Que o clima está cada vez mais diferente, não há dúvidas. Temperaturas elevadas em locais que costumavam conviver com graus negativos e vice-versa, chuvas intensas ou secas que já duram meses. Tudo em um único país, tudo em um único planeta. Porém, os cientistas afirmam que não vamos conseguir destruir a Terra, mas sim a nossa existência.
As mudanças climáticas são um sinal de alerta que já vem sendo disparado há anos, no entanto, quase nunca é tratado como prioridade. As causas desse problema são a queima de combustíveis fósseis — como carvão, petróleo e gás — que geram emissões de gases de efeito-estufa, que agem como um grande cobertor em torno da Terra, retendo o calor do sol e aumentando as temperaturas. Além disso, o desmatamento de terras e florestas também contribuem para o clima piorar.
O Rio Grande do Sul foi um dos Estados que sentiu gravemente as consequências destas mudanças, incluindo Caxias do Sul. Mesmo que na cidade não tenha ocorrido uma enchente, os deslizamentos de terra tiraram a vida de moradores do interior, além de destruírem a usina de asfalto da Codeca e causarem transtornos como o rompimento de uma das adutoras do Samae. Cinco meses após famílias perderem suas casas, ainda há incerteza sobre o futuro. Será possível continuar residindo nesses locais? Se não, o que é necessário fazer? Que mudanças ainda podem causar algum efeito?
O Pioneiro conversou com especialistas no assunto para entender quais devem ser as prioridades da próxima gestão municipal para mitigar os impactos das próximas ações da natureza — dado que a tendência é que as tragédias sejam mais constantes — e também ouviu os quatro candidatos à prefeitura sobre suas diretrizes e prioridades.
O que dizem os especialistas
Para o diretor do Instituto de Saneamento Ambiental da UCS e doutor em Recursos Hídricos e Saneamento Ambiental, Juliano Gimenez, o poder público precisa investir em três modelos de cidades: cidades resilientes, sustentáveis e inteligentes.
— É o trio, nós temos que ser capazes de enxergar esses elementos como algo uníssono. Temos que preparar as nossas cidades com sistemas de proteção, de alerta, de melhor vínculo comunitário, por exemplo, explicar como funcionam os sistemas de saneamento nos bairros, de onde vem a água, para onde vai o esgoto, o que acontece com o resíduo sólido. Isso também é um ato político, e as gestões políticas não podem se melindrar. Cada um de nós precisa estar preparado para fazer o que é possível dentro da nossa dimensão — explica.
Juliano ressalta a importância das cidades-esponja e de ensinar a cultura do risco, mas sem criar pânico, para a população estar preparada.
— Quando a gente olha, por exemplo, situações no Japão, eles têm essa cultura, uma condição normal de entender que aquilo pode se repetir, então são treinados, capacitados para como suportar aquele momento. Então, nós precisamos preparar as nossas cidades para melhor absorver, reter e deter os próximos acontecimentos, que não sabemos quando e onde exatamente. E aí vem um conceito, muito falado no momento, que é o de prepararmos as nossas cidades para serem cidades-esponja (com uso de piscinões, por exemplo) — comenta.
Para a mestre em Engenharia Ambiental, doutora em Turismo e Hospitalidade, bióloga e professora do Centro Universitário da Serra Gaúcha, Raquel Finkler, a questão das mudanças climáticas pode ser trabalhada incentivando a educação ambiental, principalmente explicando o motivo delas.
— É sempre necessário realizar uma sensibilização da população para que ela perceba o seu papel como um agente que pode transformar o meio e melhorar as condições ambientais, mostrando o seu papel como colaboradora de iniciativas que possam reduzir esses impactos das mudanças climáticas. Além disso, é explicar quais são as causas da mudança climática, que estão relacionadas à emissão de gases com efeito-estufa, esclarecendo quais são esses gases e como que eles são gerados — destacou.
Raquel também salientou como o poder público pode ajudar, incentivando o uso de energias mais sustentáveis, além de adequar o planejamento urbano para as possíveis mudanças climáticas, como chuvas intensas.
— Em termos gerais, é importante ter uma visão plena da cidade, onde os fatores estão inter-relacionados, como o estímulo à adoção de energias sustentáveis, a gestão ampla e adequada dos seus resíduos, priorizando sempre uma economia circular e uma visão também com relação ao planejamento urbano, incentivando edificações sustentáveis, áreas verdes, que são alternativas de melhoria da qualidade ambiental da cidade.
