Marcado para esta quinta-feira (04/11), o leilão da internet 5G permitirá que a tecnologia fique mais próxima de sair do papel para começar a virar realidade no país. Ao mesmo tempo em que se define como será a exploração do 5G por parte das empresas de telefonia, os municípios precisam se adequar e regrar como será a instalação de antenas e outros equipamentos necessários para absorver a nova tecnologia. Em Caxias do Sul, um projeto de lei protocolado na Câmara de Vereadores busca preparar a cidade para receber a infraestrutura necessária para essa novidade.
Protocolada pelo vereador Mauricio Scalco (Novo), a proposta prevê a regulamentação da instalação de Estações Rádio Base (ERBs), ERBSs Móvel e de Pequeno Porte. Esses equipamentos são novos modelos de antenas e de estruturas físicas para transmitir as novas frequências da tecnologia 5G. Os ERBs são equipamentos menores em relação às antenas de celular existentes, além de serem semelhantes aos roteadores de internet Wi-Fi que estão presentes nas casas das famílias.
Antes distantes e com estruturas mais robustas, as antenas para captar o sinal 5G agora precisarão ser integradas ao mobiliário urbano, uma vez que necessitam ser multiplicadas para estarem mais próximas das pessoas e dos dispositivos para atingir a capacidade máxima.
O regramento em Caxias está sendo feito por meio do acréscimo de dispositivos em uma lei municipal existente, aprovada pela Câmara em julho deste ano, criada para diminuir o prazo de emissão de licenças para implantação de estações transmissoras de radiocomunicação - nome técnico das torres e antenas de celular para a tecnologia 3G e 4G. Esse tipo de equipamento não absorve o 5G, por isso a demanda por novas antenas e estruturas físicas.
De acordo com a proposta de Scalco, as novas antenas e estruturas físicas para o 5G poderão ser instaladas em postes de energia, telecomunicações, de iluminação pública ou privados. Todos eles precisam ser limitados a 25 metros de altura.
— As empresas que vencerem o leilão precisarão montar uma nova infraestrutura de antenas em todas as cidades brasileiras. As primeiras serão as capitais, mas, até o final do ano que vem, municípios com mais de 500 mil habitantes, como é o caso de Caxias do Sul, poderão contar com esse tipo de tecnologia. Hoje, Caxias e muitos outros municípios não possuem regulamentação para o 5G. De certa forma, estamos nos antecipando. Não precisamos esperar a demanda chegar para nos adequarmos e perdermos tempo, podendo a cidade ficar para trás em relação aos outros municípios — explica.
Será necessário também que esses novos equipamentos sejam camuflados ou harmonizados com as fachadas, para não causar poluição visual; além de não dependerem da construção de novas infraestruturas de suporte e que também não demandam a alteração da edificação existente no local. A proposta do vereador prevê também que as antenas possam ser instaladas em estruturas de suporte de sinalização viária e abre permissões para que também sejam enterradas e ocultas do mobiliário urbano.
— Em vários lugares do mundo, existem iniciativas bem-sucedidas de esconder as antenas e fazer com elas se integrem ao paisagismo de cada local — entende.
Em todo o país, a fixação desses equipamentos para o 5G precisa obter licença do poder público para operar. Conforme a proposta em discussão em Caxias, para instalação em locais privados, é necessário apenas a aprovação do proprietário. Porém, em locais públicos, precisará do aval do Executivo, que pode levar até 60 dias para ser aprovado.
Como não há uma estimativa de quantas antenas precisam ser instaladas, apenas de que precisam ser várias e também que sejam fixadas em diferentes locais da cidade, o entendimento de Scalco é que as empresas vencedoras do leilão obtenham o licenciamento uma única vez e evitem pedir autorização a cada nova instalação de antenas.
— Queremos simplificar o processo, que precisa do envolvimento do Executivo para poder regrar um padrão de instalação para que as empresas sigam esse modelo e não precisem pedir se podem instalar ou não cada uma das antenas. Essa é uma questão que está no debate — afirma Scalco.
Após análise da Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) da Câmara de Vereadores, o projeto está com o Executivo, para um parecer das secretarias municipais pertinentes. Sugestões e alterações poderão ser anexadas e uma nova minuta poderá ser elaborada antes de ir para a apreciação do plenário.
Tecnologia para o futuro
Todas as iniciativas que visam preparar a cidade para o futuro são bem-vindas, segundo o secretário municipal de Desenvolvimento Econômico, Trabalho e Emprego, Élvio Gianni. Ele afirma que a administração busca incentivar a adoção de práticas ligadas à inovação e à tecnologia (temas afins com o 5G) em diferentes setores.
Gianni cita também que o município está trabalhando para apresentar uma lei que prevê iniciativas que apliquem o conceito de Cidade Inteligente.
— Enquanto poder público, estamos finalizando a lei de inovação que trará incentivos a todos setores estratégicos de inovação, inclusive para dentro da prefeitura. A iniciativa privada avançou muito em tecnologia e o setor público precisa se modernizar para atender melhor e de forma rápida a nossa população. Isso trará incentivos para continuarmos inovando, pois será um marco legal que dará confiança nos investidores que aqui já estão e outros que desejam fazer parte — explica.
