O candidato do PT à Presidência, Fernando Haddad,foi entrevistado pela rádio CBN no fim da tarde desta quinta-feira (11). Durante cerca de 30 minutos, após Jair Bolsonaro (PSL) conversar com a emissora, o postulante ao Planalto pelo PT foi sabatinado sobre temas como fake news, ingerência de Lula no governo, reforma da Previdência, economia e a participação de Bolsonaro nos debates.
Na sua entrevista, o presidenciável do PSL declarou que pode, estrategicamente, faltar a todos os encontros com Haddad nas emissoras de televisão. O ex-prefeito de São Paulo declarou que acredita nessa possibilidade.
— Eu não acredito que ele vá participar de debate. Porque, efetivamente, ele não tem um plano para o país. Ele só promove a violência, quer armar a população, acha que tudo se resolve à bala. Acho que dificilmente ele vá participar de um confronto direto. Agora, como que pode participar de entrevista, que é um debate, e não de debate presidencial? Apesar de ser leigo em medicina, não entendo o argumento — afirmou o candidato.
A entrevista abriu com os apresentadores questionando como ele pretende "virar o jogo" na campanha eleitoral, já que a pesquisa Datafolha divulgada nessa quarta-feira mostra Bolsonaro com 58% das intenções de voto — 16 pontos à frente de Haddad.
— Quando fui lançado como candidato, tinha 4% das intenções. Vou trabalhar para desarmar o que, na minha opinião, é uma bomba relógio para esse país — declarou o ex-ministro da educação.
Violência na campanha
Outro tema abordado pelos entrevistadores foi a agressão de apoiadores do candidato do PSL a eleitores petistas - uma delas, na Bahia, resultou na morte do mestre de capoeira Romualdo Rosário da Costa, o Moa do Katendê, de 63 anos.
— Ele não expressou sentimento de pesar. Isso é grave. Não é um militante qualquer, é uma pessoa que pretende ser chefe do Executivo. Ele não se controla e, ao não se controlar, não controla mais ninguém. A violência tem a ver com o discurso de ódio, que não é de hoje — lamentou Haddad, complementando que, para pacificar o eleitorado é preciso "gestos contrários" ao do adversário.
— Enquanto ele promove a violência, eu vou à Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB). Sou professor, minha arma é o argumento — declarou.
Informações falsas
As fake news também entraram na discussão. O postulante foi confrontado por seu partido não ter assinado um termo com o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) para evitar a disseminação de informações falsas e aproveitou a deixa para atacar Bolsonaro.
— Não saiu da minha boca algo sobre ele que não fosse verdade. Até Marine Le Pen, presidente da França, que é da extrema-direita, falou que Bolsonaro é inapropriado. Logo depois, a ligação caiu duas vezes — o bate-papo foi feito por telefone —, e Haddad brincou que era resultado de "privatizações mal feitas" .
Haddad lembrou, ainda, episódio no qual Bolsonaro levou um livro ao Jornal Nacional dizendo que fazia parte de um "kit gay" e foi desmentido pela imprensa.
— Nem desculpas ele pediu — disse o ex-prefeito de São Paulo.
Influência de Lula no governo
Sobre a sombra do ex-presidente Lula em um eventual governo, Haddad rebateu.
— Eu converso com todo mundo político, ao contrário do Bolsonaro, que quer matar quem pensa diferente. Lula foi o melhor presidente do Brasil. Queremos julgamento justo para ele, só isso.
Entre as conversas, Haddad admitiu que falou com Joaquim Barbosa, ex-presidente do STF e responsável por condenar ex-dirigentes do PT no processo do Mensalão, como José Dirceu e José Genoino.
— Ele pretende se manter reservado na vida privada, mas quer ajudar o Brasil — declarou. Barbosa é filiado ao PSB, que declarou apoio a Haddad.
Economia
Quando questionado sobre seus planos para economia e a probabilidade de repetir erros de outros governos do PT, o ex-prefeito de São Paulo afirmou que reconhece as falhas do passado, cometidas por sua sigla, e tem projetos para desonerar quem ganha até cinco salários mínimos.
— Não quero banqueiro no Ministério da Fazenda. Paulo Guedes (escolha de Bolsonaro para a pasta) especulou a vida inteira. Ele sabe de juros, não de gerar emprego — destacou Haddad.
Ao abordar privatizações, disse que estatais como Petrobras, Banco do Brasil e Correios são estratégicas e não podem ser vendidas, caminho inverso do que pretendido pelo adversário político.
— Desonra a tradição militar, que é nacionalista e não entreguista.
Quando perguntado sobre a reforma da Previdência, afirmou que tem de discutir alternativas com prefeitos e governadores, além de cortar privilégios.
— Temos de criar um sistema de Previdência único.
Ao ser indagado por que se considera mais preparado do que Bolsonaro para assumir o cargo mais alto da nação, disparou:
— Fui dos principais ministros da Educação, com reconhecimento. Tenho um legado de ampliação de oportunidades e uma formação que permitiu servir ao país. Quero livro e carteira de trabalho, o outro, faca e bala.