Na composição dos blocos da Câmara de Vereadores de Caxias do Sul, a base governista usufrui de apoio confortável. Apenas dois partidos se assumem como oposição: o PT e o PCdoB. Somados, totalizam quatro parlamentares, o que configura uma minoria consolidada num Legislativo de 23 cadeiras.
A oposição ganha reforços pontuais em votações específicas, especialmente de dois partidos, posicionados como centro-esquerda: PDT e PSB. O PDT, no entanto, tem uma bancada dividida. Enquanto Rafael Bueno (PDT) transita mais esporadicamente em voto com a oposição, Daneluz se alinha aos preceitos bolsonaristas, mais compatíveis com o governo municipal.
Já o PSB é a grande incógnita, o que não necessariamente diverge da proposta centrista do partido.
— A questão de ser a favor ou contra um governo, esse tempo já passou. Os projetos que vêm do Executivo para o Legislativo analisamos caso a caso. Nossa posição é de independência — declara o presidente municipal do partido e assessor da bancada do PSB na Câmara, Adriano Boff, que foi reconduzido ao comando da sigla em Caxias no último sábado, em congresso partidário.
Boff nega que a posição de independência seja um eufemismo para "em cima do muro"
— Em cima do muro não existe mais na nova política. (Daniel) Guerra ganhou eleição tendo um monte de gente contra, então não adianta mais esse negócio de ser oposição. Sempre nos colocamos de forma proativa. Não vamos votar contrário gritando. Vamos votar contrário conversando, questionando. A gente está num condomínio chamado Caxias do Sul. Adianta o que brigar com vizinho, inviabilizar? Tem de ter relacionamento — ressalta.
Para ele, a disposição da administração pelo diálogo é um ponto positivo, assim como a condução do governo até o momento.
— É governo que pegou administração pós-pandemia, que está tendo seus problemas para resolver as questões da cidade, mas ao menos é uma pessoa de diálogo, não é negacionista. São coisas que devem ser comemoradas. Se o líder de governo deu nota 7,5 (para o Governo Adiló), pra mim dá uma nota 6,5. Já pro líder de governo dou nota 7,5. Ele faz um bom trabalho de liderança — destaca.
Ainda assim, Boff faz ressalvas quanto à avaliação, mencionando oposição a posicionamentos da prefeitura, especialmente com a situação da Codeca e a "pressa" da administração em lançar a parceria público-privada (PPP) da iluminação pública.
APOIO AO GOVERNO
Embora cite posicionamentos enfáticos em especial do vereador Zé Dambrós (PSB), a bancada do PSB aprovou a maioria dos projetos encaminhados pelo Executivo desde o início da legislatura. Nisso, incluem-se temas de impacto popular, como reajuste na taxa de iluminação pública, redução do passe-livre aos domingos e isenção tributária à Visate. Essas votações divergiram em parte da base comunitarista do partido, que conta no seu quadro de filiados com considerável número de lideranças de bairros.
Não houve sinal do governo
Uma das principais lideranças locais do partido, o ex-vice-prefeito e vereador de Caxias e agora secretário geral do partido, Elói Frizzo (PSB), também reforça o posicionamento independente do partido. Contudo, admite que a legenda esperava movimento do prefeito Adiló Didomenico no início do governo quanto à relação entre os partidos:
— O que se esperava do Adiló era uma manifestação clara se ele quer o PSB ou não. Aí a gente passaria a discutir se integraria ou não o governo, mas desde o início não percebemos boa vontade nesse aspecto. Nunca surgiu convite para participarmos do governo, se eventualmente houvesse a gente se reuniria e avaliaria — comenta.
Filiado recentemente licenciado do partido, o ex-vereador Alberto Meneguzzi alega que o PSB faz, sim, parte do governo:
— Tem muita gente do PSB no Governo Adiló, não vem dizer que não está. Vários filiados nossos estão trabalhando no governo.
Frizzo nega, diz que a participação de alguns filiados se deu por meio de convites pessoais da própria administração.
— O partido não foi convidado a participar do governo. A nossa postura continuará sendo de independência, por enquanto.
