Diante de uma plateia formada por empresários e estudantes, pré-candidatos à Presidência cometeram imprecisões em seus discursos no Fórum da Liberdade. A 31º edição do evento anual, mais antiga trincheira de divulgação dos valores liberais no país, ocorreu nos dias 9 e 10 de abril, em Porto Alegre, no Rio Grande do Sul.
Durante mais de duas horas e meia, o debate reuniu Ciro Gomes (PDT), Flávio Rocha (PRB), Geraldo Alckmin (PSDB), Henrique Meirelles (PMDB), João Amoêdo (Novo) e Marina Silva (Rede). Foram selecionadas declarações dos políticos para conferir o grau de precisão das informações mencionadas.
Veja os erros e acertos dos presidenciáveis brasileiros:
Ciro Gomes (PDT)
"Somo 38 anos de vida pública no Brasil. Nunca respondi a um inquérito, nem sequer para ser absolvido."
NÃO PROCEDE
Ciro é alvo de uma ação do Ministério Público Federal (MPF) por improbidade administrativa referente ao período em que atuou como secretário de Saúde do Ceará. O inquérito investiga supostas irregularidades na contratação de uma empresa sem licitação e médicos não habilitados para o Serviço de Atendimento Médico de Urgência (Samu). No ano passado, o MPF também instaurou uma ação civil por improbidade administrativa que envolve a sua passagem pelo Ministério da Integração Nacional no governo Luiz Inácio Lula da Silva. As suspeitas envolvem um contrato com a Odebrecht para obras contra a seca em Alagoas. Segundo o MPF, aditivos contratuais teriam causado prejuízo de R$ 450 milhões aos cofres públicos.
Flávio Rocha (PRB)
"Em 98% dos assaltos à mão armada e 92% dos homicídios, sequer são identificados os autores."
NÃO É BEM ASSIM
Há estimativas que buscam dimensionar a impunidade no país. Pela projeção do coordenador da pesquisa Mapas da Violência 2011, Julio Jacobo Waiselfisz, por exemplo, somente oito em cada cem homicídios no Brasil são investigados. Entretanto, nenhum registro público confirma o cálculo. A carência de consistência nos dados torna-se clara a partir do estudo inédito “Onde mora a impunidade?”, do instituto Sou da Paz, publicado em novembro de 2017. A entidade solicitou às unidades da federação o número de casos de assassinatos investigados e solucionados, mas somente seis Estados conseguiram calcular o índice. Os demais disseram não ter a informação.
Geraldo Alckmin (PSDB)
"Por que alguém da iniciativa privada só pode ganhar R$ 5 mil de aposentadoria – e a média pega pelo INSS, em 2016, foi de R$ 1.391 –, enquanto no setor público tem salário de mais de R$ 40 mil?"
VERDADEIRO
De acordo com o Boletim Estatístico da Previdência Social, o teto da aposentadoria do INSS foi de R$ 5.189,82 em 2016. No período, o valor médio pago foi de R$ 1.305,41, número aproximado ao mencionado por Alckmin. O ex-governador também acertou ao discorrer sobre os salários públicos. Mesmo com o teto constitucional de R$ 33.763 mil, milhares de contracheques do funcionalismo ultrapassam o montante devido aos penduricalhos. Um exemplo está no auxílio-moradia de R$ 4.377,73 pago mensalmente a juízes e promotores. Classificada como verba indenizatória, destinada a ressarcir despesas em serviço, permite vencimentos superiores ao teto.
Henrique Meirelles (PMDB)
"O Brasil vivia, há dois anos, uma situação em que o Produto (Interno Bruto, o PIB) tinha caído mais de 5% em um ano. A maior crise que o Brasil passou, maior inclusive do que a recessão de 1929."
NÃO É BEM ASSIM
Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o PIB brasileiro recuou 5,2% na taxa acumulada em 12 meses até março de 2016. Porém, mesmo diante do grave cenário econômico, é impossível compará-lo ao de 1929. Naquele período, não havia dados sobre PIB – sua fórmula de cálculo foi criada somente em 1937. Portanto, pela base de informações disponíveis, o correto seria afirmar que o Brasil enfrentou recentemente a pior crise desde que o PIB começou a ser medido, sendo insustentável confrontá-la à de 1929.
João Amoêdo (Novo)
"Chega de enganar a população e dizer que uma reforma da Previdência não é necessária e que não tem déficit. Tem déficit sim e foi de R$ 268 bilhões no último ano."
VERDADEIRO
De acordo com relatório divulgado pela Secretaria da Previdência, ligada ao Ministério da Fazenda, em 22 de janeiro de 2018, o rombo nas aposentadorias somou R$ 268,8 bilhões em 2017. O cálculo considera os beneficiados do Instituto Nacional do Seguro Social (INSS), com saldo negativo de R$ 182,450 bilhões, e os servidores aposentados da União, com déficit de R$ 86,348.
Marina Silva (Rede)
"O Bolsa Família representa 0,5% do PIB. Mas o ‘bolsa empresário’, dos campeões nacionais, custa 5% do PIB."
VERDADEIRO
Em 2017, o orçamento da União estabeleceu despesa de R$ 29,8 bilhões para o Bolsa Família, incluindo distribuição de renda e outras ações do programa. O montante representa pouco mais de 0,4% do PIB brasileiro. Já o ‘bolsa empresário’ – apelido informal dado a programas federais, como subsídio de crédito a empresas e renúncia de recursos devido a incentivos fiscais – custa bem mais aos cofres públicos. O estudo “Um Ajuste Justo”, divulgado pelo Banco Mundial em novembro do ano passado, mostrou que esses programas consomem, anualmente, 4,5% de todas as riquezas produzidas pelo país.
Critérios de classificação:
É verdade
A informação está correta e corresponde a dados e estatísticas oficiais.
Não é bem assim
Parte da sentença está correta, mas há imprecisão no que é dito.
Não procede
O interlocutor está equivocado na informação que afirma.