Mais velocidade e conexão
Os avanços esperados com o 5G incluem maior velocidade, com taxas de transmissão pelo menos 10 vezes mais rápidas em relação ao 4G. Com isso, haverá menor tempo de atraso para que os dados cheguem quase instantaneamente ao envio, eliminando o delay das chamadas de vídeo, por exemplo. Também terá maior densidade de conexões: vai suportar mais dispositivos conectados em uma determinada área ao mesmo tempo.
Mesmo que ainda seja de difícil compreensão e uma realidade distante, o vereador Maurício Scalco cita como exemplo a possibilidade de um paciente em Caxias do Sul ser operado a distância por robôs e monitorados por uma equipe de médicos em outra cidade do país.
Além disso, a expansão da tecnologia 5G está relacionada com a internet das coisas (IoT), conceito bastante difundido na indústria (que busca cada vez mais uma linha de produção automatizada, por exemplo) e que representa a conexão dos objetos. Em produtos com a tecnologia embarcada, será possível avanços em setores como transportes, telemedicina, educação a distância, casas conectadas, automação industrial, agricultura de precisão, entre outros.
Será possível, por exemplo, controlar todos os equipamentos eletrônicos de uma casa, controlar remotamente uma máquina que opera na lavoura ou, ainda, monitorar plantas produtivas sem intervenção humana direta por drones e realidade aumentada. O desempenho dos carros autônomos também deve avançar.
Para a comunidade, será necessário substituir o telefone celular para aproveitar os benefícios da tecnologia. Isso porque a maioria dos aparelhos fabricados até então não são compatíveis com o 5G. Vale lembrar que os sinais 3G e 4G seguirão operando.
Medida deverá beneficiar também o interior
Ao mesmo tempo em que a cidade se prepara para absorver a tecnologia 5G, localidades do interior de Caxias do Sul convivem diariamente com a falta de sinal de celular. Essas regiões também poderão ser beneficiadas com a chegada do 5G. Entretanto, a expectativa está em degrau abaixo: o leilão deve estimular, na verdade, a implementação do 4G nas áreas rurais.
Um dos compromissos das operadoras que vencerem o leilão é o de cobrir com a tecnologia 4G áreas hoje não atendidas, equilibrando a desigualdade de conexão. Em Vila Oliva, por exemplo, o sinal de telefonia celular é raro e faz com que os moradores se comuniquem apenas com a ajuda da internet. Há anos, a comunidade de cerca de dois mil habitantes pleiteia a instalação de uma antena de telefonia na localidade.
— Graças a Deus que inventaram a internet e a possibilidade de fazer ligações pelo WhatsApp. Sem isso, estaríamos desligados do mundo. Raramente alguém consegue sinal próximo à subprefeitura. Se não, somente nos pontos mais altos — conta o subprefeito de Vila Oliva, Tamiel Bergamin.
Uma das quatro frequências do leilão (leia mais abaixo) é a 700 MHz, cujo principal uso é para o 4G. A faixa é uma sobra da licitação de telefonia móvel que aconteceu em 2014. Como a frequência é mais baixa, as antenas possuem um raio de cobertura maior, sendo, dessa forma, mais adequada para estradas e áreas rurais.
Leilão tem 15 empresas interessadas e pode demorar
O leilão da tecnologia 5G será realizado na quinta (4) pela Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel). Na prática, o que estará em jogo é a venda das licenças das faixas de frequências 5G, considerado o novo padrão de conectividade móvel que trará internet de alta velocidade para o Brasil.
De caráter não arrecadatório para a União, o certame deve iniciar às 10h com a abertura das propostas já apresentadas. A expectativa é de que as negociações se estendam durante todo o dia e sejam finalizadas apenas na sexta (5/10). Isso se deve porque, ao todo, 15 interessados enviaram seus lances. Destes, apenas cinco são de operadoras que já atuam no Brasil, como Tim, Claro e Vivo. Os demais são empresas ou consórcios com potencial para se tornarem novos operadores no país. O prazo de outorga será de 20 anos.
Os lotes são divididos em nacionais e regionais e quatro faixas de frequência (por onde ocorre a transmissão dos dados): 700 MHz; 2,3 GHz; 3,5 GHz; e 26 GHz. Se todos os lotes forem arrematados, a expectativa é de o leilão levantar R$ 49,7 bilhões.
Desse montante, apenas R$ 3 bilhões serão destinados aos cofres públicos. O restante será gasto em obrigações de investimento previstas no edital, como os R$ 7,5 bilhões que serão destinados a levar internet para as escolas de educação básica.
Entenda mais:
:: O que é o 5G?
É o sucessor do 4G, ou seja, a nova geração de internet móvel. Seu objetivo é permitir mais velocidade para baixar e enviar arquivos, reduzir o tempo de resposta entre diferentes dispositivos e tornar as conexões mais estáveis.
:: O que permitirá?
Essa evolução da rede vai permitir conectar objetos à internet ao mesmo tempo: celular, carro, semáforo, relógio. Tudo isso já pode ser ligado ao 4G, mas é esperada uma melhoria na conexão. Para a indústria, permitirá uma linha de produção totalmente automatizada, por exemplo.
:: Preciso trocar meu celular?
Será preciso ter um celular compatível com a tecnologia 5G. A maioria dos aparelhos existentes não é compatível com a nova tecnologia.
:: O 4G vai acabar?
Não. Os celulares atuais continuarão funcionando nas redes 4G, 3G e 2G – essas conexões não deixarão de funcionar.