Falta exatamente um ano para as eleições gerais de 2022, marcadas para 2 de outubro. E Caxias do Sul e a região têm desde já um desafio: o de conquistar representação na Câmara Federal. Em 2018, Caxias não conseguiu eleger representante para a Câmara dos Deputados. Além de significar a derrota pela ausência de um interlocutor político de uma cidade de mais de 500 mil habitantes no parlamento federal, representou também a quebra de uma tradição de mais de 40 anos: desde 1978, a cidade vinha elegendo pelo menos uma representação local. De lá para cá, Victor Faccioni, Júlio Costamilan, Paulo Paim, Germano Rigotto, José Ivo Sartori, Ruy Pauletti, Assis Melo e Pepe Vargas garantiam presença caxiense na Câmara Federal por eleição direta. Diversos suplentes ocuparam cadeira neste período também, mas de forma interina.
A eleição para deputado federal costuma, de fato, ser desafiadora, especialmente pela quantidade de votos que geralmente são necessários para conquistar uma vaga.
O engajamento para uma campanha do porte do cargo exige um montante maior de recursos e estrutura, o que muitas vezes acaba sendo uma desvantagem para candidatos "novos", na avaliação do doutor em Direito público e coordenador do curso de Direito do Centro Universitário da Serra Gaúcha (FSG), Fábio Vanin.
— É uma eleição muito difícil, muito cara, precisa de muito voto. Municípios como Caxias acabam sendo visados por deputados que têm mandatos e que vão tentar de alguma forma entrar no eleitorado da cidade através de emendas, criação de espaço com assessores e lideranças municipais, e isso acaba impedindo que novas candidaturas possam ter sucesso. A disputa entre um deputado federal eleito e um que não detém mandato é desigual pela força e estrutura que uma cadeira na Câmara dos Deputados representa— acredita.
Embora, em teoria, cidades de maior porte tenham mais condições de eleger seus postulantes, nem sempre a regra se aplica. O indício, segundo Vanin, se encontra na não tão incomum eleição de candidatos de municípios pequenos:
— Dificilmente um deputado federal vai se eleger fazendo voto numa cidade só. Não sei se algum candidato já fez 100 mil votos só em Caxias. Então é preciso ter uma pessoa que tenha força regional como candidato a deputado federal. É por isso que muitos deputados federais acabam sendo oriundos de municípios pequenos, pois eles ganham votos regionais.
Ainda há o próprio recuo de representantes locais de reconhecido peso eleitoral, como Pepe Vargas (PT) e Neri, O Carteiro (Solidariedade), que devem novamente concorrer à Assembleia Legislativa, onde já ocupam cargos. Atualmente, da Serra, apenas Paulo Caleffi (PSD) ocupa vaga de suplente interinamente na Câmara dos Deputados.
IMPORTÂNCIA ESTRUTURAL
Vanin destaca também a relevância que a eleição para a Câmara Federal pode representar para os partidos em termos de estruturação eleitoral
— A partir da quantidade de votos dados aos partidos (legenda e candidato) na eleição é que vai se definir qual tempo de tevê daquele partido nas próximas eleições, a quantidade de recursos a que o partido terá acesso via fundo partidário ou se esse partido vai ser alcançado ou não por alguma cláusula de desempenho que vai limitar a atuação dele no Parlamento e outras frentes do sistema eleitoral — aponta.
A culpa não é do eleitor
Após a derrota, é comum que candidatos desolados e mesmo partidos e seus simpatizantes culpem a falta de apoio ou percepção específica do eleitorado. Por outro lado, muitos eleitores indiferentes de suas escolhas ou omissos de usufruir de seu direito ao voto contestam a qualidade de composições que se formam em parlamentos.
Na opinião da presidente do Conselho Regional de Desenvolvimento da Serra (Corede-Serra), Mônica Mattia, a principal falha, no entanto, reside mais na própria organização dos partidos.