O que dizem os candidatos
Adiló Didomenico (PSDB)
“Caxias enfrentou muito bem os recentes eventos climáticos, com boa capacidade de resposta e coordenação. Os tanques de contenção de água da chuva, os públicos e os de construções com mais de 500 m² de área impermeabilizada, que passaram a ser obrigatórios desde quando fui secretário de Obras, fizeram a diferença. Porém, precisamos avançar no preparo para futuros desafios. Fortaleceremos nossas infraestruturas críticas, aprimorando sistemas de alerta. Implementaremos o Plano Diretor de Drenagem prevenindo alagamentos e para melhorar a gestão das águas em áreas críticas, para que a cidade continue protegida. Estamos fortalecendo a Comissão de Mudanças Climáticas e vamos instituir o Plano de Ação Climática, previsto no financiamento da CAF (Corporação Andina de Fomento). Utilizaremos o diagnóstico de resiliência feito pela UCS. Na agricultura, teremos workshops de orientação no Horti Serra e vamos desenvolver o Projeto Antigranizo, para proteger as plantações contra danos.”
Denise Pessôa (PT)
"As mudanças climáticas impactam cada vez mais nossas vidas e, como prefeita, agirei com rapidez e responsabilidade. Vamos acelerar o Plano de Ação Climática, para Caxias estar preparada em casos de eventos climáticos extremos. Implantaremos políticas para uma cidade-esponja, com detenção e retenção das águas da chuva e ampliação das áreas permeáveis. Buscaremos alternativas de bioeconomia, economia circular, compostagem e biodigestão, tornando resíduos uma fonte de recursos em escala comercial. Aumentaremos o índice de reciclagem para evitar ao máximo desperdiçar o potencial energético, e fortaleceremos a cadeia produtiva de reciclagem. Nossa gestão articulará ações com prefeituras da Serra, priorizando a prevenção regional no enfrentamento de problemas comuns, como a destinação de resíduos sólidos, mobilidade, proteção contra deslizamentos, enchentes, inundações e alagamentos. Caxias será um exemplo de gestão climática, alinhando desenvolvimento urbano à proteção ambiental."
Felipe Gremelmaier (MDB)
"As recentes tragédias causadas por eventos climáticos exigem ações inovadoras e mais eficientes do poder público. Caxias do Sul precisa evoluir muito nesse quesito. Meu governo investirá em uma estação meteorológica moderna, capaz de prever mau tempo com mais antecedência e gerar alerta em tempo hábil às autoridades e à população. Qualificaremos e ampliaremos a Defesa Civil, promovendo ações educativas, como simulação de desastres para a comunidade saber como agir em situações de emergência. Realizaremos o plantio de vegetação nativa em encostas e margens de rios para prevenir a erosão do solo e o assoreamento dos cursos d'água. Ampliaremos mapeamento de áreas de risco, evitando moradias nesses pontos, e projetaremos remoção de famílias para moradias em lugares seguros. Para evitar alagamentos, investiremos em "cidade-esponja". Entre as ações previstas, destaco construção de tanques para receberem água da chuva em parques e praças, mais piscinões e jardins-esponja em terrenos e prédios públicos."
Maurício Scalco (PL)
"Caxias do Sul, em constante crescimento, enfrenta desafios significativos relacionados às mudanças climáticas, que exigem ações concretas da administração municipal. É fundamental investir na criação e revitalização de espaços verdes, como parques e áreas de lazer, além de um ambicioso projeto de arborização pela cidade. Também é crucial promover energias renováveis, adaptando espaços e prédios públicos para a instalação de placas solares. A educação ambiental deve ser uma prioridade nas escolas e comunidades, enquanto o planejamento urbano deve considerar a resiliência climática, identificando áreas vulneráveis e implementando medidas de adaptação. Com essas ações, a municipalidade não apenas enfrentará os desafios climáticos, mas também construirá um futuro mais sustentável e saudável para todos os cidadãos. A colaboração de entidades e a criação de espaços de diálogo entre a administração, especialistas e a comunidade serão essenciais para garantir que as vozes dos caxienses sejam ouvidas e que as soluções propostas atendam às necessidades locais."