatos, visitantes eram revistados e obrigados a abrir mochilas.
Confusões não faltaram no segundo turno. Advogados de Jairo registraram cinco Boletins de Ocorrência criminais contra oponentes. O primeiro é de um ex-adversário no primeiro turno, que apoiou Jairo no segundo turno, que afirma ter recebido mensagens que falam em “encher a casa de tiros”. O segundo, de um apoiador que assegura ter sido convidado para ganhar R$ 20 mil para colocar uma mala de dinheiro dentro de um comitê de campanha de Jairo. O terceiro é de uma apoiadora sua, que diz ter recebido ameaças de um vereador eleito. O quarto e o quinto Boletins de Ocorrência protocolados pela campanha também se referem a apoiadores que teriam sido alvo de ameaças de morte, inclusive disparos de arma de fogo para cima, durante um comício.
A coordenação de campanha de Luiz Carlos Busato negou qualquer envolvimento em ameaças e informou também ter registrado contra os adversários. Um dos casos seria de apoiadores de Busato sofrendo provocações de opositores e sendo desafiados, num episódio que culminou com tiros para o alto.
Busato, aliás, teve de diminuir o ímpeto da campanha no final, por ter sido atingido pela covid-19. O candidato ficou em casa, com dor de cabeça, mas disparando telefonemas e cutucando o adversário. Em entrevistas, fez questão de lembrar malas de dinheiro apreendidas com integrantes da coligação apoiada por Jairo em 2016. Jairo não chegou a ser indiciado, a candidata que ele apoiava foi absolvida, mas o homem das malas de dinheiro foi condenado.
O domingo da eleição, em si, não teve muito tumulto. Cinco eleitores foram detidos por crime eleitoral em Canoas. Quatro prisões foram com materiais da campanha do candidato Jairo Jorge (PSD), distribuindo adesivos em lugares proibidos – a chamada “propaganda de boca de urna”, que é vetada. A quinta prisão foi de um vereador, Paulo Ritter (PT), que tentou interceder em favor de um dos detidos. O parlamentar disse ter sido agredido por um PM e promete processar a Brigada Militar.
A BM também dispersou grupos de eleitores dos dois candidatos que ficavam juntos nas ruas usando adesivos e materiais de campanha. Nestas situações, não foi feita autuação.
Natural de Canoas, Jairo Jorge é jornalista formado pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). Com apenas 22 anos, se candidatou à prefeitura de Canoas pela primeira vez, em 1985. Em 1988, foi eleito vereador.
Anos após, em 2008, tornou-se prefeito da cidade pelo PT, sendo reeleito na disputa eleitoral seguinte com 71,27% dos votos. Além disso, foi secretário-executivo do Ministério da Educação em 2005.