Existem iniciativas importantes em Caxias do Sul na área ambiental. O Plano Municipal da Mata Atlântica levou a cidade a ser convidada para compartilhar a experiência na Conferência do Clima, a COP 28, em Dubai, ano passado. A cidade tem um Plano de Gerenciamento de Resíduos Sólidos, um Plano Diretor de Arborização Urbana e um Plano Municipal de Saneamento. O município trabalha para construir uma lei municipal para as APPs (áreas de preservação permanente) urbanas. São marcos necessários, que configuram abordagens, regramentos e diretrizes para questões ambientais. Porém, a área é muito ampla, e muitas questões podem escapar à legislação, ao gerenciamento e à operação. As dificuldades ambientais não poupam Caxias do Sul e, a todo momento, colocam temas a serem equacionados.
Nessa perspectiva, é preciso registrar a necessidade fortalecer a perspectiva ambiental na interface com o crescimento da cidade e a abertura de novos loteamentos, conter a derrubada de árvores, combater a poluição de mananciais, como o Tega, o Dal Bó e o Pinhal, área notoriamente esquecida e sujeita a despejos industriais, o que é uma lástima. A tragédia climática evidenciou a importância do mapeamento de áreas de risco a eventos extremos e ações de controle e acompanhamento. Entra no contexto a qualidade do ar da cidade.
Todas essas linhas de frente ambientais, combinadas, produzem impactos que são planetários, e não poupam Caxias. Significa que a cidade não pode negligenciar e precisa ampliar significativamente o debate ambiental. Muito do que se discutiu em maio, logo após a tragédia climática, já não tem a mesma força.
No caso dos resíduos sólidos, salta aos olhos a tarefa essencial da educação ambiental, que perpassa outras áreas do cuidado com o meio ambiente. Quanto aos resíduos, existe a necessidade de uma ampla campanha de educação acerca da destinação correta dos resíduos, o que se traduz pela separação correta do lixo dentro de casa. Há consenso entre as especialistas ouvidas pelo Pioneiro (abaixo) quanto à educação ambiental como assunto a ser priorizado no debate ambiental e em ações de governo. Outro ponto é Caxias do Sul inserir-se com centralidade na busca pelos 17 ODSs, os objetivos de desenvolvimento sustentável. São enormes os desafios ambientais em Caxias do Sul ao governo que assumirá em janeiro de 2025.
O que dizem as especialistas
A bióloga e consultora em sustentabilidade, Victória Mello, destaca dois pontos essenciais que precisam da atenção pública, principalmente pelos quatro candidatos a prefeito: um programa contínuo de educação ambiental unificado e objetivos ligados à Agenda 2030 da ONU (plano de ação global que reúne 17 objetivos de desenvolvimento sustentável, ODSs, e 169 metas que devem ser alcançados até 2030).
— Eu enxergo que a educação ambiental é um assunto que precisa ser priorizado. Eu acredito que ele é o pilar que inicia várias pautas e resolve outros casos lá na frente. A gente sabe que não é algo que surte efeitos imediatos, mas, de qualquer forma, ela precisa acontecer e de uma maneira continuada e que permeie todas as secretarias da prefeitura — comentou.
Já sobre a Agenda 2030 da ONU, Victória salientou a importância de os candidatos terem como base os 17 objetivos principais do plano.
— Já estamos em 2024, então, essa pauta é muito importante. Precisamos falar sobre cidades inteligentes e resilientes, um movimento que já está acontecendo nesse mandato, mas é uma coisa que precisa ser mais debatida e que está muito em pauta depois das catástrofes ambientais. Para mim, um candidato que, hoje, não me apresentaria uma proposta alinhada aos ODSs (objetivos de desenvolvimento sustentável) não está coerente com o que a gente está vivendo atualmente em nível mundial. Acho que, dentro de cada objetivo, é necessário traçar, pelo menos, alguma meta que contemple aquele objetivo — refletiu a bióloga.
Já a doutora em Engenharia de Recursos Hídricos e Saneamento Ambiental e ex-diretora e atual colaboradora do Instituto de Saneamento Ambiental da Universidade de Caxias do Sul, Vânia Schneider, destaca os itens que precisam ser prioridade na ação ambiental do município: o mapeamento de risco no território municipal ante as consequências dos eventos extremos e o pacto pela educação ambiental voltada para a questão dos resíduos sólidos.
— A questão do mapeamento de risco no território municipal às consequências dos eventos extremos precisa ser prioridade para nós estarmos preparados para outros eventos futuros. O que nós vivemos não foi o único, não foi o primeiro e não será o último — ressaltou.
Sobre o segundo tópico, Vânia ressaltou que a cidade já foi um exemplo nessa questão dos resíduos sólidos e que isso precisa ser retomado.
