Bento Gonçalves, Pinhal da Serra e São Francisco de Paula se destacaram nessas eleições ao elegerem vereadoras mulheres depois de anos. Em Bento, quem conseguiu uma cadeira, após duas legislaturas sem nenhuma representatividade feminina na Câmara, foi a ativista da causa animal Letícia Bonassina (PL). No entanto, para advogada e professora da UCS em Bento Gonçalves Melissa Demari, mesmo com esse fato ocorrido, isso não pode ser considerado uma evolução no cenário político local.
— Eu não considero que tenha ocorrido nenhuma mudança no cenário. Até porque ao longo da história de Bento, tivemos sete vereadoras e agora a gente elegeu uma oitava. A Letícia tem uma peculiaridade que eu acho que é o que foi determinante para que ela fosse eleita, que foi o fato dela ser uma ativista da causa animal da cidade há anos. Enfim, acho que é uma gotinha no oceano, isso de modo nenhum representa qualquer tipo de avanço, tenho a impressão de que foi um percalço, não foi algo direcionado, pois ela não se elegeu porque ela era uma mulher, ela não se elegeu em cima da pauta dos direitos das mulheres, ela se elegeu em cima da pauta dos direitos dos animais que se utiliza, infelizmente, muito mais do que a pauta dos direitos das mulheres — explicou Melissa.
Já Pinhal da Serra e São Francisco de Paula, depois de três legislaturas sem vereadoras mulheres, conseguiram eleger agora, respectivamente, quatro e três vereadoras. Melissa entende que, nesses casos pode se considerar, sim, um avanço.
— Inicialmente, penso que, nas duas cidades, pode ter sido decorrente da cota de gênero. Claro que ela só exige que sejam lançadas candidaturas de mulheres e ainda acho que ela é insuficiente, porque não há investimento efetivo dos partidos, mas acho que houve uma maior visibilidade às pautas dos direitos das mulheres. Acredito que, com essas eleições, a gente começa, de algum modo, a formular esse sentimento de que as mulheres precisam ocupar mais espaço, mas ainda é bastante incipiente. Eu coloco na conta de que, nós mulheres, não temos tempo de cuidarmos do espaço público porque estamos mergulhadas no cuidado com o nosso universo privado, que por vezes, é invisibilizado, não remunerado, desqualificado — colocou Melissa.
— Pensando nesses municípios menores, como Pinhal da Serra, a gente pensa no tamanho da casa legislativa da cidade e vê que quatro mulheres tem muita diferença, tem um impacto muito grande. E eu acho que o fundamental é seguir trabalhando, enquanto sociedade civil, nesse esclarecimento, nesse fortalecimento das representatividades femininas, mostrar como é importante que diferentes mulheres de diferentes espectros políticos sejam de fato incluídas nos espaços de poder — entende a cientista social Aline.