Sob risco de abstenção recorde causada pela pandemia de coronavírus, candidatos e autoridades estão colocando em prática estratégias para mobilizar os eleitores a votar no Rio Grande do Sul em 15 de novembro. O esforço para garantir que a população exerça o direito de escolha por meio de ações de campanha e medidas sanitárias da Justiça Eleitoral já revela resultados: em Porto Alegre, o percentual de pessoas dispostas a se dirigir às urnas apesar do vírus saltou de 72% para 80% em pesquisas Ibope realizadas ao longo de outubro.
Mas o desafio é significativo não somente pelo receio despertado pelo novo vírus: nas últimas duas décadas, os índices de abstenção apresentaram tendência de crescimento acelerado no Estado. Entre as eleições de 2000 e 2018, o percentual de ausentes disparou 63% em razão da perda de interesse de parte da população em participar diretamente do processo.
A combinação entre esse desencanto e o medo de contrair a covid-19 poderia resultar em um comparecimento ainda mais tímido às seções eleitorais na próxima semana. Para o cientista político Rodrigo Stumpf González, isso não faria bem à democracia.
— As abstenções dos últimos anos não chegam a ser graves porque o número de votantes sempre passou de 60%, o suficiente para legitimar o sistema. O problema é que quem não participa não se sente comprometido com os resultados depois, não se sente parte da comunidade política para fiscalizar e cobrar da pessoa em quem votou — observa González, professor da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS).
No Estado, nos últimos 20 anos, o maior índice de ausência em um primeiro turno ocorreu na eleição presidencial de 2018, quando 18% dos eleitores não apareceram. Para atenuar os riscos à saúde, tranquilizar eleitores e mesários e evitar que essa cifra aumente ainda mais, o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) lançou um plano de segurança sanitária elaborado em parceria com especialistas da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) e dos Hospitais Sírio-Libanês e Albert Einstein, de São Paulo.
As medidas incluem desde a oferta de álcool gel nos locais de votação, que terão horário ampliado em uma hora, das 7h às 17h, até a distribuição de milhares de máscaras e escudos faciais para quem for trabalhar nas seções — só no Rio Grande do Sul, serão disponibilizados 633,6 mil equipamentos do tipo aos mesários, alvo de especial atenção das autoridades. Haverá ainda adesivos demarcando o distanciamento mínimo nas filas e rígido protocolo a ser seguido na hora do voto. Quem comparecer sem máscara, não poderá acessar a urna (veja os detalhes no infográfico).
As ações de prevenção reforçam a decisão de jovens como Henrique Soares, 16 anos, morador da Capital, de estrear o título de eleitor no dia 15. Embora, segundo a pesquisa Ibope, a faixa entre 16 e 24 anos seja a menos disposta a comparecer às seções eleitorais na Capital (72% disseram ter certeza de que vão votar), o aluno do Colégio Farroupilha considera fundamental depositar suas crenças na urna eletrônica.
— Quando fiz o título, em janeiro, não tinha ideia de que iria ocorrer essa pandemia. Mas vou votar porque quero contribuir com os meus ideais para o lugar onde cresci e onde eu vivo — sustenta o estudante.
Para que mais pessoas sigam o exemplo de Henrique, o objetivo do TSE, a partir de agora, é disseminar as orientações à população e garantir que todos respeitem as regras. A principal mensagem da Justiça Eleitoral é para que as pessoas permaneçam de máscara desde o momento em que saírem de casa, evitando contatos físicos e cumprindo o dever cívico da forma mais ágil possível, sem permanecer por tempo desnecessário nos locais de votação.
— O cuidado com a saúde é muito importante, e o direito de votar e ajudar a escolher o rumo da sua cidade pelos próximos quatro anos vem logo em seguida. Convocamos os eleitores a participar desse momento relevante para a democracia com muita responsabilidade — disse o presidente do TSE, ministro Luís Roberto Barroso, no lançamento do plano.
Prevenção
Conforme o Tribunal Regional Eleitoral, as 165 zonas eleitorais do RS contarão com
- 503,6 mil máscaras e 129,9 mil escudos faciais para mesários
- 152,5 mil frascos de álcool gel
- 46,9 mil cartazes com orientações
- 109,7 mil adesivos marcadores de distanciamento no piso
Orientações da Justiça Eleitoral
1) Antes de sair, se certifique do local de votação
Verifique com antecedência o seu local de votação (algumas seções eleitorais foram alteradas) para evitar deslocamentos e contatos desnecessários, que ampliem riscos. Essa informação pode ser obtida no aplicativo e-Título (disponível no Google Play e na App Store) na opção “onde votar” ou no portal do TSE (tse.jus.br), clicando em “local de votação”
2) Leve caneta
Além da máscara e do título eleitoral ou do documento com foto, se possível, leve sua própria caneta para assinar o caderno de votação. Outra orientação é não esquecer da cola eleitoral (com os nomes e números dos candidatos de sua preferência) para que a votação seja rápida
3) Evite acompanhantes
A Justiça Eleitoral orienta que, de preferência, o eleitor não leve crianças nem acompanhantes para o local de votação
Dicas para os mesários
- As máscaras descartáveis deverão ser trocadas a cada quatro horas, e o face shield (protetor facial) deverá ser utilizado durante toda a permanência nos locais de votação
- Quando o eleitor exibir o documento, o mesário deverá verificar a distância, sem encostar em nada. Em caso de dúvida, pode pedir para que ele se afaste e abaixe a máscara para confirmar se o documento corresponde à pessoa
- Se o eleitor não levar a própria caneta, será necessário borrifar álcool na caneta de uso comum após o uso de cada pessoa
- Se o mesário precisar sair de sua seção, a cada vez que retornar deverá limpar cadeira e mesa com álcool
Se tiver febre, não vá
- A Justiça Eleitoral fornecerá materiais de segurança para uso dos mesários
- Eleitores ou mesários que estiverem com febre no dia da votação ou que tenham testado positivo para a covid-19 nos 14 dias anteriores à data da eleição deverão ficar em casa
- No caso dos eleitores, será possível justificar a falta por esse motivo
- Já os mesários precisam comunicar imediatamente à sua zona eleitoral para que seja providenciada a substituição