_ O Rio Grande do Sul elegeu 31 deputados federais. O 31º eleito obteve 32,2 mil votos. Por óbvio, a baixa votação do último eleito decorre da estruturação partidária. Em 2018, Caxias do Sul foi o segundo maior colégio eleitoral do RS, ou seja, com possibilidades reais de eleger deputados federais. Os partidos políticos têm clareza das razões pelo qual não houve eleitos. Parece óbvio que se trata de estratégias políticas malsucedidas, inclusive para eleger candidatos de outras regiões _ avalia.
Para o doutor em Direito Público, Fábio Vanin, a escolha de candidatos e de suas propostas é que define a possibilidade de sucesso eleitoral:
_ Vejo em muitas eleições colocarem culpa no eleitor. O eleitor vai ser atraído por uma proposta bem desenvolvida, não há como culpar ele. O que falta aos partidos é apresentar candidaturas que dialoguem mais com os anseios da sociedade, que agreguem um apoio massivo. Falta uma aproximação. O distanciamento entre as cúpulas políticas e a sociedade continua existindo. É preciso buscar candidatos que sejam mais populares.
A IMPORTÂNCIA DA REPRESENTATIVIDADE
O Pioneiro perguntou a lideranças de entidades representativas da região qual é a importância da eleição de uma referência política local em Brasília. Confira:
"Se não tem representação política em Brasília, começa por você perder milhões de recursos que são as emendas parlamentares, que fazem parte das regras do jogo. Segundo, que precisa ter alguém que olhe para a nossa região, especialmente na área de infraestrutura, caso contrário o deputado vai olhar para a área onde ele é eleito, ele vai valorizar aquela região mais. Então, é importante que formemos uma boa bancada não só em Caxias, mas na Serra." Ivanir Gasparin, presidente da Câmara de Indústria, Comércio e Serviços de Caxias (CIC)
"Existe um vácuo de representatividade de deputados em toda a nossa região. Vivencio na pele o que significa, quando temos demandas junto ao governo federal, ministérios. Então, acho que a comunidade tem de pensar nisso, eleger deputados dessa região, escolher representantes que possam ter uma interlocução junto ao governo federal em todas as instâncias. Julgo de extrema importância incentivar pessoas que se candidatem nessa região e representem os anseios locais. Ter representatividade de um deputado é facilitador na obtenção de recursos e articulação política". Evaldo Kuiava, reitor da Universidade de Caxias do Sul (UCS)
"Os deputados federais têm papel importante na aprovação de leis nacionais nas diversas dimensões constitucionais. Porém, em vista do modelo de federalismo, os deputados federais se constituem, também, em embaixadores de cidades e regiões, seja no campo de reivindicações que contemplam a execução de projetos nas áreas do desenvolvimento, seja na articulação de agendas ou na importante destinação de verbas parlamentares. Espera-se que, nas próximas eleições, os partidos políticos de Caxias do Sul e região se articulem, enquanto região, e definam estratégias vencedoras para a eleição de deputados federais. Caso isso não ocorra, a derrota será, mais uma vez, atribuída às estratégias malsucedidas dos partidos políticos desta região." Mônica Mattia, presidente do Conselho Regional de Desenvolvimento da Serra (Corede-Serra)
DEPUTADOS ELEITOS DE CAXIAS (1978-2018)*
- Victor Faccioni (Arena/PDS) 1978, 1982, 1986, 1990
- Júlio Costamilan (MDB) 1978, 1982, 1986
- Paulo Paim (PT) 1986, 1990, 1994, 1998
- Germano Rigotto (MDB) 1990, 1994, 1998
- José Ivo Sartori (MDB) 2002
- Ruy Pauletti (PSDB) 2006
- Assis Melo (PCdoB) 2010
- Pepe Vargas (PT) 2006, 2010, 2014
*Embora alguns deputados não sejam de Caxias, eles têm identificação política com o município, caso de Sartori (Farroupilha), Assis Melo (Bom Jesus) e Pepe Vargas (Nova Petrópolis)