Em cenário eleitoral marcado pelo vasto número de concorrentes e pela imprevisibilidade sobre quem sairá vencedor das urnas, o caminho do próximo governador do Estado até o Piratini e do novo presidente da República até o Planalto pode passar pelo campo. Responsável por tirar tanto o Rio Grande do Sul quanto o Brasil da recessão no ano passado, a agropecuária terá papel chave nas eleições de 2018. Sabendo disso, políticos têm procurado fazer acenos ao setor, de olho no apoio dos produtores.
Durante a Expointer, candidatos apostam no corpo a corpo para escutar as demandas do segmento e angariar votos. Entre os presidenciáveis, Geraldo Alckmin (PSDB) foi o primeiro a percorrer o Parque de Exposições Assis Brasil, nesta terça-feira. Na quarta, é aguardada a visita de Jair Bolsonaro (PSL). Até o final da semana, Ciro Gomes (PDT) e Henrique Meirelles (MDB) também devem passar por Esteio.
Não é à toa que o setor tem sido um dos focos dos candidatos. Se o Produto Interno Bruto (PIB) do Brasil cresceu 1% em 2017, após dois anos de retração, foi porque o setor primário teve expansão em ritmo chinês, de 13%, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Situação semelhante se verificou no Rio Grande do Sul. O PIB do Estado subiu 1% no ano passado, depois de três temporadas consecutivas de queda. O resultado se deve, principalmente, pela alta de 11,4% na atividade rural, de acordo com a Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas (Fipe).
Atualmente, a fatia da agropecuária no PIB brasileiro é de R$ 299,5 bilhões, representando 4,5% do total, conforme o IBGE. Porém, com o impacto nos demais segmentos, como a indústria e o comércio, a participação do agronegócio na economia se eleva substancialmente. Além disso, boa parte da pauta de exportação brasileira está vinculada aos produtos agrícolas.
— 40% do PIB gaúcho e 23% do brasileiro estão ligados ao agronegócio. A agricultura movimenta muito mais coisas do que ela própria. Por isso, quando uma safra vai bem, a indústria e o comércio também vão bem — resume Antônio da Luz, economista-chefe da Federação da Agricultura do Rio Grande do Sul (Farsul).
Entre dirigentes de entidades do setor, paira a sensação de que o "voto rural" pode ser decisivo.
— Esse meio deve ter peso político, sim. Já decidimos eleições no Rio Grande do Sul no passado.
E, agora, podemos ser decisivos de novo _ diz Carlos Joel da Silva, presidente da Federação dos Trabalhadores na Agricultura do Rio Grande do Sul (Fetag-RS).
Silva lembra que existem 380 mil propriedades familiares no Estado, totalizando contingente de 1,5 milhão de pessoas, entre produtores e funcionários. Por isso, a Fetag chegou a lançar campanha estimulando o voto dos agricultores nestas eleições. Durante a Expointer, a entidade tem distribuído panfletos contra os votos nulos e em branco e vem destacando a importância de se escolher representantes que priorizem políticas para o setor primário.
Vices com trajetória ligada ao agronegócio
Ciro e Alckmin apostaram na escolha de vices com trajetórias ligadas ao setor, casos das senadoras Kátia Abreu (PDT) e Ana Amélia Lemos (PP). Em âmbito estadual, José Ivo Sartori (MDB) concorre à reeleição ao lado de José Paulo Cairoli (PSD), empresário com negócios no setor primário, e Jairo Jorge (PDT) tem como candidato a vice o ex-presidente do Sindicato das Indústrias de Máquinas e Implementos Agrícolas no RS (Simers) Cláudio Bier (PV).
— Vejo como algo positivo (ter um vice ligado ao agronegócio), mas não acredito que seja determinante para ganhar a eleição. É apenas um bom sinalizador — diz Eduardo Finco, vice-presidente da Federação Brasileira das Associações de Criadores de Animais de Raça (Febrac).
De acordo com Finco, a preferência dos produtores está mais fragmentada do que nos pleitos anteriores, em especial na disputa pelo Planalto. Apesar de não citar nomes de candidatos, ele reconhece que parte expressiva do setor demonstra mais simpatia pelas candidaturas à direita.
Independentemente do matiz ideológico dos eleitos, o presidente da Federação das Cooperativas Agropecuárias do Rio Grande do Sul, Paulo Pires, considera "inconcebível" um governo que não dialogue com o campo.
— Há diversos pontos de vista no setor agropecuário, mas existe, sim, um voto de protesto, de varrer o que está aí. Com isso, talvez haja candidatos que surjam com força — descreve.
No Estado, atualmente, existem 128 cooperativas agropecuárias, que somam 333 mil associados. Ao todo, esses negócios geram 35 mil empregos diretos e movimentaram R$ 26,6 bilhões no ano passado.
Presidenciáveis que confirmaram presença na Expointer
Terça-feira — Geraldo Alckmin
Quarta-feira, às 15h — Jair Bolsonaro
Quarta-feira (horário a definir) — Henrique Meirelles
Sexta-feira (horário a definir) — Ciro Gomes