Com 1.715 filiados no Rio Grande do Sul, o Partido Ecológico Nacional (PEN) está em ebulição. A iminente chegada de Jair Bolsonaro (PSC-RJ) à legenda pela qual pretende disputar a Presidência gerou uma rede de intrigas no comando do diretório estadual, com grupos disputando a primazia de representar em solo gaúcho o polêmico deputado.
As brigas começaram em setembro, quando Bolsonaro designou o advogado carioca Bernardo Santoro para remodelar o PEN em todo o país. Egresso do PSC, ligado ao Movimento Brasil Livre (MBL) e ex-presidente do Instituto Liberal, entidade vinculada ao economista Rodrigo Constantino, Santoro assumiu a secretaria-geral do PEN, encarregado de dar à sigla as feições ideológicas de Bolsonaro. Rebatizado de Patriota – a mudança de nome ainda depende da Justiça Eleitoral –, o partido teve o estatuto reformado, perdendo as teses ambientais que justificavam o antigo nome e assumindo tendência liberal na economia e ultraconservadora nos costumes.
Mal tomou posse, Santoro avisou ao então presidente do PEN no Estado, Luis Afonso Teixeira, que iria destituí-lo. Teixeira foi orientado a procurar em Porto Alegre seu sucessor, Caio Flávio Quadros dos Santos. Ex-presidente do PSDC e do PSL, Caio Flávio é diretor-técnico da Companhia Riograndense de Mineração (CRM), cargo obtido após apoiar a candidatura de José Ivo Sartori em 2014. Indignado, Teixeira não obedeceu e no início de novembro Santoro interveio, destituindo a executiva estadual.
O próprio Santoro assumiu a presidência e nomeou Caio Flávio secretário-geral, dissolvendo ainda todos os diretórios municipais. Desde então, o novo presidente desembarca em Porto Alegre toda semana para sabatinar pessoalmente os candidatos à burocracia partidária. Só é aceito quem demonstrar comprometimento total com a candidatura de Bolsonaro e lealdade ao seu ideário: combate ao desarmamento, à ideologia de gênero e à legalização do aborto e das drogas, bem como defesa da redução da maioridade penal e da escola sem partido.
A intervenção de Santoro causou descontentamentos. Teixeira reclama ter sido escanteado após criar e expandir o partido, passando de sete diretórios em março para 116 em outubro, com outros 155 em constituição. No Tribunal Superior Eleitoral (TSE), há 24 diretórios formalizados.
O time estava ganhando, mas preferiram mudar. Não me deram satisfação nenhuma.
LUIS AFONSO TEIXEIRA
presidente destituído do diretório estadual do PEN, futuro Patriota
— O time estava ganhando, mas preferiram mudar. Não me deram satisfação nenhuma. Tínhamos 5 mil pessoas para filiar, mas eles bloquearam a senha de acesso ao sistema do TSE. Junto comigo, saíram umas 500 pessoas – reclama o ex-presidente.
Indignado com a exclusão, Teixeira pediu socorro ao deputado federal Onyx Lorenzoni (DEM-RS). Entusiasta da candidatura de Bolsonaro, Onyx já havia sido convidado a ingressar no PEN, presidir o diretório e concorrer a governador. O parlamentar declinou, embora circulem rumores nos bastidores de que teria tentado influir na sucessão, interferência negada por Santoro e pelo próprio Onyx.
— Jamais indiquei alguém ao PEN. Não tenho nada a ver com essa briga deles. Mas Bolsonaro sabe que qualquer coisa que precisar, vou ajudar — diz Onyx.
A prioridade é eleger Bolsonaro. (...) Se alguém está saindo é porque não está no espírito do partido.
BERNARDO SANTORO
novo presidente do diretório estadual do PEN, futuro Patriota
Santoro ignora as queixas de Teixeira. O advogado sustenta que precisa adequar o partido à visão de Bolsonaro, cuja filiação ao PEN está prevista para março. Ele fica na presidência até 6 de abril, último dia para migrações partidárias de quem quiser concorrer em 2018. A partir daí, Caio Flávio deve assumir a direção estadual.
— A prioridade é eleger Bolsonaro. Estamos recebendo muita gente e abertos a todo cidadão de bem que queira defender nossos valores. Se alguém está saindo é porque não está no espírito do partido — minimiza Santoro.
Piratini motiva embate
A disputa pelo comando do PEN não se restringe ao diretório estadual. De políticos experientes a amadores com pretensões eleitorais, quase todos na órbita do partido tentam surfar na popularidade de Jair Bolsonaro.
— O Bolsonaro é a corrida do ouro. Todo mundo quer tirar uma lasquinha — comenta um atento observador dos bastidores do partido.
Há duas semanas, uma reunião do PEN foi interrompida em Porto Alegre pelo comunicador Bibo Nunes, a quem havia sido oferecida a presidência da executiva municipal. A ira de Bibo era direcionada a Bebeto Hiass, ex-secretário-geral do PSDB e próximo ao deputado Onyx Lorenzoni (DEM), cuja pré-candidatura ao Piratini tem apoio irrestrito no PEN.
— Estavam me dando uma rasteira. Traição, queriam me trair. Mas fui lá e derrubei todos os que queriam me derrubar. Já tinham até sentado na minha cadeira — afirma Bibo, que já passou por PDT, PMDB, PSD e PSDB.
Ao chegar à reunião, Bibo conversou reservadamente com Bernardo Santoro, presidente estadual do partido.
O dirigente apaziguou a situação e confirmou a nomeação do jornalista ao cargo, embora ele nem sequer seja filiado ao PEN. O convite a Bibo faz parte de uma estratégia do partido de atrair comunicadores populares. Já houve conversas com José Luiz Datena, Ratinho e o catarinense Luiz Carlos Prates.
Bibo não confirma pretensões eleitorais para 2018, mas trabalha para evitar a candidatura ao governo do Estado do agente penitenciário Alexandre Bobadra. Desde maio, Bobadra percorre a Região Metropolitana e o Interior se apresentando como pré-candidato ao Piratini. Dizendo-se amigo de Eduardo Bolsonaro (PSC-SP), deputado federal e filho do pré-candidato à Presidência, afirma que foi escolhido pelo próprio Jair Bolsonaro.
— Tenho candidatura abonada pelo Jair, pelo Eduardo e pelo Santoro. Ninguém nunca questionou — diz Bobadra.
— O partido não tem candidato. Bobadra não existe, é um aventureiro, um corpo estranho que ninguém reconhece. Cada um tem que saber qual é o seu tamanho — rebate Bibo, para em seguida afirmar que "não tem ninguém no PEN mais experiente" do que ele e que tem "aceitação popular impressionante".
Santoro também afirma que o PEN não tem candidato ao Piratini e que a pretensão de Bobadra é "um projeto pessoal". Essa opção só será discutida internamente caso a candidatura de Onyx não se confirme. Ele também minimiza a disputa entre Bibo e Hiass.
— É mimimi, fofoquinha que tem em tudo que é lugar. Não houve nada, o partido está unido. É melhor "Jair" se acostumando — disse, usando bordão repetido pelos seguidores de Bolsonaro.