BANCADA CONTESTADA
Meneguzzi não nega a desilusão com o PSB e não projeta futuro político.
A principal crítica é com relação à tímida oposição ao governo municipal da bancada de vereadores
— O perfil do PSB hoje é de precisar botar lâmpada em poste. O (Gilfredo de) Camillis é uma pessoa maravilhosa, mas tem esse perfil, o (Wagner Petrini) Muleke não tem um posicionamento de centro-esquerda, é bolsonarista, o (Zé) Dambrós é um cara trabalhador, mas eles precisam do governo, não vão se opor. É a luz do meu bairro, capela mortuária do outro, liberar evento da boate do outro. Como eles têm esse perfil comunitário de fazer coisinhas, obras, não vão brigar com o governo se não o governo não vai fazer e eles não se elegem — acredita Meneguzzi.
Frizzo diz que a acusação sobre Petrini ser bolsonarista é uma inverdade e comenta que, em razão da posição de independência do partido, é a própria articulação política do governo com a bancada que muitas vezes acaba surtindo efeito nos posicionamentos e votações:
— O Adiló faz jogo que aprendeu lá atrás, de negociar individualmente com cada vereador. Mas essa estratégia dá certo até um momento, depois gera desgaste.
"Partido que come pelas beiradas"
Sobre a articulação política, o presidente reeleito da sigla, Adriano Boff, explica que o futuro de alianças do partido é incerto. A única certeza é o apoio à candidatura de Beto Albuquerque (PSB) ao governo do Estado. O resto é construção:
— Daqui para frente, num momento adequado deliberamos. Não temos preconceito, somos um partido em crescimento, não somos partido que está na moda, mas trabalhamos muito. Sabemos do nosso tamanho, das dificuldades, nosso partido é um partido que come pelas beiradas e vamos continuar fazendo isso.
O apoio antecipado a Albuquerque já foi sinalização de repetição, na visão do filiado licenciado Alberto Meneguzzi:
— Sempre vai com o Beto Albuquerque, se junta com o MDB e é isso, vai se juntar com MDB, com Partido Progressista. É um partido que parece uma embaixada. Elegemos três vereadores, mas perdemos muitos votos. E está fora do mundo, o Brasil inteiro de um jeito e o PSB aqui sempre colado no (ex-governador José Ivo) Sartori, no Partido Progressista e vai colar no MDB de novo, como colou e não deu certo. PSB em Caxias e no Estado é uma confraria.
Boff reconhece a aliança com o MDB como bem-sucedida, mas nega certeza sobre o rumo do partido.
— Partido já coligou várias vezes com PT, depois passamos a coligar com o Sartori, que foi uma pessoa que nos respeitou, nos ouvia, jogávamos às claras — avalia o presidente municipal.
Anti-Bolsonaro discreto
PERCEPÇÕES SOBRE O GOVERNO FEDERAL
"O PSB está fora do foco das proposições nacionais. Isso irrita alguns filiados, inclusive tem vários bolsonaristas dentro do PSB, o que é um absurdo. O partido aqui e no Estado parece uma ilha em relação às questões nacionais. Lá eles estão procurando pessoas boas de esquerda e centro-esquerda. E a gente vê manifestações recorrentes contra o Bolsonaro. Aqui no Estado não acontece nada, partido não participa de manifestações." Alberto Meneguzzi, ex-vereador do PSB
"Somos a favor do impeachment do Bolsonaro. Estamos somando forças. Só não participamos da manifestação na praça porque estávamos no nosso congresso municipal, mas estamos participando de todos atos de defesa à democracia." Elói Frizzo, ex-vice-prefeito, ex-vereador e secretário geral do partido
"Eu sigo uma ideia de que não podemos nem ser tanto de um lado nem de outro. Usar coisas voas que o Bolsonaro tem e coisas boas que a turma do Lula tem. Tem várias coisas boas de ambos os lados. E saber escantear as coisas ruins. O caminho que eu defendo é o do centro. Não sou contra nem a favor." Wagner Petrini, vereador do PSB
"Nosso partido está no bloco de oposição ao Bolsonaro. Nós não nos alinhamos com o Bolsonaro." Adriano Boff, presidente municipal do PSB