Um grupo de eleitores gaúchos contará com auxílio especializado no pleito do próximo dia 15 de novembro: os surdos poderão realizar chamadas de vídeo com intérpretes de Libras, em um serviço a distância acionado instantes antes do voto, nas sessões eleitorais.
A iniciativa do núcleo socioambiental e de acessibilidade do Tribunal Regional Eleitoral (TRE-RS) tem parceria com uma empresa selecionada a partir de uma concorrência. A autora da proposta de menor custo venceu a tomada de preços.
Serão dois profissionais atuando desde o início da votação, em turnos intercalados, manhã e tarde. A chamada será efetuada pelo chefe de sessão, mesários ou até mesmo pelo administrador do prédio - os locais de votação pertencem a entidades privadas ou ao poder público, e são cedidas gratuitamente ao TRE para realização da eleição.
O telefone para contato com a Central de Libras, que realiza a conexão do eleitor com necessidade de atenção especial, é o 51 99511-0746. A coordenadora do núcleo de acessibilidade, Magda Stoll Andrade, reforça que esse número é específico para o serviço de Libras. Demais dúvidas, como local de sessão ou votação, serão sanadas no SOS Eleitor: 148.
A quantidade de intérpretes é tida como suficiente, em uma análise inicial.
- É algo realizado primeira vez. Se necessário, saberemos como melhor atuar nas próximas. Tomara que tenhamos muita procura e possamos ajudar – avalia a coordenadora.
O uso de máscara facial, obrigatória nos locais que receberão o público, impede a leitura labial, o que também foi levado em conta para a decisão de contratar o serviço dos tradutores. O método é utilizado nos casos em que a comunicação pela Língua Brasileira de Sinais (Libras) não é possível.
O auxiliar administrativo William Dornelles, 30 anos, conversou com a reportagem de GZH a partir de uma chamada de vídeo. A comunicação foi feita pela intérprete Ana Beatriz Seitz Pacheco, que atua com Libras há 22 anos. Dornelles celebra poder se comunicar na sua primeira língua, fato exaltado por associações de apoio aos surdos.
- É uma ideia importante, pois assim nós, surdos, temos representatividade. E como cidadão, ajuda a exercer o direito de voto – avalia.
A presidente da Associação de Crianças e Adolescentes Surdos do RS (ACAS), Carla Brum, também elogia o projeto, mas faz um pedido: que a ideia seja implementada em outros órgãos públicos. Ela reitera que inúmeros meios excluem os surdos, ao incluir um intérprete somente quando a lei exige.
- Se um surdo vai na delegacia ou no posto de saúde, ele não é atendido na sua primeira língua, a Libras. Isso tem que ser respeitado. Se é possível para votar, é possível acreditar que possamos incluir a comunidade surda nos outros órgãos públicos - afirma.
De acordo com dados do TRE, o Rio Grande do Sul possui 3.187 eleitores cadastrados como surdos. Em Porto Alegre, são apenas 250. Os números se mostram distantes do total de pessoas com essa condição. O Censo do IBGE, realizado em 2010, estimou que há 617 mil gaúchos com alguma deficiência auditiva – 62 mil na Capital.
A avaliação do setor de acessibilidade do tribunal é de que são poucos os eleitores que informam sua condição ao cartório. Os dados atualizados ajudam nas políticas de programas para o setor, o que reforça a necessidade de informação.
O Estado tem 8.328 locais de votação.