— Eu trabalhei a vida inteira com os resíduos de Caxias do Sul e nós já tivemos desempenho muito melhor do que nós estamos tendo atualmente. Então, seria muito importante uma retomada nessa questão e a mobilização social no sentido de otimizar a segregação e a destinação dos resíduos sólidos no município — comentou.
A doutora também frisou a importância das “cidades-espoja” para evitar alagamentos, investindo nos chamados “piscinões”. Em Caxias, já existem quatro reservatórios e, nesta semana, foi assinado contrato de financiamento, no valor de R$ 23,75 milhões, sendo R$ 1,25 milhão de contrapartida da prefeitura, para a construção de outros quatro.
O que dizem os quatro candidatos à prefeitura de Caxias
Adiló Dinomenico (PSDB)
“Nosso plano de governo é dividido em Dimensões, e uma dela é a Ambiental. Vamos implementar práticas sustentáveis e preparar a cidade para enfrentar eventos climáticos extremos, garantindo um ambiente seguro, saudável e resiliente para todos os cidadãos. Nossas ações estão divididas em três áreas: a Gestão de Recursos Hídricos, a Gestão de Resíduos e Sustentabilidade e Espaços Verdes e Parques. Temos ações prioritárias como: dar seguimento à expansão das redes de água nas áreas rurais; criação de novas ETAs, aumentando a capacidade de tratamento de esgoto; implementação de planos de segurança das bacias para proteger os recursos hídricos do município e assegurar a disponibilidade de água; revisão do sistema de coleta seletiva para aumentar a reciclagem e reduzir resíduos em aterros; manutenção da saúde financeira da Codeca e fortalecimento da educação ambiental e fiscalização. Também daremos andamento à construção do Centro de Bem-Estar Animal, além de desenvolver parques lineares e revitalizar espaços como o Parque do Imigrante e o Largo da Estação. Também vamos assegurar a manutenção contínua das áreas públicas e reestruturar os serviços urbanos com a criação da Secretaria de Serviços Públicos Urbanos.”
Denise Pessôa (PT)
“Cuidar do meio ambiente é garantir um futuro seguro para Caxias. Antes de mais nada, precisamos de uma cidade mais limpa e cuidada. Para isso, vamos fortalecer a Codeca, para melhorar a coleta e a destinação correta dos resíduos. Criaremos um grande programa de educação ambiental, para engajar a todos nesse cuidado. Precisamos, também, cuidar dos animais. Melhorar a política de castração, ampliar atendimentos e fortalecer a conscientização para a posse responsável. Vamos acelerar a criação do Plano Local de Ação Climática, para fazer a gestão de risco dos desastres, fortalecendo ações de prevenção e preparação. Vamos liderar um planejamento regional, articulando ações com prefeituras vizinhas e desenvolver estratégias integradas, com a participação da sociedade e da comunidade científica. Caxias deve estar na vanguarda das ações para nos proteger de eventos climáticos extremos. Seremos um exemplo de gestão ambiental e climática. Queremos uma Caxias grande, humana e sustentável.”
Felipe Gremelmaier (MDB)
“O nosso Plano de Governo prevê inovações e resgate de ações e projetos que deram muito certo no Governo Sartori e foram abandonados por outras gestões. As nossas diretrizes visam sustentabilidade, abastecimento de água, tratamento de resíduos e prevenção a tragédias climáticas. Precisamos modernizar a Codeca, aprimorando a coleta, o tratamento e a destinação adequada dos resíduos. Queremos voltar a ser cidade exemplo de limpeza no mundo. Nosso plano prevê também modernização do Samae, para garantir o alcance das metas estabelecidas pelo Marco Legal do Saneamento Básico. Outro objetivo é a modernização de Licenciamento Ambiental, com a implantação do autolicenciamento de acordo com o prevê a legislação federal. Queremos ampliar a conscientização e a educação ambiental da população, com campanhas e palestras, ampliar praças, parques e áreas de convivência. Temos parques urbanos abandonados, que merecem uma atenção especial. O Mato Sartori precisa ser recuperado e voltar a ser usado como sala de aula ecológica pelas escolas, e também como atração turística.”
Maurício Scalco (PL)
"A preocupação com o meio ambiente é fundamental para garantir um futuro sustentável, com olhar especial para alguns pontos, como: as mudanças climáticas, a poluição, o uso de recursos naturais, a biodiversidade, a prevenção de quedas de encostas e as energias renováveis. Com essas premissas vamos elaborar dois grandes projetos que são o “Caxias mais sustentável¨ e “Ecocaxias”, que têm um potencial significativo para transformar a cidade de Caxias em um modelo de sustentabilidade e respeito ambiental, englobando os processos relativos ao uso da água, coleta de lixo, reciclagem, preservação ambiental, dragagem, arborização, o circuito do turismo ecológico e campanhas educativas e de conscientização. Também será implementado o plano permanente de proteção, saúde e bem-estar animal, com a construção efetiva do parque de proteção animal."