A pauta da sessão desta quinta-feira (29) indicava iminente atrito entre duas alas na Câmara. Estava prevista para votação um requerimento para instalação da Frente Parlamentar em Defesa dos Trabalhadores, assinado pela maioria da outrora denominada "frente anti-PT": Mauricio Marcon (Novo), Adriano Bressan (PTB), Alexandre Bortoluz (PP), Juliano Valim (PSD), Maurício Scalco (Novo), Ricardo Daneluz (PDT), Sandro Fantinel (Patriota) e os governistas Olmir Cadore (PSDB) e Tatiane Frizzo (PSDB) — essa última não assumida integrante da frente anti-PT, mas que já manifestou contrariedade ao partido. A frente proposta, além de excluir o Partido do Trabalhadores, de viés trabalhista, também se fundamentava em outro ponto de colisão com a ideologia petista, o sindicalismo. Na justificativa para criação do grupo — idealizado por Marcon —, a defesa pela não-associação a sindicatos e, principalmente, oposição à contribuição sindical mediante pagamento compulsório pela categoria, ressalvado um "direito de oposição" ao qual os autores do requerimento apontam "severas restrições".
Com a desavença ideológica inevitável configurada, em dado momento, os ânimos se acirraram. Estela ressaltou que todos os vereadores defendem a classe trabalhadora, mas discordou da bandeira defendida pela frente, de contraposição aos sindicatos e à importância histórica dos grupos de trabalhadores organizados.
— Eu vejo nessa moção muito mais ataque ideológico ao sindicato, que podemos concordar ou não com a sua atuação, e muito pouca defesa à classe trabalhadora. Uma classe trabalhadora (se referia a motoristas de aplicativos) que atualmente paga para trabalhar, gasolina a R$ 6, a manutenção de um carro, (...) e aquele dinheiro que elas ganham a cada corrida que elas fazem não fica 100% para elas. Então, que direito esses trabalhadores estão tendo? Que direito a reforma trabalhista garantiu? Então, eu quero aqui só constar que o que é defender o trabalhador: é atacar sindicato ou é falar a verdadeira realidade imposta por uma reforma que só tirou direitos? — contrapôs Estela.
Em seguida, em aparte a pronunciamento do colega Mauricio Scalco, Marcon questionou a vereadora:
— Eu queria saber se a senhora é ou não é a favor que trabalhador seja obrigado a pagar 10% do salário no mês de setembro. É isso que a gente está defendendo aqui. "Ah, porque o Uber é ruim". (...) Então se tu acha que é escravizar alguém andar de Uber, então eu acho que tu não deveria andar de Uber. Porque vir aqui fazer proselitismo político, sinceramente... Que nem antes, estava aqui nos cortejando para fechar os buracos (da Rota do Sol) amanhã, aí depois diz que é "obra para inglês ver". Vamos ter uma postura aqui, vereadora Estela.
Após, interrompendo fala de Lucas Caregnato (PT), Marcon pediu questão de ordem e pediu para Estela falar ao microfone o que estaria dizendo ao vereador em paralelo. Estela então direcionou ao parlamentar:
— Racista, machista e homofóbico.
Logo após, a sessão foi suspensa. A fala de Estela foi invalidada porque o regimento interno da Câmara não permite que apartes sejam concedidos em questões de ordem, ato requerido por Marcon no momento da discussão. A criação da frente foi aprovada por 14 votos a oito.
Vereadora vai mudar de lugar
Estela Balardin afirmou à reportagem que a declaração polêmica foi causada por um acúmulo de provocações que teria sofrido de Marcon.
— Tinha acabado de finalizar a minha fala, que não atacou diretamente nenhum dos vereadores. (...) É uma atitude recorrente dos vereadores que compõem a bancada do Novo ficarem falando que falei bobagem, a minha mesa fica perto da deles e eles ficam falando. E hoje, por motivos de já ter tido embate no início da sessão, acabei ficando nervosa e cedendo a essas provocações que ocorrem desde o início do ano e falei algumas palavras. Foi por causa de provocações — explicou.
Estela comenta que o desconforto na sessão iniciou após comentário do vereador Sandro Fantinel (Patriota) em referência ao governador Eduardo Leite (PSDB). "Nobre governador do Estado, o senhor disse que tinha que tirar a bunda da cadeira que as coisas se resolviam. O senhor tirou a bunda da cadeira. Deve ter botado em outro lugar, mas não em função de serviço ", disse Fantinel na sessão.
— Isso gerou risos dentro do plenário, foi extremamente antiprofissional, não foi respeitoso, e achei uma postura ruim dos demais vereadores terem dado risada dessa fala, tendo em vista que falta com decoro e em lugar nenhum deve ser feita fala como essa, mas principalmente utilizando espaço dentro da Câmara de Vereadores. Isso aconteceu no início da sessão. Já tínhamos discutido, conversado sem ser no microfone, depois o estresse acabou se acumulando — relata.
Estela afirmou que solicitou mudança de lugar com o vereador Renato Oliveira (PCdoB) para evitar incômodos com a bancada do partido Novo.
— Consegui esclarecer frente à Mesa Diretora o desrespeito que eu vinha sentindo e como isso estava atingindo e dificultando meu trabalho dentro da Casa. Solicitei a mudança de lugar, não sentarei mais perto dos dois vereadores para que isso não volte a acontecer.
Vereador registra BO e aciona Comissão de Ética
Ao Pioneiro, o vereador Mauricio Marcon (Novo) afirmou que registrou boletim de ocorrência e ingressará com denúncia na Comissão de Ética Parlamentar contra a vereadora.
— Fiz BO contra ela, uma queixa-crime e acionarei a Comissão de Ética. Temos de ter respeito com os colegas. Estávamos a discutir a questão da frente parlamentar, ela tinha acabado de dizer que ela queria fechar buracos (da Rota do Sol) com nós (nesta sexta-feira), depois disse que era "coisa de inglês ver". Aí esses dias ela disse que vinha de Uber trabalhar, daí falou mal dos "uber" (Estela questionou a relação trabalhista com a empresa, na verdade). Aí ela se irritou que confrontei ela com a verdade e, como não tem argumento, me chamou de, não sei o que tem a ver, de racista, machista e homofóbico. Isso é calúnia e difamação — defende.
Marcon disse que espera punição de Estela na Comissão de Ética:
— Ela vai para a (Comissão de) Ética de novo, é reincidente, espero que a ética... eu claro vou me declarar impedido, mas assim, é uma situação constrangedora para a Casa. Uma pessoa totalmente desequilibrada fazendo parte da Casa. Uma coisa é discussão política, a gente discute, ouve o que não gosta, agora partir para agressão gratuita contra colega de trabalho. Ela vai responder e espero que seja punida.
O parlamentar também negou que tenha desrespeitado Estela.
— Sempre sentou no nosso lado, nunca se ofendeu, aí hoje ficou brava porque joguei verdade no ventilador e vem me acusar desse tipo de coisa. (...) Agora votam frente parlamentar aos montes, aí quando é para defender quem precisa, votam contra. Aí se ofendeu, estava descontrolada. Sou uma pessoa extremamente respeitosa com todo mundo. (...) Nunca desrespeitei a vereadora, sempre dentro do decoro. Ela se sentiu ofendida? Sinto muito. Não usei nenhuma palavra que desabonasse a conduta dela, agora partir para um ataque covarde que ela fez vai ter que provar.